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Governo taxará até 894 mil poupanças
Contas com mais de R$ 50 mil pagarão IR a partir de 2010; perda de rendimento pode chegar a quase 2 pontos percentuais
Já fundos de investimento pagarão menos IR neste ano; medidas visam conter fuga dos fundos para a poupança devido aos juros menores
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pela primeira vez desde os
anos 1990, o governo propôs a
tributação dos rendimentos da
caderneta de poupança pelo
Imposto de Renda. A medida
depende de aprovação do Congresso. O ministro Guido Mantega (Fazenda) disse esperar a
aprovação neste ano para que a
cobrança comece em janeiro.
O governo também anunciou
que reduzirá o IR sobre rendimentos dos fundos de investimento neste ano. O incentivo
acabará em 2010, quando for
iniciada a tributação sobre a
poupança.
O objetivo das duas medidas
é evitar uma migração de recursos para a caderneta, aplicação
cuja remuneração ficou mais
atraente com a recente queda
da taxa básica de juros (a Selic),
por não ser tributada nem ter
taxa de administração.
A queda dos juros reduziu o
rendimento dos fundos de investimento, os quais aplicam
parte dos recursos em títulos
públicos. Isso pode levar os
aplicadores a buscar uma remuneração maior na poupança. Uma forte perda de recursos
dos fundos dificultaria a venda
de papéis da dívida pública, hoje em R$ 1,264 trilhão.
As novas regras poderão causar perda de quase dois pontos
percentuais ao ano nos rendimentos para 894 mil contas de
poupança com mais de R$ 50
mil, se a taxa de juros alcançar
o piso citado pelo governo: Selic de 7% ao ano.
Como a Folha havia adiantado, o patamar foi escolhido para evitar desgaste às vésperas
da eleição presidencial, já que a
esmagadora maioria dos poupadores -mais de 89 milhões
de contas- ficará isenta.
A incidência do imposto
-que só vale para o juro de
0,5%, e não para a TR- foi justificada como necessária para
que os juros básicos da economia possam cair para até 7% ao
ano. Hoje, estão em 10,25% ao
ano, e o mercado projeta que
acabem 2009 em 9,25%.
"[Essas mudanças] eliminam
a restrição mais importante e
mais imediata [à queda nos juros]. Não estou dizendo que a
Selic vai cair, mas não é razoável ter um limite institucional
que impeça a taxa de cair", disse o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
As aplicações em fundos de
investimento e CDBs terão redução de imposto só neste ano.
Para quem tem menos de R$
50 mil na poupança, nada muda. O rendimento continuará
sendo de 6,17% ao ano mais a
variação da TR (Taxa Referencial), sem cobrança do IR.
O governo chegou a estudar
o fim dos juros fixos de 6,17%
para a poupança, mas o presidente Lula desistiu dessa proposta após a oposição ter associado mudanças na poupança
ao traumático confisco de recursos da caderneta e das contas correntes feitas em 1990 no
governo Collor.
Temendo que a associação
prosperasse, Lula decidiu por
uma mudança que afeta apenas
1% das contas de poupança do
Brasil. Mas o 1% das contas restantes que pagarão imposto
responde por 40% do saldo total das cadernetas, que é de
R$ 270,682 bilhões.
Mantega evitou falar em perda aos poupadores e se referiu
a "ajustes" e "adaptações" na
remuneração. Disse que o governo quer impedir que a poupança se torne "instrumento
de especulação financeira". "O
brasileiro tem de se acostumar
com rendimentos menores,
principalmente os grandes [investidores]", disse o ministro.
Se os juros caírem a 7% ao
ano, o rendimento da caderneta para quem tem mais de R$
50 mil cai de 6,2% para 4,5% ao
ano. No cenário atual, com a taxa em 10,25% ao ano, a redução
é bem menor.
Segundo as projeções da Fazenda, com taxa de juros de
10% ao ano, o rendimento sem
imposto seria de 7%; com a tributação, cairá para 6,7%. No
cenário próximo aos juros projetados pelo mercado para o
fim do ano, a perda é de 0,5
ponto percentual.
O custo da redução de impostos sobre os fundos de investimentos será de cerca de
R$ 1,7 bilhão em 2009. Nos
próximos anos, porém, a União
aumentará a arrecadação.
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