|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AGROFOLHA
POLÊMICA
Mesmo proibida por lei, área plantada com grãos modificados cresce rapidamente e deve ser dominante em cinco anos
Soja transgênica se espalha pelo Brasil
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O cultivo de soja transgênica, apesar de ilegal, já é uma realidade nas lavouras brasileiras.
Segundo estimativas do engenheiro agrônomo Luiz Antonio
Barreto de Castro, chefe da unidade de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) dentro de cinco anos a soja transgênica será uma cultura dominante.
"Dois terços da produção gaúcha e quase 10% das lavouras do
Brasil -cerca de três milhões de hectares- já são constituídas por
soja transgênica. E essa participação vai crescer muito nos próximos anos", declara o pesquisador.
A soja transgênica já estaria espalhada em várias propriedades
do país, misturada à soja tradicional, sem que seja possível diferenciar um pé do outro apenas pela
aparência das plantas.
Segundo a assessoria do Ministério da Agricultura, os dados
apresentados pelo pesquisador
refletem o posicionamento da entidade para o assunto.
Cálculos do presidente da Associação Brasileira de Produtores de
Soja (Aprosoja), Ywao Miyamoto
chegam ao mesmos três milhões
de hectares de soja transgênica
mencionados por Barreto.
Segundo Miyamoto, a maior incidência do cultivo do produto seria no Rio Grande do Sul, onde
70% das lavouras, ou seja, 2,25
milhões de hectares de soja estariam destinadas ao plantio do material geneticamente modificado.
No Paraná, segundo maior produtor do país, a porcentagem seria de 15%, (450 mil hectares).
Estatísticas oficiais do Estado
indicam que 0,02% dos hectares
de soja do Paraná seria transgênico. Entretanto o número pode ser
maior, já que a somente as plantações denunciadas pelo Ministério
Público podem ser vistoriadas.
Embora não confirme os números expressivos divulgados por
Miyamoto, as recentes apreensões de 700 hectares de lavouras
transgênicas no Paraná preocupam as autoridades locais.
Os dados da Aprosoja foram
contestados pelo engenheiro
agrônomo da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento)
Marco Antonio Carvalho. Para
ele, esses valores estariam superestimados e seriam fruto de aspirações pessoais de grupos interessados na eventual liberalização do
cultivo de transgênicos no país.
As estimativas também foram
rechaçadas pela Federação de
Agricultura do Mato Grosso do
Sul e pelo secretário adjunto de
Agricultura do Mato Grosso, Heitor David Medeiros. Segundo o
secretário, nunca houve apreensões de transgênicos no Estado.
Se não há consenso a respeito
do número total de hectares de
soja transgênica no Brasil, em relação ao Rio Grande do Sul fontes
diferentes apontam para o mesmo valor: 1 milhão de hectares, ou
seja, um terço da área de soja no
Estado seria de transgênicos.
Para chegar a esse valor, o chefe
geral da Embrapa Trigo Passo
Fundo (RS), Benami Bacltchuk
baseia seus cálculos nos dados de
compra de sementes no Estado.
Segundo Bacltchuk, tradicionalmente cerca de 40% dos produtores de soja do Rio Grande do
Sul, o que corresponde a aproximadamente 1 milhão de hectares,
não compram sementes certificadas e fiscalizadas. Logo, esse seria
o número máximo de hectares
cultivados de soja modificada.
O secretário de Agricultura do
Rio Grande do Sul, Angelo Menegat, afirma que a Companhia de
Silos e Armazéns do Estado (Cesa) só estoca grãos comprovadamente não-transgênicos.
Mercado negro
A possível origem dos grãos
transgênicos que chegam às lavouras brasileiras seria a Argentina, onde o cultivo de transgênicos
é permitido. Para Barreto, "é claro
que as sementes só podem entrar
no país contrabandeadas".
A hipótese é corroborada pelo
levantamento realizado pelo professor da Universidade Federal de
Santa Catarina Rubens Nodari e
pelo professor Deonisio Destro da
Universidade de Londrina.
Os agricultores da região de Palmeira das Missões (RS) ouvidos
pela pesquisa afirmam que compraram os grãos em caminhões
clandestinos que circulariam por
estradas no sul do país.
Graças a essa origem, uma das
variedades de soja transgênica encontrada nas lavouras foi batizada
pelos sojicultores de Mercedes 70.
Segundo o delegado chefe da
Polícia Federal de Santa Maria
(RS), Ildo Gasparetto, que comandou a queima de 25 toneladas
de soja transgênico em outubro
de 2001, até o momento não foi
apreendido nenhum caminhão
transportando o produto contrabandeado.
Para o delegado, o contrabando
não seria mais a principal fonte de
fornecimento de grãos transgênicos no Brasil. Eles já estariam sendo produzidos aqui e comercializados entre os sojicultores.
Essa opinião é partilhada pelo
presidente da Aprosoja, que afirma que no "mercado negro" o
preço das sementes contrabandeadas chega a custar o dobro do
produto convencional, cujo saco
de 50 Kg fica em torno de R$ 12.
Nodari alerta que a soja transgênica, não adaptada ao clima e território brasileiros pode se disseminar, apesar de sua baixa produtividade.
Texto Anterior: Financiamento: BNDES faz mais empréstimos no início de 2002 Próximo Texto: Espécie nasce com mistura genética Índice
|