São Paulo, domingo, 14 de fevereiro de 2010

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Indústria recua e dificulta inserção global

Peso do setor na economia encolhe entre 1970 e 2007, diferentemente do que houve em emergentes como China e Índia

Países que pretendem ser mais relevantes no mundo não podem prescindir de sua indústria, diz ex-secretário de Política Econômica

PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em um movimento contrário ao de países emergentes que estão ganhando maior relevância na economia global, o Brasil tem visto um encolhimento relativo de sua indústria.
Segundo estudo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), a participação do setor industrial no valor adicionado (PIB menos tributos) do país passou de 29,21% em 1970 para 23,73% em 2007, perda de 5,48 pontos percentuais (veja quadro).
No mesmo período, em países emergentes como China, Índia, México e Turquia, o setor industrial passou a responder por parcela maior da economia. Na Coreia do Sul, que deixou de ser considerada país emergente pelo FMI, a participação da indústria passou de 8,67% para 37,28%.
Para Rogério César de Souza, economista do Iedi, o declínio da indústria dificulta a inserção do país na economia global e limita o crescimento no longo prazo. "Os países que tiveram expansão anual acima de 5% nesses anos são justamente aqueles em que a indústria ganhou espaço", disse.
A perda de peso da indústria não é particularidade do Brasil. Processo semelhante ocorreu em países desenvolvidos, como França e Reino Unido.
"A diferença é que o Brasil ainda está distante dos níveis de renda de outros países mais avançados", disse Souza.

Setores em extinção
No Brasil, houve cadeias que praticamente entraram em extinção, como a da indústria naval. Nos anos 70, o país foi o segundo maior produtor global de navios. Posteriormente, inflação acelerada (que prejudica indústrias cujo ciclo de produção é longo), crise mundial e uma legislação que dificultava a importação de componentes levaram o setor naval para um vale, diz o professor da UFRJ Floriano Pires. "Quase todos os estaleiros fecharam, e o Brasil ficou 15 anos sem produzir navios oceânicos."
A indústria naval só foi retomada em 2004, com a encomenda de plataformas e navios de apoio pela Petrobras. Agora, o setor vê um boom de pedidos para atender o pré-sal.
Também a indústria de bens de capital foi ficando cada vez mais para trás. "Nos anos 80, fomos o quinto maior produtor de máquinas e equipamentos. Agora, estamos na 15ª posição", afirma o presidente da Abimaq (que reúne os fabricantes de máquinas e equipamentos), Luiz Aubert Neto.
Para o professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica Julio Gomes de Almeida, um país que quer ser mais agressivo no cenário global não pode prescindir da indústria. "É preciso retomar as bases da competitividade, com um sistema tributário mais adequado e maior aposta em inovação."


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