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Visão externa é de "derretimento" do país
do Conselho Editorial
A palavra "meltdown" (derretimento), usada com abundância
para se referir aos países asiáticos
devastados pela crise, agora está
sendo aplicada ao Brasil.
"É o longamente esperado derretimento do Brasil? Parece", pergunta e responde a análise de ontem do grupo G-7, sobre a saída de
Gustavo Franco do Banco Central
e a desvalorização do real.
Trata-se de uma organização
norte-americana encabeçada por
ex-altos funcionários da Casa
Branca, em sucessivas gestões (de
Jimmy Carter a Bill Clinton), o que
dá a ela peso maior que o de consultorias convencionais.
No boletim diário, de circulação
restrita, o grupo G-7 faz a pergunta
que percorre os mercados: será vitoriosa a tentativa de desvalorização "controlada"?
Resposta preliminar: "Infelizmente para o Brasil, a história
mostra que desvalorizações controladas são uma espécie de paradoxo, e que os mercados tenderão
a demandar uma queda maior no
valor do real (a maioria dos analistas acha que a moeda tem estado
sobrevalorizada em pelo menos
25%)".
A análise do G-7 faz parte de um
conjunto de informações em que o
Brasil ocupou o centro da cena no
jornalismo internacional, da pior
forma possível.
A primeira informação da rede
norte-americana CNN, por exemplo, noticiava tanto a queda de
Franco como a desvalorização. Na
linha do G-7, citava avaliação de
Miranda Xafa, estrategista em
câmbio da corretora Salomon
Smith Barney: "O real vai flutuar e,
definitivamente, para baixo".
Na mesma linha ia o analista do
jornal britânico "Financial Times", Nicholas Leonard, para
quem "há agora temores de que seja impossível evitar uma abrupta
desvalorização do real".
É eloquente, aliás, o fato de que a
palavra "Brazil" apareceu em todos os cinco títulos do noticiário
on-line do "Financial Times", na
rubrica "Mercados".
Vão desde a interrupção do pregão na Bolsa paulista até os efeitos
da desvalorização sobre a Bolsa de
Nova York, passando pela queda
de 5,4% na Bolsa de Frankfurt (no
início da tarde), tudo atribuído à
crise brasileira.
Da mesma forma, o noticiário da
rede norte-americana NBC puxa
como manchete principal o enunciado "Problemas do Brasil afundam Wall Street" (a ruazinha em
que fica a Bolsa de Nova York).
A CNN foi um pouco na mesma
direção, ao informar, em uma segunda leva de informações sobre a
crise brasileira: "Dow engatinha de
volta do abismo". É alusão ao índice Dow Jones, de Nova York, que
se recuperou de uma forte queda
inicial, sempre atribuída à crise no
Brasil.
Evidência adicional de como o
Brasil esteve no centro do mundo
surgia na principal informação da
edição eletrônica do jornal "The
New York Times". Título: "Clinton
e aliados discutem Brasil".
Antes mesmo de noticiar a queda
de Franco e a desvalorização do
real, a edição impressa do "Financial Times" de ontem já avisava
que seria "um ano duro" para o
presidente Fernando Henrique
Cardoso, em análise publicada na
página de opinião.
Para o jornal britânico, a moratória decretada pelo governador
Itamar Franco serviu para "sublinhar a extensão dos obstáculos políticos e econômicos que Cardoso
enfrenta ao tentar guiar seu país
para longe de uma prolongada crise econômica".
(CLÓVIS ROSSI)
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