São Paulo, domingo, 14 de fevereiro de 2010

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Mão de obra qualificada é novo gargalo

Em 2009, 1,7 milhão de vagas oferecidas nas agências públicas de emprego não foram preenchidas, índice recorde

Engenheiros e nutricionistas estão entre as ocupações com maior sobra de vagas; baixo nível de escolaridade está entre as explicações

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A escassez de mão de obra qualificada levou o Brasil a bater recorde de sobra de vagas no mercado de trabalho formal em 2009. Dados obtidos pela Folha sobre o desempenho do Sine -rede pública de agências de emprego- mostram que 1,661 milhão de postos de trabalho oferecidos pelas empresas no ano passado não foram preenchidos por esse sistema.
Apesar do estrago causado pela crise global na geração de empregos formais em 2009 (pior saldo anual desde 2003), a oferta de vagas nas agências do Sine foi a maior da década: 2,7 milhões.
A taxa de preenchimento de empregos apurada pelo Sine ficou em 39%, ante 42% em 2008 e 48% em 2007. Esse indicador considera a relação entre o número de vagas disponíveis na rede e o total de pessoas que conseguiram colocação no mercado por meio do sistema público. Em 2008, o excedente de vagas atingiu 1,458 milhão.
O principal motivo para o não preenchimento dos postos é a falta de qualificação da mão de obra, o que compreende baixo nível de escolaridade, carência de preparo técnico e pouca experiência.
Apesar da sobra de vagas pelo sistema Sine, a taxa de desemprego no ano passado ficou em 8,9%, segundo dados do IBGE -percentual pouco acima dos 7,9% registrados em 2008.
A tendência é que a situação se agrave neste ano, quando são esperados aumento da atividade econômica e maior oferta de emprego. A dificuldade de as empresas encontrarem trabalhadores qualificados já é considerada um gargalo comparável à falta de infraestrutura/logística e à elevada carga tributária.

Ranking
O excedente de postos de trabalho captado pelo Sine ocorreu tanto em profissões de nível superior quanto em atividades com menor escolaridade, mas que necessitam de conhecimento técnico.
Ranking elaborado pelo Ministério do Trabalho a pedido da Folha revela que entre as ocupações com maior sobra de vagas estão engenheiros civil e mecânico, nutricionista e farmacêutico. Também faltaram auxiliares de linha de produção, pedreiros e operadores de telemarketing. Nas estatísticas oficiais, ainda aparecem eletricistas, torneiros mecânicos e funções ligadas ao setor naval.
"Isso mostra o aquecimento da economia, que fez com que fossem geradas tantas vagas em 2009. Mas também traz uma decepção: o Brasil não tem mão de obra qualificada suficiente", disse o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. "Intensificamos os programas de qualificação, mas não dá para tapar o sol com a peneira. Não é possível atender à demanda."
Segundo ele, o governo federal investiu no ano passado R$ 600 milhões no conjunto de programas de qualificação profissional. Para 2010, a previsão é de R$ 800 milhões.
Para o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, entre os trabalhadores com nível superior, a falta de profissionais com especialização foi mais crítica. "A taxa de preenchimento para nível superior foi de apenas 22%. Para o grupo com menor escolaridade, o índice foi de 39,2%."

Construção civil
Para o economista, não causou surpresa a sobra de vagas nos principais setores listados no ranking, pois estaria relacionada à retomada da economia. "Engenheiro e pedreiro são profissões ligadas à construção civil. O setor cresceu muito nos últimos anos e houve avanço na formalização. Já o fraco desempenho do setor até 2003 desencorajou a formação de profissionais. Formar um engenheiro leva algum tempo."
A falta de pessoal qualificado nas carreiras mais técnicas também pode ser associada a outros fatores, na opinião do presidente do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), Simon Schwartzman.
"Pode ser que as vagas estejam sendo oferecidas em Pernambuco e os engenheiros estejam em Minas Gerais, por exemplo. Pode haver um problema de falta de informação recíproca e de localização", diz.


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