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TELECOMUNICAÇÕES
Estratégia foi utilizada para que a companhia pudesse disputar leilão de licenças de telefonia celular
Opportunity criou empresa a fim de "enganar" sócios
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Um dia antes da entrega das
propostas para os leilões das novas licenças de telefonia celular
(bandas C, D e E), em janeiro deste ano, os representantes do Opportunity no conselho de administração da Brasil Telecom tentaram ""enganar" os sócios, que
criavam obstáculos à participação
da empresa no leilão.
Sem o conhecimento da Telecom Italia e dos fundos de pensão
-que estão em guerra com ele há
quase dois anos-, o Opportunity
autorizou a tele a disputar uma licença para a área 2 (regiões Sul e
Centro-Oeste) como acionista
minoritária da desconhecida Serranby Participações.
A Serranby é uma empresa do
Opportunity. A Brasil Telecom teria 19,9% do capital com direito a
voto da empresa, mas assumiria a
responsabilidade pelo pagamento
da licença (caso vencesse o leilão)
e pela construção da rede.
A operação foi autorizada pelos
representantes do Opportunity
na reunião do conselho de administração da Brasil Telecom do
dia 23 de janeiro.
O assunto não estava na pauta e
foi colocado em votação depois
que os representantes da Telecom
Italia se retiraram. Os representantes dos fundos de pensão não
estavam na reunião.
O episódio Serranby abriu mais
um foco de conflito entre os acionistas da Brasil Telecom e tornou
ainda mais difícil o entendimento
entre a Telecom Italia e o Opportunity, que fazem parte do bloco
de controle da tele.
Os dois sócios estão em guerra
pelo controle da Brasil Telecom.
Anteontem, o Opportunity -que
tem a gestão da tele e a maioria de
votos no conselho de administração- conseguiu aprovar em assembléia de acionistas a proposta
de afastamento dos dois representantes da Telecom Italia no
conselho de administração da
Brasil Telecom: Carmelo Furci e
Marco Girardi.
Além do afastamento, foi aprovada uma ação judicial de responsabilidade civil contra os dois executivos por supostos prejuízos
causados à tele.
A decisão da assembléia foi suspensa temporariamente por liminar do Tribunal de Justiça de Brasília.
A Telecom Italia, que tem 38%
da holding Solpart (controladora
da Brasil Telecom), afirma que só
teve acesso à ata da assembléia
que aprovou a associação com a
Serranby no início de março, por
notificação extrajudicial registrada em cartório.
""A ata foi mantida em sigilo por
mais de um mês", afirmou à Folha o porta-voz da Telecom Italia
para assuntos internacionais,
Bruno Contingiani.
A Serranby apresentou propostas para os três leilões de celular
(bandas C, D e E), mas o Opportunity acabou desistindo da estratégia e retirou tanto as propostas
entregues para compra de licenças registradas em nome da Brasil
Telecom quanto as da Serranby.
A tele não conseguiu participar
dos leilões e, segundo avaliação de
especialistas, teria ficado definitivamente fora do mercado de telefonia celular, para prejuízo de todos os acionistas da empresa.
O presidente do conselho de administração da Brasil Telecom
Participações, Luiz Octávio da
Motta Veiga, admitiu que a associação com a Serranby foi uma
tentativa de ""baipassar" (adaptação da expressão inglesa
""bypass", que significa contornar) a estratégia da Telecom Italia
no conselho.
Segundo ele, existe conflito de
interesses entre a Brasil Telecom e
o grupo italiano. A TIM (Telecom
Italia Mobile), subsidiária da Telecom Italia, também disputou os
leilões das bandas D e E e comprou licenças que lhe permitirão
prestar o serviço celular em todo o
país.
Motta Veiga afirma que a Telecom Italia teria feito exigências
que impediram a participação da
Brasil Telecom nos leilões.
O porta-voz do grupo italiano
contesta a afirmação e diz que os
representantes da empresa aprovaram a proposta de participação
da Brasil Telecom nos leilões que
foi encaminhada pelos executivos
indicados pelo Opportunity.
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