|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasil cobra do G20 estatização de bancos
Para ministro da Fazenda, essa é a resposta mais "concreta e rápida" para limpar sistema financeiro de ativos tóxicos
Limpeza dos ativos de risco é
apontada como 1º passo
para normalizar fluxo de
crédito global; "rapidez é
essencial", diz Mantega
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
O ministro Guido Mantega
defendeu ontem a nacionalização dos bancos (na verdade, estatização) como a resposta
"mais concreta e mais rápida"
para limpar o sistema financeiro dos ativos chamados tóxicos
que impedem o fluxo normal
de crédito e, por extensão, bloqueiam qualquer possibilidade
de retomada da economia.
Mantega emendou: "Rapidez é
essencial".
A defesa da nacionalização
-que, antes, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva
já dissera que recomendaria a
Barack Obama no encontro de
hoje nos Estados Unidos- foi
feita em reunião dos ministros
da Fazenda dos Brics (Brasil,
Rússia, Índia e China), à margem do encontro de ministros e
presidentes de bancos centrais
do G20, inaugurado ontem
com um jantar.
Mas os Brics não fecharam
uma proposta conjunta. Discutiram as duas hipóteses mais
recorrentes no debate sobre os
ativos tóxicos: a compra deles
por algum mecanismo que
tampouco está perfeitamente
delineado ou a nacionalização.
Nas discussões técnicas que
antecederam a reunião ministerial do G20, ficou claro que a
tendência é para que não se recomende uma solução global
para o entupimento do sistema
financeiro.
Poderá haver, sim, padrões
internacionais, mas cada país
os aplicará de acordo com suas
próprias necessidades, características e legislação.
No que concordaram todos
os quatro Brics é no fato de que,
sem solução para os bancos,
qualquer pacote de estímulo à
economia perde eficácia, o que,
de resto, é óbvio.
Nesse ponto, os Brics coincidem literalmente com o anfitrião, o ministro britânico do
Tesouro, Alistair Darling, que
disse ontem ser "crítico" que os
"bancos limpem seus balanços", de forma a "assegurar que
possam começar a fornecer
crédito à economia de novo".
Darling também está de
acordo com os Brics em outro
ponto: os quatro países emergentes e o ministro britânico
defendem pacotes de estímulo
fiscal para retomar a demanda,
tese aliás que foi lançada nesta
semana pelos Estados Unidos.
Os europeus reagiram dizendo que já puseram dinheiro público suficiente para debelar a
crise e preferem esperar os resultados dos pacotes anteriormente anunciados e em fase de
implementação antes de abrir
de novo os cofres.
Os europeus colocam a reforma da supervisão internacional
como grande prioridade. Os
Brics aceitam que se trata de
providência relevante, mas
acham que a ênfase não pode
ser apenas na regulação.
Fizeram inclusive a distinção
entre o urgente (a retomada da
economia) e o estrutural (reforma da regulação).
Mas antes mesmo de começar a ministerial do G20 já houve um avanço em um dos inúmeros pontos ligados à regulação e à supervisão do sistema financeiro: a Suíça anunciou que
vai relaxar suas rígidas regras
de sigilo bancário e cooperar
mais com seus pares no combate à evasão fiscal.
Além de chocolates, queijos e
relógios, o sigilo bancário é um
dos produtos mais típicos da
Suíça. O fato de ter decidido se
adequar às regras definidas pela OCDE (Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, clubão das
30 economias mais ricas do
planeta, mas do qual o Brasil
ainda não faz parte) mostra a
força que vai ganhando o G20.
Exigência
Países do grupo, como a
França, vinham exigindo que o
G20 adotasse medidas contra
os chamados paraísos fiscais,
entre os quais está a Suíça, na
relação elaborada pela OCDE.
Outros países (Liechtenstein, Andorra e Bélgica) haviam
anunciado idêntica adesão a
padrões internacionais.
O primeiro-ministro Gordon
Brown saudou a decisão de todos eles, especialmente da Suíça, e disse que é preciso passar
"rapidamente" à implementação dos padrões da OCDE.
A importância do G20, que o
Brasil pretende ver entronizado como nova diretoria informal da economia planetária, foi
reconhecida por Alistar Darling: "No passado, os países
mais desenvolvidos poderiam
pensar que teriam condições de
sair [de uma crise] por seus
próprios meios. Agora, nós precisamos das economias emergentes, precisamos das economias em desenvolvimento. Nenhum país pode sair sozinho".
Darling minimizou as divergências entre norte-americanos (apoiados pelos Brics) e europeus em torno da questão regulação versus estímulo.
Tem motivos para fazê-lo: as
discussões preliminares indicam que o comunicado final da
ministerial, a ser divulgado hoje, não será um tudo ou nada.
Nenhum país é insano a ponto
de rejeitar a necessidade de relançar a economia, assim como
não há resistência a um aperfeiçoamento e aprofundamento da supervisão/regulação.
Tudo é uma questão de matizes, que só ontem começaram a
ser discutidos com mais profundidade. Pelo menos até o
anoitecer, não fora posta à mesa a proposta do secretário norte-americano do Tesouro, Tim
Geithner, de que os países do
G20 comprometam, cada um,
2% de seus PIBs em pacote de
estímulo à economia.
É razoável nesse cenário o
palpite de Brad Setser (Council
on Foreign Relations) de que o
G20 envie "um forte sinal" de
que tudo fará para a retomada
econômica, mesmo que não assuma compromissos numéricos. "Não é o que os mercados
estão esperando", acha Setser.
Texto Anterior: Ambiente: Justiça suspende atividades de mineradora da Gerdau em MG Próximo Texto: Frase Índice
|