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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Instalação de siderúrgica em MS pode gerar desmatamento, diz especialista; grupo sofre proibição na Bolívia
EBX traz risco ambiental, aponta parecer
EDUARDO DE OLIVEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA
O Eia-Rima (Estudo e Relatório
de Impacto Ambiental) do projeto para a instalação da siderúrgica
EBX em Corumbá (400 km de
Campo Grande, MS) não especifica qual será a fonte do carvão vegetal a ser usado nos fornos que
processam a purificação do minério de ferro. Isso deverá acelerar o
processo de desmatamento no
Pantanal.
A opinião é de Sônia Hess, pós-doutora em química e pesquisadora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul),
após análise do relatório. Ela emitiu parecer que auxilia as investigações dos Ministérios Públicos
Estadual e Federal.
A pesquisadora afirma que a
oferta de carvão vegetal de áreas
de reflorestamento em Mato
Grosso do Sul não dá conta do volume a ser consumido pela EBX,
estimado pela empresa em cerca
de 225 mil toneladas por ano.
Atualmente, a maior parte da
produção de carvão é comercializada com siderúrgicas no Estado
e de Minas Gerais.
Em novembro passado, a Folha
publicou reportagem em que revelou que carvoarias ilegais avançam para dentro do Pantanal,
derrubando a mata para transformá-la em carvão.
Segundo a ONG Conservation
International, a vegetação de cerca de 16 mil km2 do Pantanal sul-mato-grossense havia sido desmatada até o ano retrasado (dado
mais atualizado). Pelo ritmo, a organização concluiu que em 45
anos a cobertura florestal original
da região terá desaparecido.
Outro problema no relatório
apontado pela pesquisadora diz
respeito à poluição atmosférica e
seus efeitos sobre a saúde humana, da fauna e flora, numa área
dentro do Pantanal.
Ela afirma que a EBX não especificou a quantidade de lançamento de óxidos de nitrogênio.
Falhas graves
Por último, Hess viu contradição em trechos que tratam do fornecimento de água para a usina.
Um dos tópicos registra que sairá da perfuração de poços artesianos, apesar de outro concluir que,
"devido à pouca permeabilidade
do solo argiloso, não foi encontrado lençol freático único".
"Minha análise demonstra que
o Rima contém falhas graves, que
inviabilizam uma real avaliação
dos impactos ambientais e sociais
associados à implantação do empreendimento", concluiu a pesquisadora no seu parecer.
No início de abril, o governo boliviano proibiu uma outra siderúrgica do grupo EBX, do empresário Eike Batista, de funcionar
em Puerto Quijarro (a 15 km de
Corumbá).
O governo Evo Morales alegou
que a empresa não tinha licença
ambiental e estava em território
boliviano na faixa de 50 km da
fronteira -infringindo o artigo
25 da Constituição do país.
Isso desencadeou uma greve
que paralisou parcial ou totalmente 16 cidades na fronteira entre Bolívia e Brasil contra a expulsão da siderúrgica do vizinho e
confronto entre favoráveis e contrários à decisão de Morales.
A instalação de uma siderúrgica
no lado brasileiro conta com o
apoio do governador de Mato
Grosso do Sul, Zeca do PT, e do
correligionário e prefeito de Corumbá, Ruiter de Oliveira. Corumbá é a principal cidade dentro
do Pantanal sul-mato-grossense.
Há duas semanas houve a primeira audiência pública na cidade sobre o processo para a concessão da licença de instalação da
usina. Na ocasião, ambientalistas
disseram que foram hostilizados e
que sofreram ameaças de simpatizantes e defensores do projeto.
Colaborou Hudson Corrêa,
da Agência Folha, em Campo Grande
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