São Paulo, domingo, 14 de março de 2010

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10 - O hedge, agora pessoal

Temidas, inovações financeiras podem estimular o crescimento

DO "FINANCIAL TIMES"

Inovação financeira se tornou uma expressão obscena nos últimos meses, devido ao papel dos títulos complexos -pacotes de hipotecas e outras formas de passivo- na crise. Mas o segredo sujo é que, se as economias ocidentais desejam se recuperar devidamente, as verbas terão de vir dos mercados. E a concorrência por dinheiro será tamanha que alguns projetos devem se ver forçados a criar inovações a fim de atrair investidores.
Uma dessas inovações é a transferência de risco. Transação que vinha ganhando popularidade antes da crise, ela agora está de volta. Robert Schiller, professor de economia na Universidade Yale, publicou em 2003 um livro no qual propunha novos instrumentos financeiros para indivíduos que permitiriam que se protegessem contra os riscos que correm -fizessem hedge- por contratos negociados em Bolsa. Se você, por exemplo, estiver preocupado com a possibilidade de que a carreira que escolheu não vá oferecer o salário que planeja ter dentro de dez anos, poderia criar um contrato sob o qual receberia certa quantia caso sua renda naquela data for inferior a determinado patamar.
Os investidores se interessarão em apostar nesse tipo de coisa, diz Schiller. De fato, mercados como esses estão sendo criados para grandes organizações. Há, por exemplo, o mercado futuro das nevascas, sob o qual cidades ou empresas recebem dinheiro caso as tempestades de neve sejam piores que o esperado. No mês passado, um grupo de bancos, fundos de pensão e seguradoras anunciou que estava desenvolvendo um novo mercado para longevidade -o risco de que as pessoas vivam mais que o esperado.
Será que essa ideia não parece terrível, tendo em vista a situação em que os contratos de risco deixaram os bancos no passado recente? Schiller argumenta que a crise de crédito simplesmente demonstra que "muito mais trabalho precisa ser feito para democratizar as finanças. A crise ocorreu porque os princípios de gestão de risco financeiro não estavam sendo aplicados à mais ampla população possível".
Ou seja, o risco é para todos: empresas, governos e cidadãos agora podem rolar os dados nesse negócio arriscado.

JENNIFER HUGHES, correspondente sênior de mercados



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