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MERCADOS
Risco-país também sobe; operadores atribuem alta à procura por hedge e a pagamento de dívida privada no exterior
Dólar tem a maior cotação em seis meses
ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL
O dólar subiu 2,1% ontem e encerrou o dia a R$ 2,521. É a maior
cotação da moeda americana em
seis meses. Não registrava alta tão
forte em apenas um dia também
desde novembro de 2001.
Não houve novidades no noticiário que justificassem a valorização. Operadores afirmaram
que nesta semana há grande concentração de vencimentos de parcelas de dívida externa privada, o
que estimula a pressão de alta sobre a moeda.
"Não há notícia de ingressos de
moeda americana, apenas de saída", diz Guilherme da Nóbrega,
economista-chefe do banco Fibra.
Apenas para ontem falava-se
em uma saída de US$ 300 milhões
a US$ 400 milhões em pagamentos de parcelas de dívidas de empresas que não seriam renovadas.
Para a sexta-feira, estão previstos
vencimentos superiores a US$
800 milhões.
O cenário político, com a especulação acerca de pesquisas de intenção de voto que devem ser divulgadas nesta semana, também
pressiona o desempenho dos indicadores financeiros.
Os C-Bonds, títulos da dívida
externa brasileira e um termômetro do humor dos investidores estrangeiros em relação ao país, caíram 2,1%. O risco-país, medido
pelo JP Morgan, subiu 2,96%, para 973 pontos, também o mais alto em seis meses. A Bolsa paulista
fechou em baixa de 1,05%.
A busca por "hedge" (proteção
cambial) permanece. Empresas e
investidores realizam essas operações para impedir que suas dívidas na moeda americana disparem, por conta da alta das cotações. A valorização do dólar traz,
ainda, o temor de que a dívida interna do governo dispare
-28,7% dela é corrigida pela variação cambial.
A situação fiscal do Brasil também acionou o sinal amarelo em
relação ao país. O atraso na aprovação da CPMF (Contribuição
Provisória sobre Movimentação
Financeira) trará perdas para a arrecadação brasileira.
"A parte fiscal de um país é seu
calcanhar-de-aquiles", afirma
Marcelo Schmitt, do banco
Lloyds TSB. "Além dessa fragilidade, há uma chance real de a
oposição ganhar a eleição. O mercado está numa fase de aversão a
qualquer risco e, em momentos
assim, qualquer pequena notícia é
superdimensionada", diz.
Além da incerteza política de
um ano eleitoral, a economia brasileira dá sinais de enfraquecimento. A atividade industrial caiu
em abril pela primeira vez desde
outubro do ano passado. A renda
dos trabalhadores também está
em baixa. No primeiro trimestre
deste ano, o volume de operações
de crédito subiu apenas 2,3%. No
ano passado houve crescimento
de 10,6% no período.
O mercado voltou a especular
ontem que as pesquisas eleitorais
mostrarão uma piora do desempenho do pré-candidato José Serra (PSDB) na preferência do eleitorado.
Serra é, em princípio, o candidato do mercado. Por pertencer
ao mesmo partido do presidente
da República, ele representa a
continuidade da atual política
econômica.
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