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Brasil perde comércio com os vizinhos
Apesar de prioridade da diplomacia de Lula, intercâmbio entre os países foi mais afetado pelo real valorizado e pela concorrência chinesa
Para diretor da Cepal, fóruns de integração da região deveriam seguir o exemplo da Ásia e ter um viés mais comercial e menos político
ÁLVARO FAGUNDES
DA REDAÇÃO
O setor exportador brasileiro
perdeu mais espaço no comércio com a América do Sul e o
México no ano passado. Com o
real valorizado e a forte concorrência chinesa, o pragmatismo
pesou mais do que a criação de
diversos fóruns regionais de integração nos últimos anos.
Com exceção da Colômbia e
do Uruguai, a participação das
vendas brasileiras caiu em todos esses países no ano passado
em relação a 2008, com quedas
que variaram de 1% a 20%. A
maior perda ocorreu nas transações com o Paraguai, 3,8 pontos percentuais, e a menor, nas
vendas à Argentina (terceiro
maior parceiro comercial do
país), de 0,6 ponto percentual.
Ainda que vários dos países
da região sejam pobres, a soma
das exportações brasileiras para eles não é nada desprezível.
No ano passado, apesar da perda de espaço, as vendas para
América do Sul e México (total
de dez países) representaram
19,4% do total exportado pelo
Brasil -o equivalente a
US$ 29,6 bilhões. Para ter uma
base de comparação, a participação da União Europeia, muito mais rica e com 27 países,
não foi muito maior: 22,3%.
Para Roberto Teixeira da
Costa, dirigente do Ceal (Conselho Empresarial da América
Latina), a situação é ainda mais
grave porque a região é o principal mercado das exportações
brasileiras de bens manufaturados e semimanufaturados
(que exigem maior elaboração
tecnológica). "É um mercado
extremamente valioso para o
país", disse o economista.
"O Brasil corre o risco, se não
ficarmos atentos, de se tornar
um grande produtor de commodities. Nada contra, mas não
é exatamente o que gostaríamos que o país fosse", afirma
Costa. Ele aponta o real valorizado, que encarece os produtos
brasileiros no exterior, como
um dos principais fatores para
o recuo na participação.
Renato Baumann, diretor da
Cepal (Comissão Econômica
para a América Latina e o Caribe) no Brasil, segue por um caminho semelhante. Ele, porém,
ressalta que a alta da moeda
tem pesos distintos para os setores. Segundo o especialista, o
real valorizado é "muito ruim"
para alguns segmentos, como
vestuário e calçados, que enfrentam forte concorrência
chinesa. "Para itens mais elaborados, como autopeças, as
coisas não ficam tão claras."
A China é outro ponto ressaltado pelos especialistas. Como
vem acontecendo desde o início da década, o país asiático,
maior exportador mundial,
continuou a conquistar espaço
no comércio latino-americano.
Na Venezuela, por exemplo, as
vendas chinesas passaram de
9,4% do total, em 2008, para
10,2%, em 2009, enquanto as
brasileiras caíram de 9% para
8,3% nesse mesmo período.
Baumann, da Cepal, cita ainda o excesso de barreiras no comércio regional. "São tantas
que as coisas não andam." Ele
afirma que os fóruns de integração na região -prioridade
da diplomacia do governo Lula,
com criação de centros de debate como a Unasul (União das
Nações Sul-Americanas)- têm
um "viés político muito forte".
Para ele, a região deveria seguir o exemplo dos países asiáticos, para quem, devido também a rixas regionais, esses fóruns são "business only". "São
muito pragmáticos, têm um
componente de complementaridade que nunca tivemos."
A retração nas exportações
brasileiras no ano passado também afetou a movimentação
dos portos no país, que tiveram
recuo de 4,6% ante 2008, na
primeira queda desde 1999.
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