São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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Visão externa é de "derretimento" do país

do Conselho Editorial

A palavra "meltdown" (derretimento), usada com abundância para se referir aos países asiáticos devastados pela crise, agora está sendo aplicada ao Brasil.
"É o longamente esperado derretimento do Brasil? Parece", pergunta e responde a análise de ontem do grupo G-7, sobre a saída de Gustavo Franco do Banco Central e a desvalorização do real.
Trata-se de uma organização norte-americana encabeçada por ex-altos funcionários da Casa Branca, em sucessivas gestões (de Jimmy Carter a Bill Clinton), o que dá a ela peso maior que o de consultorias convencionais.
No boletim diário, de circulação restrita, o grupo G-7 faz a pergunta que percorre os mercados: será vitoriosa a tentativa de desvalorização "controlada"?
Resposta preliminar: "Infelizmente para o Brasil, a história mostra que desvalorizações controladas são uma espécie de paradoxo, e que os mercados tenderão a demandar uma queda maior no valor do real (a maioria dos analistas acha que a moeda tem estado sobrevalorizada em pelo menos 25%)".
A análise do G-7 faz parte de um conjunto de informações em que o Brasil ocupou o centro da cena no jornalismo internacional, da pior forma possível.
A primeira informação da rede norte-americana CNN, por exemplo, noticiava tanto a queda de Franco como a desvalorização. Na linha do G-7, citava avaliação de Miranda Xafa, estrategista em câmbio da corretora Salomon Smith Barney: "O real vai flutuar e, definitivamente, para baixo".
Na mesma linha ia o analista do jornal britânico "Financial Times", Nicholas Leonard, para quem "há agora temores de que seja impossível evitar uma abrupta desvalorização do real".
É eloquente, aliás, o fato de que a palavra "Brazil" apareceu em todos os cinco títulos do noticiário on-line do "Financial Times", na rubrica "Mercados".
Vão desde a interrupção do pregão na Bolsa paulista até os efeitos da desvalorização sobre a Bolsa de Nova York, passando pela queda de 5,4% na Bolsa de Frankfurt (no início da tarde), tudo atribuído à crise brasileira.
Da mesma forma, o noticiário da rede norte-americana NBC puxa como manchete principal o enunciado "Problemas do Brasil afundam Wall Street" (a ruazinha em que fica a Bolsa de Nova York).
A CNN foi um pouco na mesma direção, ao informar, em uma segunda leva de informações sobre a crise brasileira: "Dow engatinha de volta do abismo". É alusão ao índice Dow Jones, de Nova York, que se recuperou de uma forte queda inicial, sempre atribuída à crise no Brasil.
Evidência adicional de como o Brasil esteve no centro do mundo surgia na principal informação da edição eletrônica do jornal "The New York Times". Título: "Clinton e aliados discutem Brasil".
Antes mesmo de noticiar a queda de Franco e a desvalorização do real, a edição impressa do "Financial Times" de ontem já avisava que seria "um ano duro" para o presidente Fernando Henrique Cardoso, em análise publicada na página de opinião.
Para o jornal britânico, a moratória decretada pelo governador Itamar Franco serviu para "sublinhar a extensão dos obstáculos políticos e econômicos que Cardoso enfrenta ao tentar guiar seu país para longe de uma prolongada crise econômica".
(CLÓVIS ROSSI)



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