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10 - O hedge, agora pessoal
Temidas, inovações financeiras podem estimular o crescimento
DO "FINANCIAL TIMES"
Inovação financeira se tornou uma expressão obscena
nos últimos meses, devido ao
papel dos títulos complexos
-pacotes de hipotecas e outras
formas de passivo- na crise.
Mas o segredo sujo é que, se
as economias ocidentais desejam se recuperar devidamente,
as verbas terão de vir dos mercados. E a concorrência por dinheiro será tamanha que alguns projetos devem se ver forçados a criar inovações a fim de
atrair investidores.
Uma dessas inovações é a
transferência de risco. Transação que vinha ganhando popularidade antes da crise, ela agora está de volta. Robert Schiller,
professor de economia na Universidade Yale, publicou em
2003 um livro no qual propunha novos instrumentos financeiros para indivíduos que permitiriam que se protegessem
contra os riscos que correm
-fizessem hedge- por contratos negociados em Bolsa.
Se você, por exemplo, estiver
preocupado com a possibilidade de que a carreira que escolheu não vá oferecer o salário
que planeja ter dentro de
dez anos, poderia criar
um contrato sob o qual
receberia certa quantia
caso sua renda naquela data for inferior a determinado patamar.
Os investidores se interessarão em apostar nesse tipo de
coisa, diz Schiller. De fato, mercados como esses estão sendo
criados para grandes organizações. Há, por exemplo, o mercado futuro das nevascas, sob o
qual cidades ou empresas recebem dinheiro caso as tempestades de neve sejam piores que o
esperado. No mês passado, um
grupo de bancos, fundos de
pensão e seguradoras anunciou
que estava desenvolvendo um
novo mercado para longevidade -o risco de que as pessoas
vivam mais que o esperado.
Será que essa ideia não parece terrível, tendo em vista a situação em que os contratos de
risco deixaram os bancos no
passado recente? Schiller argumenta que a crise de crédito
simplesmente demonstra que
"muito mais trabalho precisa
ser feito para democratizar as
finanças. A crise ocorreu porque os princípios de gestão de
risco financeiro não estavam
sendo aplicados à mais ampla
população possível".
Ou seja, o risco é para todos:
empresas, governos e cidadãos
agora podem rolar os dados
nesse negócio arriscado.
JENNIFER HUGHES, correspondente sênior de mercados
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