São Paulo, sábado, 14 de abril de 2001

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TELECOMUNICAÇÕES

Estratégia foi utilizada para que a companhia pudesse disputar leilão de licenças de telefonia celular

Opportunity criou empresa a fim de "enganar" sócios

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Um dia antes da entrega das propostas para os leilões das novas licenças de telefonia celular (bandas C, D e E), em janeiro deste ano, os representantes do Opportunity no conselho de administração da Brasil Telecom tentaram ""enganar" os sócios, que criavam obstáculos à participação da empresa no leilão.
Sem o conhecimento da Telecom Italia e dos fundos de pensão -que estão em guerra com ele há quase dois anos-, o Opportunity autorizou a tele a disputar uma licença para a área 2 (regiões Sul e Centro-Oeste) como acionista minoritária da desconhecida Serranby Participações.
A Serranby é uma empresa do Opportunity. A Brasil Telecom teria 19,9% do capital com direito a voto da empresa, mas assumiria a responsabilidade pelo pagamento da licença (caso vencesse o leilão) e pela construção da rede.
A operação foi autorizada pelos representantes do Opportunity na reunião do conselho de administração da Brasil Telecom do dia 23 de janeiro.
O assunto não estava na pauta e foi colocado em votação depois que os representantes da Telecom Italia se retiraram. Os representantes dos fundos de pensão não estavam na reunião.
O episódio Serranby abriu mais um foco de conflito entre os acionistas da Brasil Telecom e tornou ainda mais difícil o entendimento entre a Telecom Italia e o Opportunity, que fazem parte do bloco de controle da tele.
Os dois sócios estão em guerra pelo controle da Brasil Telecom. Anteontem, o Opportunity -que tem a gestão da tele e a maioria de votos no conselho de administração- conseguiu aprovar em assembléia de acionistas a proposta de afastamento dos dois representantes da Telecom Italia no conselho de administração da Brasil Telecom: Carmelo Furci e Marco Girardi.
Além do afastamento, foi aprovada uma ação judicial de responsabilidade civil contra os dois executivos por supostos prejuízos causados à tele.
A decisão da assembléia foi suspensa temporariamente por liminar do Tribunal de Justiça de Brasília.
A Telecom Italia, que tem 38% da holding Solpart (controladora da Brasil Telecom), afirma que só teve acesso à ata da assembléia que aprovou a associação com a Serranby no início de março, por notificação extrajudicial registrada em cartório.
""A ata foi mantida em sigilo por mais de um mês", afirmou à Folha o porta-voz da Telecom Italia para assuntos internacionais, Bruno Contingiani.
A Serranby apresentou propostas para os três leilões de celular (bandas C, D e E), mas o Opportunity acabou desistindo da estratégia e retirou tanto as propostas entregues para compra de licenças registradas em nome da Brasil Telecom quanto as da Serranby.
A tele não conseguiu participar dos leilões e, segundo avaliação de especialistas, teria ficado definitivamente fora do mercado de telefonia celular, para prejuízo de todos os acionistas da empresa.
O presidente do conselho de administração da Brasil Telecom Participações, Luiz Octávio da Motta Veiga, admitiu que a associação com a Serranby foi uma tentativa de ""baipassar" (adaptação da expressão inglesa ""bypass", que significa contornar) a estratégia da Telecom Italia no conselho.
Segundo ele, existe conflito de interesses entre a Brasil Telecom e o grupo italiano. A TIM (Telecom Italia Mobile), subsidiária da Telecom Italia, também disputou os leilões das bandas D e E e comprou licenças que lhe permitirão prestar o serviço celular em todo o país.
Motta Veiga afirma que a Telecom Italia teria feito exigências que impediram a participação da Brasil Telecom nos leilões.
O porta-voz do grupo italiano contesta a afirmação e diz que os representantes da empresa aprovaram a proposta de participação da Brasil Telecom nos leilões que foi encaminhada pelos executivos indicados pelo Opportunity.


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