São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 2002

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MERCADOS

Risco-país também sobe; operadores atribuem alta à procura por hedge e a pagamento de dívida privada no exterior

Dólar tem a maior cotação em seis meses

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

O dólar subiu 2,1% ontem e encerrou o dia a R$ 2,521. É a maior cotação da moeda americana em seis meses. Não registrava alta tão forte em apenas um dia também desde novembro de 2001.
Não houve novidades no noticiário que justificassem a valorização. Operadores afirmaram que nesta semana há grande concentração de vencimentos de parcelas de dívida externa privada, o que estimula a pressão de alta sobre a moeda.
"Não há notícia de ingressos de moeda americana, apenas de saída", diz Guilherme da Nóbrega, economista-chefe do banco Fibra.
Apenas para ontem falava-se em uma saída de US$ 300 milhões a US$ 400 milhões em pagamentos de parcelas de dívidas de empresas que não seriam renovadas. Para a sexta-feira, estão previstos vencimentos superiores a US$ 800 milhões.
O cenário político, com a especulação acerca de pesquisas de intenção de voto que devem ser divulgadas nesta semana, também pressiona o desempenho dos indicadores financeiros.
Os C-Bonds, títulos da dívida externa brasileira e um termômetro do humor dos investidores estrangeiros em relação ao país, caíram 2,1%. O risco-país, medido pelo JP Morgan, subiu 2,96%, para 973 pontos, também o mais alto em seis meses. A Bolsa paulista fechou em baixa de 1,05%.
A busca por "hedge" (proteção cambial) permanece. Empresas e investidores realizam essas operações para impedir que suas dívidas na moeda americana disparem, por conta da alta das cotações. A valorização do dólar traz, ainda, o temor de que a dívida interna do governo dispare -28,7% dela é corrigida pela variação cambial.
A situação fiscal do Brasil também acionou o sinal amarelo em relação ao país. O atraso na aprovação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) trará perdas para a arrecadação brasileira.
"A parte fiscal de um país é seu calcanhar-de-aquiles", afirma Marcelo Schmitt, do banco Lloyds TSB. "Além dessa fragilidade, há uma chance real de a oposição ganhar a eleição. O mercado está numa fase de aversão a qualquer risco e, em momentos assim, qualquer pequena notícia é superdimensionada", diz.
Além da incerteza política de um ano eleitoral, a economia brasileira dá sinais de enfraquecimento. A atividade industrial caiu em abril pela primeira vez desde outubro do ano passado. A renda dos trabalhadores também está em baixa. No primeiro trimestre deste ano, o volume de operações de crédito subiu apenas 2,3%. No ano passado houve crescimento de 10,6% no período.
O mercado voltou a especular ontem que as pesquisas eleitorais mostrarão uma piora do desempenho do pré-candidato José Serra (PSDB) na preferência do eleitorado.
Serra é, em princípio, o candidato do mercado. Por pertencer ao mesmo partido do presidente da República, ele representa a continuidade da atual política econômica.



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