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OPINIÃO ECONÔMICA
A agenda abandonada
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
O leitor desta coluna tem
acompanhado meus pensamentos sobre as mudanças estruturais que vêm ocorrendo na
economia do Brasil. Sabe que associo esse processo ao rumo que o
presidente Fernando Henrique
Cardoso definiu no início de seu
mandato presidencial. Foi ele o
responsável pelo fim da longa
noite inflacionária que tomou
conta de nosso país e que nos impedia de crescer e de andar em
frente.
Mas a maior contribuição do
ex-presidente foi o projeto de inserir-nos, de forma organizada,
no mundo global que se consolida como paradigma para as economias de mercado. Deixava-se
para trás o projeto de basear nosso crescimento econômico em
um modelo de economia fechada
e com uma forte presença do Estado. Modelo retrógrado, aliás,
que sempre baseou o discurso
histórico do PT e seus aliados. Essa definição estratégica está na
origem das mudanças que vêm
ocorrendo e que hoje têm a aprovação, ainda que envergonhada,
do presidente Lula e de seu destroçado partido político.
Como toda decisão de natureza estratégica, a abertura da economia impõe aos governantes
uma agenda de decisões para
que os resultados sejam os mais
favoráveis possíveis. Infelizmente, algumas ações, de natureza
tática, no período FHC não seguiram o caminho mais racional
e eficiente que se abria para nosso país. As crises internacionais
de 1997 e 1998 amplificaram esses erros e retardaram os benefícios do ajuste econômico feito no
primeiro mandato. Com isso,
abriu-se caminho para que o hoje presidente Lula ganhasse as
eleições de 2002 com um discurso
violento contra o rumo dado por
FHC.
Felizmente, para todos nós, Lula não alterou os marcos estratégicos herdados de seu antecessor
e manteve uma certa racionalidade no dia-a-dia da gestão macroeconômica. Entretanto, deixou de lado a agenda de mudanças que deveriam levar nosso
país a continuar seu caminho na
busca de uma economia mais
forte. Teve a sorte de ver o crescimento mundial dos últimos anos
permitir uma primeira colheita
farta das sementes semeadas por
seu antecessor. A melhora de
nossa balança de pagamentos,
com a solução quase definitiva
da fragilidade externa construída anos atrás, foi o maior fruto
dessa colheita.
Mas um item fundamental
dessa agenda herdada foi deixado de lado: a questão fiscal. Com
a parte externa equacionada e o
controle do choque inflacionário
do segundo semestre de 2002 absorvido pela ação dura do Banco
Central, o governo deveria estar
agindo no sentido de equilibrar o
Orçamento fiscal e reduzir uma
carga tributária muito elevada.
Porém, em vez disso, percorreu o
caminho perverso, mas fácil, do
aumento de gastos de consumo
financiado pela elevação dos impostos e tributos. Com isso, afastou-se de um dos pontos mais
importantes da estratégia de longo prazo de FHC: a convergência
macroeconômica com o mundo
global.
Para compensar o aumento de
gastos correntes e manter a ficção do chamado superávit primário, o governo reduziu os investimentos públicos a níveis insustentavelmente baixos e continuou aumentando a carga fiscal.
Por outro lado, a paralisia no
processo de reformas, principalmente da Previdência Social, colocou mais lenha na fogueira do
desequilíbrio das contas públicas
do governo federal. E, last but
not least, os aumentos expressivos do salário mínimo e dos benefícios da Previdência criaram
uma rigidez ainda maior nos
gastos chamados sociais. Com isso, está comprometendo nosso
futuro como economia dinâmica
e geradora de renda para nós,
brasileiros.
Espera-se que o novo presidente, a ser eleito em outubro próximo, retome essa agenda esquecida por Lula e continue no caminho da convergência macroeconômica e das reformas.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 63,
engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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