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LUÍS NASSIF
Nasce uma escola
Em um projeto de desenvolvimento nacional, papel
central é o das escolas de pensamento econômico. Esse pensamento está na base de todas as
decisões, certas ou erradas, que
permeiam as políticas econômicas.
Nos anos 50, esse pensamento
estava no setor público, em algumas cabeças enciclopédicas
que ajudaram a moldar o país
no período. A partir dos anos 60,
transferiu-se para a academia.
Refletindo a formação econômica de suas respectivas cidades,
sob a influência de Mário Henrique Simonsen, a FGV do Rio
de Janeiro tornou-se ampla defensora de um pensamento mais
voltado para a ortodoxia econômica, a internacionalização e a
liberalização financeira. Sob a
influência de Antonio Delfim
Netto, a Fipe (Universidade de
São Paulo) tinha um enfoque
mais voltado para um projeto
desenvolvimentista.
Ambas as escolas esgotaram-se com o final do regime militar.
O liberalismo da FGV transferiu-se para a PUC do Rio de Janeiro. O desenvolvimentismo
acabou sendo politizado pelo
Instituto de Economia da Unicamp, com uma visão mais dogmática do que a da Fipe.
Ao se politizarem, ambas as
escolas incorreram em equívocos que comprometeram a sua
análise e a política econômica
nacional. A Unicamp insistiu
exageradamente no fechamento
da economia, a ponto de tornar
ineficiente a produção interna
por excesso de proteção, atrapalhando o desenvolvimento brasileiro dos anos 80. A PUC-Rio
insistiu em um modelo de liberalização que comprometeu o
desenvolvimento dos anos 90.
Novas idéias surgiram no período, novos conceitos se consolidaram, a microeconomia passou a ter relevância cava vez
maior no aumento da competitividade, ganharam corpo
idéias sobre o novo papel do Estado. Mas nenhuma escola acadêmica foi capaz de pensar sistematicamente a nova ordem.
O Brasil deixou de ter um núcleo de pensamento autônomo,
e os melhores quadros formados
acabaram indo para o exterior,
moldando seu discurso de acordo com os novos demandantes
de economistas: o mercado financeiro. Esse vácuo custou caro ao país. Abandonou-se a
análise de um projeto de país
por uma análise recorrente do
curto prazo, fundada em parâmetros internacionais, sem nenhuma preocupação de adaptar
as teorias às condições e limitações da economia brasileira.
A montagem da Escola de
Economia da Fundação Getúlio
Vargas de São Paulo poderá se
constituir em um marco na recuperação da capacidade de
formulação de estratégias de
longo prazo pela academia.
Na frente da iniciativa estará
o mais importante economista
brasileiro da atualidade, Yoshiaki Nakano. Ao longo de sua
carreira, Nakano logrou excelência acadêmica (foi o pioneiro
dos estudos sobre a inflação
inercial), amplo conhecimento
do mundo real (na qualidade de
consultor do grupo Pão de Açúcar), um revolucionário na gestão de despesas públicas (na
qualidade de secretário da Fazenda do governo Covas) e,
principalmente, um intelectual
corajoso, sem receio de investir
-sempre de forma sólida-
contra as verdades estabelecidas.
O desenvolvimentismo contemporâneo brasileiro encontrou, finalmente, a sua escola.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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