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Mão de obra qualificada é novo gargalo
Em 2009, 1,7 milhão de vagas oferecidas nas agências públicas de emprego não foram preenchidas, índice recorde
Engenheiros e nutricionistas
estão entre as ocupações
com maior sobra de vagas;
baixo nível de escolaridade
está entre as explicações
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A escassez de mão de obra
qualificada levou o Brasil a bater recorde de sobra de vagas
no mercado de trabalho formal
em 2009. Dados obtidos pela
Folha sobre o desempenho do
Sine -rede pública de agências
de emprego- mostram que
1,661 milhão de postos de trabalho oferecidos pelas empresas no ano passado não foram
preenchidos por esse sistema.
Apesar do estrago causado
pela crise global na geração de
empregos formais em 2009
(pior saldo anual desde 2003), a
oferta de vagas nas agências do
Sine foi a maior da década: 2,7
milhões.
A taxa de preenchimento de
empregos apurada pelo Sine ficou em 39%, ante 42% em 2008
e 48% em 2007. Esse indicador
considera a relação entre o número de vagas disponíveis na
rede e o total de pessoas que
conseguiram colocação no
mercado por meio do sistema
público. Em 2008, o excedente
de vagas atingiu 1,458 milhão.
O principal motivo para o
não preenchimento dos postos
é a falta de qualificação da mão
de obra, o que compreende baixo nível de escolaridade, carência de preparo técnico e pouca
experiência.
Apesar da sobra de vagas pelo
sistema Sine, a taxa de desemprego no ano passado ficou em
8,9%, segundo dados do IBGE
-percentual pouco acima dos
7,9% registrados em 2008.
A tendência é que a situação
se agrave neste ano, quando são
esperados aumento da atividade econômica e maior oferta de
emprego. A dificuldade de as
empresas encontrarem trabalhadores qualificados já é considerada um gargalo comparável à falta de infraestrutura/logística e à elevada carga tributária.
Ranking
O excedente de postos de trabalho captado pelo Sine ocorreu tanto em profissões de nível superior quanto em atividades com menor escolaridade,
mas que necessitam de conhecimento técnico.
Ranking elaborado pelo Ministério do Trabalho a pedido
da Folha revela que entre as
ocupações com maior sobra de
vagas estão engenheiros civil e
mecânico, nutricionista e farmacêutico. Também faltaram
auxiliares de linha de produção, pedreiros e operadores de
telemarketing. Nas estatísticas
oficiais, ainda aparecem eletricistas, torneiros mecânicos e
funções ligadas ao setor naval.
"Isso mostra o aquecimento
da economia, que fez com que
fossem geradas tantas vagas
em 2009. Mas também traz
uma decepção: o Brasil não tem
mão de obra qualificada suficiente", disse o ministro do
Trabalho, Carlos Lupi. "Intensificamos os programas de qualificação, mas não dá para tapar
o sol com a peneira. Não é possível atender à demanda."
Segundo ele, o governo federal investiu no ano passado
R$ 600 milhões no conjunto de
programas de qualificação profissional. Para 2010, a previsão
é de R$ 800 milhões.
Para o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, entre os trabalhadores com nível
superior, a falta de profissionais com especialização foi
mais crítica. "A taxa de preenchimento para nível superior
foi de apenas 22%. Para o grupo com menor escolaridade, o
índice foi de 39,2%."
Construção civil
Para o economista, não causou surpresa a sobra de vagas
nos principais setores listados
no ranking, pois estaria relacionada à retomada da economia.
"Engenheiro e pedreiro são
profissões ligadas à construção
civil. O setor cresceu muito nos
últimos anos e houve avanço na
formalização. Já o fraco desempenho do setor até 2003 desencorajou a formação de profissionais. Formar um engenheiro
leva algum tempo."
A falta de pessoal qualificado
nas carreiras mais técnicas
também pode ser associada a
outros fatores, na opinião do
presidente do Iets (Instituto de
Estudos do Trabalho e Sociedade), Simon Schwartzman.
"Pode ser que as vagas estejam sendo oferecidas em Pernambuco e os engenheiros estejam em Minas Gerais, por
exemplo. Pode haver um problema de falta de informação
recíproca e de localização", diz.
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