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CRÉDITO
Questiona-se o fato de serem poucas as instituições cuja avaliação autorize a venda de ações de empresas no mercado
Agências de risco sofrem ataque nos EUA
FRANK PARTNOY
PARA O "FINANCIAL TIMES"
As audiências do Comitê Bancário do Senado norte-americano
sobre as agências de classificação
de crédito foram encerradas, na
semana passada, com uma pergunta simples do presidente do
comitê, o republicano Richard
Shelby: "O que há de errado com a
idéia de competição e transparência?". De acordo com a maioria
dos critérios, o setor de classificação de crédito é o mais opaco e o
menos competitivo dos mercados
mundiais.
O cerne do problema é o domínio que a Moody's Corporation e
a Standard & Poor's Rating Services exercem sobre as classificações de crédito. Os legisladores as
classificam como "um duopólio
de agências de classificação". Como sabe qualquer organização
que tenha tentado obter uma classificação, as duas empresas detêm
as chaves para os mercados financeiros. Desde que a Moody's abriu
seu capital, em 2000, o valor de
suas ações cresceu em mais de
400%. A cotação das ações da
S&P também disparou, mesmo
em um período de declínio geral
do mercado.
Explicando o motivo dessa tendência, Shelby apontou na semana passada que a Moody's e a S&P
enfrentam pouca competição
-basicamente porque se beneficiam do domínio sobre uma forma de "licença regulatória": em
essência, fornecem certificados
que estabelecem que seus detentores cumprem determinadas
normas legais. Quando as empresas pagam a Moody's e a S&P por
uma classificação, estão implicitamente adquirindo uma espécie de
licença financeira. As autoridades
regulatórias tornaram as duas
agências mais lucrativas ao impedir que companhias concorrentes
vendam esse tipo de licença.
Ainda que existam 130 outras
agências de classificação de crédito, o sistema de licenças regulatórias as impede de competir. Uma
dessas agências, a Rapid Ratings,
apresenta desempenho muito superior ao da Moody's e da S&P na
análise de riscos de crédito. Ela
previu os problemas financeiros
na Enron e na Parmalat muito antes que a Moody's e a S&P rebaixassem as classificações de crédito das duas empresas. Mas as regras que governam fundos mútuos e fundos de pensão não permitem que eles se baseiem nas
classificações da Rapid Ratings.
A Moody's e a S&P apresentam
margens de lucros operacionais
sustentados da ordem de 50%,
graças em larga medida à grande
rentabilidade oferecida pelos honorários que empresas emissoras
de título pagam para obter as classificações que elas oferecem. Os
honorários são elevados porque o
valor das classificações abrange as
licenças regulatórias, as quais permitem às empresas acesso ao
mercado de capitais.
O líder da bancada democrata
no Comitê Bancário do Senado é
Paul Sarbanes, co-autor da lei Sarbanes-Oxley, que incluía uma
cláusula prevendo novo exame da
situação das agências de classificação de crédito.
Em setembro do ano passado,
escrevi em artigo para o "Financial Times" que as audiências legislativas sobre as agências de
classificação de crédito representariam "o começo do fim" para a
Moody's e a S&P. Projetos de lei
em debate na Câmara norte-americana pretendem resolver problemas importantes do setor adotando um sistema sob o qual novas agências de classificação de
crédito poderiam aderir ao regime regulatório desde que se registrassem na Securities and Exchange Commission (SEC, agência federal norte-americana que
regulamenta e fiscaliza os mercados de valores mobiliários).
Os próximos meses representarão um teste que determinará se
as forças esmagadoras que
apóiam a reforma serão capazes
de superar o esforço concentrado
de lobby que a Moody's e a S&P
vêm conduzindo. A S&P chegou
até a ameaçar o Congresso de que
contestaria judicialmente qualquer nova lei, sob a alegação de
que classificações de crédito são
protegidas pelas leis que garantem a liberdade de expressão. Mas
classificações de crédito não são
simples opiniões. Existe uma diferença fundamental entre classificações de crédito e jornalismo. Os
emissores de títulos pagam bilhões de dólares à Moody's e à
S&P por sua "expressão", mas
não estão pagando pela informação -estão pagando por uma licença que lhes confere o direito de
vender títulos a investidores regulamentados que requerem classificações de crédito. O Congresso
deveria eliminar as licenças que
tornam as classificações de crédito tão valiosas. A Moody's e a S&P
poderiam se expressar à vontade,
depois disso.
O autor, que depôs sobre as agências de
classificação de crédito ao Comitê Bancário do Senado, na semana passada, é
professor de direito na Universidade de
San Diego.
Tradução de Paulo Migliacci
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