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Sob pressão, Suíça muda sigilo bancário
País anuncia que vai afrouxar regras e compartilhar informações com outros países em casos pontuais de evasão fiscal
Numa abertura limitada e gradual, governo diz que sigilo será mantido, mas que passará a adotar padrões globais contra sonegação
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
A mais polêmica e criticada
tradição da Suíça vai mudar para poder sobreviver. Curvando-se a uma pressão internacional
sem precedentes, o país anunciou ontem que vai afrouxar as
regras do sigilo bancário e compartilhar informações com outros países em casos pontuais
de evasão fiscal.
O governo afirmou que o sigilo será mantido, mas disse que
passará a adotar padrões internacionais de combate à sonegação. Segundo o presidente suíço, Hans-Rudolf Merz, o país
aceitará prestar informações
"caso a caso", mas não em ações
coletivas destinadas a flagrar a
evasão.
Ainda é uma abertura limitada e gradual na fortaleza que os
suíços sustentam desde que o
sigilo bancário foi incorporado
à sua Constituição, em 1934.
Mas também representa uma
rara concessão do país que é o
líder mundial em contas "off-
shore", com um terço do total
estimado em US$ 10 trilhões.
Ao começar a romper com
um princípio guardado há várias gerações, a Suíça espera
não ser incluída em uma "lista
negra" de paraísos fiscais que
as maiores economias do mundo discutirão na cúpula sobre a
crise financeira, em abril.
Assim, espera preservar um
setor responsável por 12% de
sua economia e que emprega
5% de sua força de trabalho. Ao
anunciar ontem que o país adotará os padrões da OCDE (Organização para a Cooperação e
o Desenvolvimento Econômico) contra evasão fiscal, o presidente Hans-Rudolf Merz admitiu que a concessão foi um gesto de sobrevivência.
"Se a Suíça fosse incluída em
uma "lista negra", isso afetaria
não apenas o setor bancário
mas toda a economia", disse
Merz, que também é ministro
das Finanças. Há alguns dias
um jornal francês noticiou que
a Suíça estava na lista preparada pela OCDE. Merz disse não
saber se o anúncio de ontem
exclui o país da "lista negra".
Outros dois países europeus
informaram ontem que também vão afrouxar o sigilo bancário e que passarão a cooperar
com informações sobre evasão
fiscal. Com Áustria e Luxemburgo, são seis os países a admitir a abertura em dois dias.
Na quinta-feira, Andorra,
Liechtenstein e Bélgica tinham
feito o mesmo.
Mas as atenções se voltaram
para a Suíça. Não só pelo volume de dinheiro estrangeiro que
guarda mas por estar no centro
da pressão desde que o seu
maior banco, o UBS, foi obrigado a pagar multa de US$ 780
milhões nos EUA e a revelar dados de 250 contas secretas para
não perder sua licença e ser indiciado criminalmente.
Apesar de ceder à pressão,
Merz defendeu a tradição suíça. "Sigilo bancário não protege
crimes", disse ele, em referência à recorrente acusação de
que a tolerância do país com a
evasão fiscal abre as portas para
dinheiro de atividades ilícitas,
como drogas e corrupção.
Para o especialista em bancos Marc Chesney, a adoção
dos padrões da OCDE mudará
pouco a prática bancária suíça.
"É só um ajuste para responder
à pressão", disse ele à Folha. "O
sigilo permanecerá."
Brasil
Segundo o Itamaraty, o Brasil só tem um acordo de troca
de informação assinado, no caso com os Estados Unidos, e
que ainda depende de aprovação do Congresso Nacional.
O Itamaraty não comentou
as decisões recentes de governos de paraísos fiscais. Eventuais impactos no Brasil dependem do que entrar no texto final das respectivas decisões.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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