São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2008

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Vale fica mais perto de comprar a Xstrata

Empresa brasileira e mineradora anglo-suíça contornam desavenças em reunião no Rio e anúncio pode ocorrer hoje

Glencore, acionista da Xstrata, quer controlar a venda de carvão; negócio de US$ 90 bi fará da Vale maior mineradora do mundo

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A Vale, maior empresa privada do Brasil, está próxima de fechar o maior negócio de sua história, a compra da mineradora anglo-suíça Xstrata. O valor da transação pode chegar a US$ 90 bilhões -bem mais do que os US$ 17,5 bilhões pagos pela Vale pela canadense Inco, no final de 2006.
Segundo a Folha apurou, a mineradora brasileira estava ontem perto de concluir a negociação com a trading suíça Glencore, a maior acionista da Xstrata, com participação de 35%, e uma das maiores tradings do mundo.
Executivos da mineradora, Mike Davis, e da trading, Ivan Glasenberg, vieram ao Brasil para fechar o negócio, numa última rodada de negociação com o presidente da Vale, Roger Agnelli -o brasileiro está impossibilitado de viajar, pois quebrou o pé.
O último entrave ao negócio, que pode ser anunciado publicamente ainda hoje, segundo analistas ouvidos pela Folha, é o pleito da Glencore de manter o direito à comercialização que já possui da Xstrata. A Vale prefere cuidar ela própria da venda dos produtos.
Tal barreira teria sido superada, com a Vale abrindo mão do direito de venda de parte da produção. Um acordo provável seria a Vale manter a comercialização de minério de ferro. A Glencore ficaria com o carvão, principal produto da Xstrata, e outros metais por um prazo de cinco anos.
A questão do preço parece um problema superado, depois que a Vale aceitou melhorar sua oferta inicial de US$ 78 bilhões e ofereceu algo próximo a US$ 90 bilhões pela mineradora suíça. Procurada, a Vale informou apenas que não comentaria rumores de mercado.

Rumo ao topo
A Xstrata é a quinta maior mineradora do mundo. A Vale ocupa a segunda posição, atrás da mineradora australiana BHP-Billiton. Passaria à primeira posição com o negócio e ganharia destaque na produção mundial de carvão e cobre, produtos nos quais tem uma participação modesta.
Em sua estratégia de crescimento, a Vale, antes da negociação com a Xstrata, deu seu passo mais importante em outubro de 2006, quando adquiriu a canadense Inco. A empresa, grande produtora de níquel, permitiu a diversificação da Vale, maior produtora mundial de minério de ferro.
Na época, a empresa comprou a mineradora apenas com recursos de terceiros, por meio de um empréstimo-ponte de um pool de bancos.
Com a operação, o mercado passou a duvidar de sua capacidade de manter o grau de investimento por causa do alto endividamento e imaginava que a Vale levaria tempo para "digerir" a aquisição.
Não foi isso o que aconteceu. A empresa levou adiante um bem-sucedido plano de refinanciamento da dívida, com prazos maiores e juros mais baixos -o endividamento caiu US$ 22,5 bilhões ao final de 2006 para US$ 19 bilhões em dezembro de 2007. A forte demanda global por commodities metálicas fortalece a Vale, que teve lucro recorde de R$ 20 bilhões em 2008.
Agora, acredita-se que conseguirá o mesmo na provável aquisição da Xstrata. Para financiar o negócio, a Vale tem à disposição US$ 50 bilhões de um consórcio de bancos estrangeiros, que inclui o Santander e o HSBC.
O restante será pago com ações preferenciais (sem direito a voto) da companhia, a fim de evitar sua desnacionalização, que poderia ocorrer caso fossem dadas ações ordinárias (votantes) como pagamento.
O governo Lula havia manifestado resistências à aquisição da Xstrata pela Vale, temendo que o controle decisório da empresa se transferisse ao exterior, como ocorreu na fusão da AmBev com a Interbrew, criando a InBev, sediada na Bélgica.
A Inco foi a primeira grande aquisição internacional da Vale. Privatizada em 1997, cresceu primeiro com uma série de aquisições no Brasil -Caemi, Ferteco, Samitri e Coimex- no começo da década. Mesmo assim, se manteve forte apenas em minério de ferro. Antes da Inco, o produto representava 75% de sua receita. O percentual baixou para 55% após a aquisição.


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