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MEDIDAS
Mididesvalorização frente ao dólar foi de 8,26%, taxa
que antes levaria até um ano para ser alcançada
Mudança desvaloriza o real
da Sucursal de Brasília
O governo mudou ontem a política cambial e permitiu uma mididesvalorização de 8,26% do real
em relação ao dólar, taxa que pela
política anterior demoraria mais
de um ano para ser atingida.
A medida foi precipitada pelo
agravamento do nervosismo que
tomou conta do mercado nas últimas semanas, quando ficou evidente a ineficácia da política de juros para conter a fuga de capitais
do país e surgiram fatos negativos
como a moratória de Minas Gerais.
Foram mudadas as bandas cambiais, os limites fixados para a variação da cotação do dólar. O piso
subiu de R$ 1,12 para R$ 1,20, e o
teto, de R$ 1,22 para R$ 1,32. Os limites serão revisados em períodos
de três dias úteis, mas as variações
serão pequenas.
Mais importante, o BC eliminou
as minibandas, os intervalos menores no interior da banda em que
se permitia a variação do dólar sem
controle do BC.
Com isso, a moeda norte-americana terminou o dia de ontem cotada a R$ 1,3193, depois de ter fechado o dia anterior em R$ 1,2114.
O novo regime cambial produz,
em um primeiro momento, uma
desvalorização mais forte do real e,
posteriormente, reduz o ritmo de
depreciação da moeda nacional.
Esses dois fatores juntos projetam, nos cálculos do BC, uma desvalorização entre 12% e 15% nos
próximos 12 meses, índice superior aos 7,5% previstos no sistema
cambial antigo.
Daqui para a frente
A diferença é que, como a maior
parte da desvalorização desejada já
ocorreu ontem, o novo sistema
permite, em tese, que daqui para a
frente a desvalorização seja menor
-o que pode ser acompanhado da
queda dos juros.
A sustentação desse novo sistema de câmbio dependerá da força
do Banco Central para acalmar os
operadores. Ontem, o mercado desafiou a disposição do governo de
manter o novo teto da banda cambial, pressionando a cotação do
dólar. O BC foi obrigado a vender
dólares para impedir que a cotação
superasse o novo limite.
"É natural que os mercados mostrem hoje (ontem) uma certa instabilidade", disse o futuro presidente do BC, Francisco Lopes,
apostando que as turbulências não
se repetirão nos dias seguintes.
O objetivo imediato do governo é
conter a fuga de dólares do país,
causada, entre outros motivos, pela avaliação do mercado de que a
taxa de câmbio brasileira anterior
era insustentável.
A longo prazo, a desvalorização
deve incentivar as exportações,
uma vez que os produtos brasileiros se tornam mais baratos em
moeda estrangeira. Reduzindo o
déficit comercial, o país dependerá
menos de capital externo e terá
mais condições de reduzir os juros.
A medida também pressiona para cima a inflação. Esse efeito colateral deve ser atenuado pela estagnação da atividade econômica, que
torna mais difícil repassar aos consumidores o aumento de custos
gerado pelo encarecimento de produtos importados.
A desvalorização cambial causa
perda a consumidores que tomaram financiamento reajustados
pela variação do dólar -compra
de automóveis, por exemplo. Também torna mais caras viagens internacionais e despesas em dólar
no cartão de crédito.
Mais oscilações
"Não temos o objetivo de produzir uma maxidesvalorização. O objetivo é buscar uma banda mais
larga e deixar que o mercado defina a cotação do dólar", disse Francisco Lopes, indicado ontem como
novo presidente do BC.
Segundo ele, as mudanças não
rompem com o que vem sendo
adotado desde a implantação do
Plano Real. "O BC decidiu aperfeiçoar sua política cambial. Gostaria
de enfatizar que não se trata de nenhum tipo de ruptura. É apenas
mais uma etapa da política cambial", afirmou.
Ele explicou que, daqui por diante, a cotação do dólar poderá ter
oscilações mais fortes. Segundo
ele, a cotação do dólar poderá subir 9% em um dia, como ontem, e
cair 9% no dia seguinte. "Estamos
caminhando para um mundo com
mais liberdade para flutuação."
O novo regime de câmbio vai,
aos poucos, aumentar a faixa de livre flutuação do câmbio, ampliando a diferença entre o piso e o teto
da banda. Dessa forma, a banda,
que hoje é de 10%, poderá chegar a
12% em janeiro do ano que vem.
Exportações
Lopes disse que o principal objetivo do BC com o novo sistema não
foi tornar as exportações mais
competitivas, e sim abrir espaço
para uma possível redução mais
acentuada dos juros.
Ele argumentou que o câmbio já
foi significativamente recomposto
e, no período de três anos que encerra em janeiro do ano 2000, a
desvalorização real da moeda nacional em relação ao dólar terá sido entre 21% e 24%.
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