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Indústria recua e dificulta inserção global
Peso do setor na economia encolhe entre 1970 e 2007, diferentemente do que houve em emergentes como China e Índia
Países que pretendem ser
mais relevantes no mundo
não podem prescindir de sua indústria, diz ex-secretário de Política Econômica
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em um movimento contrário ao de países emergentes que
estão ganhando maior relevância na economia global, o Brasil
tem visto um encolhimento relativo de sua indústria.
Segundo estudo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), a participação do setor industrial no
valor adicionado (PIB menos
tributos) do país passou de
29,21% em 1970 para 23,73%
em 2007, perda de 5,48 pontos
percentuais (veja quadro).
No mesmo período, em países emergentes como China,
Índia, México e Turquia, o setor industrial passou a responder por parcela maior da economia. Na Coreia do Sul, que
deixou de ser considerada país
emergente pelo FMI, a participação da indústria passou de
8,67% para 37,28%.
Para Rogério César de Souza,
economista do Iedi, o declínio
da indústria dificulta a inserção
do país na economia global e limita o crescimento no longo
prazo. "Os países que tiveram
expansão anual acima de 5%
nesses anos são justamente
aqueles em que a indústria ganhou espaço", disse.
A perda de peso da indústria
não é particularidade do Brasil.
Processo semelhante ocorreu
em países desenvolvidos, como
França e Reino Unido.
"A diferença é que o Brasil
ainda está distante dos níveis
de renda de outros países mais
avançados", disse Souza.
Setores em extinção
No Brasil, houve cadeias que
praticamente entraram em extinção, como a da indústria naval. Nos anos 70, o país foi o segundo maior produtor global
de navios. Posteriormente, inflação acelerada (que prejudica
indústrias cujo ciclo de produção é longo), crise mundial e
uma legislação que dificultava a
importação de componentes
levaram o setor naval para um
vale, diz o professor da UFRJ
Floriano Pires. "Quase todos os
estaleiros fecharam, e o Brasil
ficou 15 anos sem produzir navios oceânicos."
A indústria naval só foi retomada em 2004, com a encomenda de plataformas e navios
de apoio pela Petrobras. Agora,
o setor vê um boom de pedidos
para atender o pré-sal.
Também a indústria de bens
de capital foi ficando cada vez
mais para trás. "Nos anos 80,
fomos o quinto maior produtor
de máquinas e equipamentos.
Agora, estamos na 15ª posição",
afirma o presidente da Abimaq
(que reúne os fabricantes de
máquinas e equipamentos),
Luiz Aubert Neto.
Para o professor da Unicamp
e ex-secretário de Política Econômica Julio Gomes de Almeida, um país que quer ser mais
agressivo no cenário global não
pode prescindir da indústria.
"É preciso retomar as bases da
competitividade, com um sistema tributário mais adequado e
maior aposta em inovação."
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