São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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MEDIDAS
Mididesvalorização frente ao dólar foi de 8,26%, taxa que antes levaria até um ano para ser alcançada
Mudança desvaloriza o real

da Sucursal de Brasília

O governo mudou ontem a política cambial e permitiu uma mididesvalorização de 8,26% do real em relação ao dólar, taxa que pela política anterior demoraria mais de um ano para ser atingida.
A medida foi precipitada pelo agravamento do nervosismo que tomou conta do mercado nas últimas semanas, quando ficou evidente a ineficácia da política de juros para conter a fuga de capitais do país e surgiram fatos negativos como a moratória de Minas Gerais.
Foram mudadas as bandas cambiais, os limites fixados para a variação da cotação do dólar. O piso subiu de R$ 1,12 para R$ 1,20, e o teto, de R$ 1,22 para R$ 1,32. Os limites serão revisados em períodos de três dias úteis, mas as variações serão pequenas.
Mais importante, o BC eliminou as minibandas, os intervalos menores no interior da banda em que se permitia a variação do dólar sem controle do BC.
Com isso, a moeda norte-americana terminou o dia de ontem cotada a R$ 1,3193, depois de ter fechado o dia anterior em R$ 1,2114.
O novo regime cambial produz, em um primeiro momento, uma desvalorização mais forte do real e, posteriormente, reduz o ritmo de depreciação da moeda nacional.
Esses dois fatores juntos projetam, nos cálculos do BC, uma desvalorização entre 12% e 15% nos próximos 12 meses, índice superior aos 7,5% previstos no sistema cambial antigo.

Daqui para a frente
A diferença é que, como a maior parte da desvalorização desejada já ocorreu ontem, o novo sistema permite, em tese, que daqui para a frente a desvalorização seja menor -o que pode ser acompanhado da queda dos juros.
A sustentação desse novo sistema de câmbio dependerá da força do Banco Central para acalmar os operadores. Ontem, o mercado desafiou a disposição do governo de manter o novo teto da banda cambial, pressionando a cotação do dólar. O BC foi obrigado a vender dólares para impedir que a cotação superasse o novo limite.
"É natural que os mercados mostrem hoje (ontem) uma certa instabilidade", disse o futuro presidente do BC, Francisco Lopes, apostando que as turbulências não se repetirão nos dias seguintes.
O objetivo imediato do governo é conter a fuga de dólares do país, causada, entre outros motivos, pela avaliação do mercado de que a taxa de câmbio brasileira anterior era insustentável.
A longo prazo, a desvalorização deve incentivar as exportações, uma vez que os produtos brasileiros se tornam mais baratos em moeda estrangeira. Reduzindo o déficit comercial, o país dependerá menos de capital externo e terá mais condições de reduzir os juros.
A medida também pressiona para cima a inflação. Esse efeito colateral deve ser atenuado pela estagnação da atividade econômica, que torna mais difícil repassar aos consumidores o aumento de custos gerado pelo encarecimento de produtos importados.
A desvalorização cambial causa perda a consumidores que tomaram financiamento reajustados pela variação do dólar -compra de automóveis, por exemplo. Também torna mais caras viagens internacionais e despesas em dólar no cartão de crédito.

Mais oscilações
"Não temos o objetivo de produzir uma maxidesvalorização. O objetivo é buscar uma banda mais larga e deixar que o mercado defina a cotação do dólar", disse Francisco Lopes, indicado ontem como novo presidente do BC.
Segundo ele, as mudanças não rompem com o que vem sendo adotado desde a implantação do Plano Real. "O BC decidiu aperfeiçoar sua política cambial. Gostaria de enfatizar que não se trata de nenhum tipo de ruptura. É apenas mais uma etapa da política cambial", afirmou.
Ele explicou que, daqui por diante, a cotação do dólar poderá ter oscilações mais fortes. Segundo ele, a cotação do dólar poderá subir 9% em um dia, como ontem, e cair 9% no dia seguinte. "Estamos caminhando para um mundo com mais liberdade para flutuação."
O novo regime de câmbio vai, aos poucos, aumentar a faixa de livre flutuação do câmbio, ampliando a diferença entre o piso e o teto da banda. Dessa forma, a banda, que hoje é de 10%, poderá chegar a 12% em janeiro do ano que vem.

Exportações
Lopes disse que o principal objetivo do BC com o novo sistema não foi tornar as exportações mais competitivas, e sim abrir espaço para uma possível redução mais acentuada dos juros.
Ele argumentou que o câmbio já foi significativamente recomposto e, no período de três anos que encerra em janeiro do ano 2000, a desvalorização real da moeda nacional em relação ao dólar terá sido entre 21% e 24%.



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