São Paulo, Domingo, 14 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NA CONTRAMÃO
Steinbruch diz que exportação levará a novos recordes em 99
"Vale e CSN terão lucro maior apesar da recessão"

ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local

Os lucros recordes em 98 das ex-estatais Companhia Vale do Rio Doce, de R$ 1,029 bilhão, e Companhia Siderúrgica Nacional, de R$ 464,4 milhões, teriam sido, pelo menos, 10% maiores não fossem as dificuldades ocorridas no quarto trimestre.
A afirmação é do empresário Benjamin Steinbruch, 45, presidente dos conselhos de administração da Vale e da CSN.
Apesar da previsão oficial de queda de 4% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano, Steinbruch diz que os lucros da Vale e da CSN baterão novos recordes em 99. "Não gostaria de andar para trás", afirma o empresário.
Segundo Steinbruch, o avanço dessas empresas em 99 se dará pela via da exportação: US$ 3 bilhões da Vale e US$ 750 milhões da CSN. O empresário disse que a Vale vai investir R$ 600 milhões e a CSN, R$ 400 milhões neste ano.
A seguir, trechos da entrevista, concedida por Benjamin Steinbruch à Folha, na manhã de sexta-feira, em seu escritório no bairro paulistano de Higienópolis.
Folha - Qual é o segredo do sucesso da Vale e da CSN no turbulento ano de 98?
Benjamin Steinbruch -
Os lucros recordes dessas empresas em ano de turbulência são o fruto da redução de custos por meio de medidas objetivas no dia-a-dia dos negócios, da renegociação de contratos com fornecedores e de investimentos para o aumento da produtividade. A redução de custos foi muito mais significativa do que o aumento da receita.
O nosso objetivo é dar a essas empresas um nível de competitividade internacional porque nossos principais concorrentes estão lá fora. Se não fossem as dificuldades do último trimestre do ano passado, o lucro teria sido ainda maior.
Folha - Quanto a mais?
Steinbruch -
Pelo menos 10% a mais tanto para a Vale quanto para a CSN. No caso da Vale, o lucro do quarto trimestre foi de R$ 252 milhões, com queda de 16% em relação ao mesmo período de 97. O último trimestre comprometeu os resultados. Sem isso, poderiam ter sido realmente espetaculares.
Folha - Quais são as perspectivas para 99, um ano consensualmente difícil para a economia brasileira?
Steinbruch -
Não gostaria de andar para trás. No caso de uma empresa do porte da Vale, os acionistas esperam lucro de 12% do patrimônio líquido da empresa, o que equivalia a R$ 1,165 bilhão no fim do ano passado. Mas acredito que o resultado vai ser melhor.
Folha - Qual será a estratégia?
Steinbruch -
Estamos trabalhando fortemente para o aumento das exportações, que representam 85% da receita da Vale, em dólares. No caso da CSN, a meta é dobrar a participação das exportações no faturamento, de 20% para 40%, neste ano. Estamos fazendo a nossa parte para aumentar as exportações, o que, aliás, vejo como a saída para a economia brasileira. Mas o governo precisa fazer a sua parte.
Folha - Como?
Steinbruch -
Sempre acreditei no governo, mas os empresários que acreditaram no governo levaram uma "goleada", em janeiro, quando a política cambial escapou do controle e empobreceu abruptamente o país. Sabíamos que o câmbio teria de ser corrigido porque o governo não fez o seu dever de casa, mas jogar na "retranca" agora não é a solução. O governo deveria ter feito uma profunda reforma na Previdência Social para aumentar a credibilidade do Plano Real. Mas não adianta ser profeta do passado.
Folha - A queda de 4% no PIB neste ano pode ser evitada?
Steinbruch -
Admiro e respeito o ministro Pedro Malan, mas fico preocupado quando o gestor da economia brasileira admite uma queda de 4% do PIB. Obrigatoriamente, temos de ter uma política econômica não-recessiva, de crescimento, de emprego, que nos devolva a auto-estima. Claro que o governo não pode permitir a volta da inflação e da indexação, mas, a meu ver, o governo deveria incentivar os setores que possam servir de instrumento para o crescimento sustentado da economia, entre os quais os setores de mão-de-obra intensiva, como a construção civil e a agricultura e também o exportador.
Folha - Qual a avaliação que o sr. faz do acordo com o FMI?
Steinbruch -
Acho que estamos pagando um preço alto pelos erros da política econômica dos últimos anos. Por causa da perda de credibilidade do Plano Real, o governo tem hoje de trabalhar com taxas de juros elevadas. E a falta de confiança no país provocou uma desvalorização excessivamente alta da taxa de câmbio. Enquanto a credibilidade não for restabelecida, o governo tem de jogar com essas variáveis. Tomara que seja por pouco tempo, porque essa taxa de juro inviabiliza a atividade produtiva e a criação de empregos.
Folha - Tendo conduzido duas ex-estatais a lucros recordes, o sr., obviamente, é a favor da privatização da Petrobrás...
Steinbruch -
Sou a favor da privatização em geral porque ela resolve os problemas da gestão estatal de atividades produtivas e gera impostos para o governo. A gestão estatal de atividades produtivas sofre o problema básico da falta de flexibilidade para comprar e vender, contratar e demitir, captar e aplicar, por exemplo. A entrada de grandes empresas transnacionais no Brasil inviabilizou as nossas estatais. Respeitando as suas características, sou a favor da privatização da Petrobrás por etapas. Primeiro, as subsidiárias e atividades periféricas dentro de um processo progressivo.
Folha - Depois de abiscoitar a CSN e a Vale, o grupo Vicunha e seus parceiros estariam interessados na Petrobrás?
Steinbruch -
Temos hoje que trabalhar na consolidação dos nossos investimentos na CSN e na Vale, mas é claro que a Petrobrás nos motiva muito por ser a maior empresa brasileira. Doeria muito no coração ver a Petrobrás com uma participação excessiva de capital estrangeiro. Os grupos nacionais hoje estão passando por um processo de consolidação. Precisamos ter grupos empresariais nacionais grandes, saudáveis e fortes para que possam competir e representar o setor produtivo do país.
Para que isso aconteça, o governo precisa oferecer linhas de crédito, por meio do BNDES, por exemplo, para fortalecer o setor privado brasileiro. E também fazer a reforma tributária para eliminar os impostos em cascata que incidem no processo produtivo. O empresário nacional não quer proteção ou subsídio, quer igualdade de condições para competir.
Folha - O que a contratação do embaixador Jório Dauster para o cargo de presidente-executivo significa para o novo modelo de gestão da Vale?
Steinbruch -
Apesar de ser uma pessoa com pouca experiência no setor privado, tenho certeza de que Jório Dauster terá sucesso na sua função de coordenar os esforços para a transformação da Vale na principal empresa transnacional brasileira.


Texto Anterior: Impostos: Compensação da Cofins já está definida
Próximo Texto: Crise social: Inflação atual pesa mais na baixa renda
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.