São Paulo, quarta-feira, 14 de abril de 2010

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FMI recomenda restrição a capital externo

Para o Fundo, forte ingresso de dólares em alguns países, como o Brasil, pode gerar "bolhas" e apreciar moeda local em excesso

Diagnóstico é que dinheiro público direcionado ao mundo desenvolvido "vaza" com força para emergentes, potencializando distorções

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O FMI (Fundo Monetário Internacional) recomendou aos países que se tornaram alvo de fortes ingressos de dólares, como o Brasil, que considerem adotar medidas para restringir essa entrada de capitais.
A defesa aberta do Fundo a esse tipo de medida é inédita, contraria a opinião de muitos economistas ortodoxos e foi feita na apresentação de parte do "Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global".
Para o FMI, o ingresso "excessivo" de dólares em alguns países pode gerar "bolhas" nos preços de alguns ativos (como ações e imóveis) e apreciar além da conta a moeda local, afetando os exportadores.
O diagnóstico é que a enxurrada de dinheiro público e dos BCs direcionada aos mercados do mundo desenvolvido a partir da crise de 2008 "vaza" com força para os emergentes, potencializando distorções.
Nos países avançados, além de os BCs terem elevado muito a oferta de dinheiro no mercado, a taxa de juro por eles praticada é hoje em muitos casos negativa (menor que a inflação).
O investidor que tem acesso a esse dinheiro barato dos BCs procura alternativas de ganhos fora de seus países. Nos EUA, pode captar dólares a custo perto de zero e receber remuneração próxima a 8% ao ano em um país como o Brasil.
"O grande risco é ocorrer uma reversão abrupta desses fluxos de capital especulativos", diz Effie Psalida, uma das autoras do relatório do Fundo.
Normalmente, o controle de capital é uma medida que onera a entrada de dólares em um país com impostos ou que impõe um prazo mínimo para que o dinheiro fique aplicado, reduzindo o risco de saídas violentas de capital estrangeiro.
Outra sugestão do FMI para tentar neutralizar o efeito de ingresso exagerado de dólares é acumular reservas. O expediente vem sendo adotado pelo BC brasileiro, mas ainda assim o dólar tem se desvalorizado.
As Bolsas dos mercados emergentes, em especial a do Brasil, têm subido nos últimos meses impulsionadas por essa entrada de dólares.
A contrapartida é que a cotação da moeda continua pressionada para baixo por conta dessa oferta de dólares, o que reduz o ganho dos exportadores.
Com a inflação em alta nas últimas semanas, a expectativa é que o BC brasileiro comece a aumentar a taxa de juros para conter a atividade econômica.
Isso deve estimular ainda mais investidores internacionais a investir em papéis do Tesouro brasileiro (que oferecem remuneração maior que a dos títulos norte-americanos).
A especialista em economia internacional Alessandra Ribeiro, da Tendências, discorda da sugestão do Fundo. "A maior parte dos dólares que entra no Brasil hoje é de investimentos produtivos ou para financiamento de empresas. São capitais de longo prazo", diz.
Para Sidnei Nehme, diretor-executivo da corretora de câmbio NGO, a recomendação do FMI pode conter uma "espécie de armadilha".
"Parece haver um interesse dos países desenvolvidos [que controlam na prática o FMI] em querer segurar esse capital em seus próprios mercados."


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