|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NA CONTRAMÃO
Steinbruch diz que exportação levará a novos recordes em 99
"Vale e CSN terão lucro
maior apesar da recessão"
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
Os lucros recordes em 98 das ex-estatais Companhia Vale do Rio
Doce, de R$ 1,029 bilhão, e Companhia Siderúrgica Nacional, de R$
464,4 milhões, teriam sido, pelo
menos, 10% maiores não fossem as
dificuldades ocorridas no quarto
trimestre.
A afirmação é do empresário
Benjamin Steinbruch, 45, presidente dos conselhos de administração da Vale e da CSN.
Apesar da previsão oficial de
queda de 4% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano, Steinbruch
diz que os lucros da Vale e da CSN
baterão novos recordes em 99.
"Não gostaria de andar para trás",
afirma o empresário.
Segundo Steinbruch, o avanço
dessas empresas em 99 se dará pela
via da exportação: US$ 3 bilhões da
Vale e US$ 750 milhões da CSN. O
empresário disse que a Vale vai investir R$ 600 milhões e a CSN, R$
400 milhões neste ano.
A seguir, trechos da entrevista,
concedida por Benjamin Steinbruch à Folha, na manhã de sexta-feira, em seu escritório no bairro
paulistano de Higienópolis.
Folha - Qual é o segredo do sucesso da Vale e da CSN no turbulento ano de 98?
Benjamin Steinbruch - Os lucros
recordes dessas empresas em ano
de turbulência são o fruto da redução de custos por meio de medidas
objetivas no dia-a-dia dos negócios, da renegociação de contratos
com fornecedores e de investimentos para o aumento da produtividade. A redução de custos foi
muito mais significativa do que o
aumento da receita.
O nosso objetivo é dar a essas
empresas um nível de competitividade internacional porque nossos
principais concorrentes estão lá
fora. Se não fossem as dificuldades
do último trimestre do ano passado, o lucro teria sido ainda maior.
Folha - Quanto a mais?
Steinbruch - Pelo menos 10% a
mais tanto para a Vale quanto para
a CSN. No caso da Vale, o lucro do
quarto trimestre foi de R$ 252 milhões, com queda de 16% em relação ao mesmo período de 97. O último trimestre comprometeu os
resultados. Sem isso, poderiam ter
sido realmente espetaculares.
Folha - Quais são as perspectivas
para 99, um ano consensualmente
difícil para a economia brasileira?
Steinbruch - Não gostaria de andar para trás. No caso de uma empresa do porte da Vale, os acionistas esperam lucro de 12% do patrimônio líquido da empresa, o que
equivalia a R$ 1,165 bilhão no fim
do ano passado. Mas acredito que
o resultado vai ser melhor.
Folha - Qual será a estratégia?
Steinbruch - Estamos trabalhando fortemente para o aumento das
exportações, que representam
85% da receita da Vale, em dólares.
No caso da CSN, a meta é dobrar a
participação das exportações no
faturamento, de 20% para 40%,
neste ano. Estamos fazendo a nossa parte para aumentar as exportações, o que, aliás, vejo como a saída
para a economia brasileira. Mas o
governo precisa fazer a sua parte.
Folha - Como?
Steinbruch - Sempre acreditei no
governo, mas os empresários que
acreditaram no governo levaram
uma "goleada", em janeiro, quando a política cambial escapou do
controle e empobreceu abruptamente o país. Sabíamos que o câmbio teria de ser corrigido porque o
governo não fez o seu dever de casa, mas jogar na "retranca" agora
não é a solução. O governo deveria
ter feito uma profunda reforma na
Previdência Social para aumentar
a credibilidade do Plano Real. Mas
não adianta ser profeta do passado.
Folha - A queda de 4% no PIB
neste ano pode ser evitada?
Steinbruch - Admiro e respeito o
ministro Pedro Malan, mas fico
preocupado quando o gestor da
economia brasileira admite uma
queda de 4% do PIB. Obrigatoriamente, temos de ter uma política
econômica não-recessiva, de crescimento, de emprego, que nos devolva a auto-estima. Claro que o
governo não pode permitir a volta
da inflação e da indexação, mas, a
meu ver, o governo deveria incentivar os setores que possam servir
de instrumento para o crescimento sustentado da economia, entre
os quais os setores de mão-de-obra
intensiva, como a construção civil
e a agricultura e também o exportador.
Folha - Qual a avaliação que o sr.
faz do acordo com o FMI?
Steinbruch - Acho que estamos
pagando um preço alto pelos erros
da política econômica dos últimos
anos. Por causa da perda de credibilidade do Plano Real, o governo
tem hoje de trabalhar com taxas de
juros elevadas. E a falta de confiança no país provocou uma desvalorização excessivamente alta da taxa de câmbio. Enquanto a credibilidade não for restabelecida, o governo tem de jogar com essas variáveis. Tomara que seja por pouco
tempo, porque essa taxa de juro inviabiliza a atividade produtiva e a
criação de empregos.
Folha - Tendo conduzido duas
ex-estatais a lucros recordes, o sr.,
obviamente, é a favor da privatização da Petrobrás...
Steinbruch - Sou a favor da privatização em geral porque ela resolve
os problemas da gestão estatal de
atividades produtivas e gera impostos para o governo. A gestão estatal de atividades produtivas sofre
o problema básico da falta de flexibilidade para comprar e vender,
contratar e demitir, captar e aplicar, por exemplo. A entrada de
grandes empresas transnacionais
no Brasil inviabilizou as nossas estatais. Respeitando as suas características, sou a favor da privatização
da Petrobrás por etapas. Primeiro,
as subsidiárias e atividades periféricas dentro de um processo progressivo.
Folha - Depois de abiscoitar a
CSN e a Vale, o grupo Vicunha e
seus parceiros estariam interessados na Petrobrás?
Steinbruch - Temos hoje que trabalhar na consolidação dos nossos
investimentos na CSN e na Vale,
mas é claro que a Petrobrás nos
motiva muito por ser a maior empresa brasileira. Doeria muito no
coração ver a Petrobrás com uma
participação excessiva de capital
estrangeiro. Os grupos nacionais
hoje estão passando por um processo de consolidação. Precisamos
ter grupos empresariais nacionais
grandes, saudáveis e fortes para
que possam competir e representar o setor produtivo do país.
Para que isso aconteça, o governo precisa oferecer linhas de crédito, por meio do BNDES, por exemplo, para fortalecer o setor privado
brasileiro. E também fazer a reforma tributária para eliminar os impostos em cascata que incidem no
processo produtivo. O empresário
nacional não quer proteção ou
subsídio, quer igualdade de condições para competir.
Folha - O que a contratação do
embaixador Jório Dauster para o
cargo de presidente-executivo significa para o novo modelo de gestão da Vale?
Steinbruch - Apesar de ser uma
pessoa com pouca experiência no
setor privado, tenho certeza de que
Jório Dauster terá sucesso na sua
função de coordenar os esforços
para a transformação da Vale na
principal empresa transnacional
brasileira.
Texto Anterior: Impostos: Compensação da Cofins já está definida Próximo Texto: Crise social: Inflação atual pesa mais na baixa renda Índice
|