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Vale fica mais perto de comprar a Xstrata
Empresa brasileira e mineradora anglo-suíça contornam desavenças em reunião no Rio e anúncio pode ocorrer hoje
Glencore, acionista da Xstrata, quer controlar a venda de carvão; negócio de US$ 90 bi fará da Vale maior mineradora do mundo
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A Vale, maior empresa privada do Brasil, está próxima de fechar o maior negócio de sua
história, a compra da mineradora anglo-suíça Xstrata. O valor da transação pode chegar a
US$ 90 bilhões -bem mais do
que os US$ 17,5 bilhões pagos
pela Vale pela canadense Inco,
no final de 2006.
Segundo a Folha apurou, a
mineradora brasileira estava
ontem perto de concluir a negociação com a trading suíça
Glencore, a maior acionista da
Xstrata, com participação de
35%, e uma das maiores tradings do mundo.
Executivos da mineradora,
Mike Davis, e da trading, Ivan
Glasenberg, vieram ao Brasil
para fechar o negócio, numa última rodada de negociação com
o presidente da Vale, Roger Agnelli -o brasileiro está impossibilitado de viajar, pois quebrou o pé.
O último entrave ao negócio,
que pode ser anunciado publicamente ainda hoje, segundo
analistas ouvidos pela Folha, é
o pleito da Glencore de manter
o direito à comercialização que
já possui da Xstrata. A Vale prefere cuidar ela própria da venda dos produtos.
Tal barreira teria sido superada, com a Vale abrindo mão
do direito de venda de parte da
produção. Um acordo provável
seria a Vale manter a comercialização de minério de ferro. A
Glencore ficaria com o carvão,
principal produto da Xstrata, e
outros metais por um prazo de
cinco anos.
A questão do preço parece
um problema superado, depois
que a Vale aceitou melhorar
sua oferta inicial de US$ 78 bilhões e ofereceu algo próximo a
US$ 90 bilhões pela mineradora suíça. Procurada, a Vale informou apenas que não comentaria rumores de mercado.
Rumo ao topo
A Xstrata é a quinta maior
mineradora do mundo. A Vale
ocupa a segunda posição, atrás
da mineradora australiana
BHP-Billiton. Passaria à primeira posição com o negócio e
ganharia destaque na produção
mundial de carvão e cobre, produtos nos quais tem uma participação modesta.
Em sua estratégia de crescimento, a Vale, antes da negociação com a Xstrata, deu seu
passo mais importante em outubro de 2006, quando adquiriu a canadense Inco. A empresa, grande produtora de níquel,
permitiu a diversificação da Vale, maior produtora mundial de
minério de ferro.
Na época, a empresa comprou a mineradora apenas com
recursos de terceiros, por meio
de um empréstimo-ponte de
um pool de bancos.
Com a operação, o mercado
passou a duvidar de sua capacidade de manter o grau de investimento por causa do alto endividamento e imaginava que a
Vale levaria tempo para "digerir" a aquisição.
Não foi isso o que aconteceu.
A empresa levou adiante um
bem-sucedido plano de refinanciamento da dívida, com
prazos maiores e juros mais
baixos -o endividamento caiu
US$ 22,5 bilhões ao final de
2006 para US$ 19 bilhões em
dezembro de 2007. A forte demanda global por commodities
metálicas fortalece a Vale, que
teve lucro recorde de R$ 20 bilhões em 2008.
Agora, acredita-se que conseguirá o mesmo na provável
aquisição da Xstrata. Para financiar o negócio, a Vale tem à
disposição US$ 50 bilhões de
um consórcio de bancos estrangeiros, que inclui o Santander e o HSBC.
O restante será pago com
ações preferenciais (sem direito a voto) da companhia, a fim
de evitar sua desnacionalização, que poderia ocorrer caso
fossem dadas ações ordinárias
(votantes) como pagamento.
O governo Lula havia manifestado resistências à aquisição
da Xstrata pela Vale, temendo
que o controle decisório da empresa se transferisse ao exterior, como ocorreu na fusão da
AmBev com a Interbrew, criando a InBev, sediada na Bélgica.
A Inco foi a primeira grande
aquisição internacional da Vale. Privatizada em 1997, cresceu
primeiro com uma série de
aquisições no Brasil -Caemi,
Ferteco, Samitri e Coimex- no
começo da década. Mesmo assim, se manteve forte apenas
em minério de ferro. Antes da
Inco, o produto representava
75% de sua receita. O percentual baixou para 55% após a
aquisição.
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