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FMI recomenda restrição a capital externo
Para o Fundo, forte ingresso de dólares em alguns países, como o Brasil, pode gerar "bolhas" e apreciar moeda local em excesso
Diagnóstico é que dinheiro
público direcionado ao
mundo desenvolvido "vaza"
com força para emergentes,
potencializando distorções
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O FMI (Fundo Monetário
Internacional) recomendou
aos países que se tornaram alvo
de fortes ingressos de dólares,
como o Brasil, que considerem
adotar medidas para restringir
essa entrada de capitais.
A defesa aberta do Fundo a
esse tipo de medida é inédita,
contraria a opinião de muitos
economistas ortodoxos e foi
feita na apresentação de parte
do "Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global".
Para o FMI, o ingresso "excessivo" de dólares em alguns
países pode gerar "bolhas" nos
preços de alguns ativos (como
ações e imóveis) e apreciar
além da conta a moeda local,
afetando os exportadores.
O diagnóstico é que a enxurrada de dinheiro público e dos
BCs direcionada aos mercados
do mundo desenvolvido a partir da crise de 2008 "vaza" com
força para os emergentes, potencializando distorções.
Nos países avançados, além
de os BCs terem elevado muito
a oferta de dinheiro no mercado, a taxa de juro por eles praticada é hoje em muitos casos negativa (menor que a inflação).
O investidor que tem acesso a
esse dinheiro barato dos BCs
procura alternativas de ganhos
fora de seus países. Nos EUA,
pode captar dólares a custo
perto de zero e receber remuneração próxima a 8% ao ano
em um país como o Brasil.
"O grande risco é ocorrer
uma reversão abrupta desses
fluxos de capital especulativos", diz Effie Psalida, uma das
autoras do relatório do Fundo.
Normalmente, o controle de
capital é uma medida que onera
a entrada de dólares em um
país com impostos ou que impõe um prazo mínimo para que
o dinheiro fique aplicado, reduzindo o risco de saídas violentas de capital estrangeiro.
Outra sugestão do FMI para
tentar neutralizar o efeito de
ingresso exagerado de dólares é
acumular reservas. O expediente vem sendo adotado pelo
BC brasileiro, mas ainda assim
o dólar tem se desvalorizado.
As Bolsas dos mercados
emergentes, em especial a do
Brasil, têm subido nos últimos
meses impulsionadas por essa
entrada de dólares.
A contrapartida é que a cotação da moeda continua pressionada para baixo por conta dessa oferta de dólares, o que reduz o ganho dos exportadores.
Com a inflação em alta nas
últimas semanas, a expectativa
é que o BC brasileiro comece a
aumentar a taxa de juros para
conter a atividade econômica.
Isso deve estimular ainda
mais investidores internacionais a investir em papéis do Tesouro brasileiro (que oferecem
remuneração maior que a dos
títulos norte-americanos).
A especialista em economia
internacional Alessandra Ribeiro, da Tendências, discorda
da sugestão do Fundo. "A maior
parte dos dólares que entra no
Brasil hoje é de investimentos
produtivos ou para financiamento de empresas. São capitais de longo prazo", diz.
Para Sidnei Nehme, diretor-executivo da corretora de câmbio NGO, a recomendação do
FMI pode conter uma "espécie
de armadilha".
"Parece haver um interesse
dos países desenvolvidos [que
controlam na prática o FMI]
em querer segurar esse capital
em seus próprios mercados."
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