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Governo decide cortar R$ 10 bi em gastos
Com nova redução nas despesas de custeio, Planalto tenta conter superaquecimento da economia e avanço da inflação
Somado ao bloqueio de
R$ 21,8 bi anunciado em março, valor corresponde a 1% do PIB e chega perto do gasto com o PAC para o ano
EDUARDO RODRIGUES
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
De olho no superaquecimento da economia e na possibilidade de o Banco Central subir
ainda mais os juros, a equipe
econômica do presidente Lula
anunciou um corte adicional de
R$ 10 bilhões nos seus gastos.
Com isso, espera não só cumprir a meta de superavit primário (resultado antes do pagamento dos juros) de 3,3% do
PIB de 2010 como superá-la.
Segundo assessores do ministro Guido Mantega (Fazenda), o corte adicional de despesas garante o cumprimento da
meta com tranquilidade e, muito possivelmente, permitirá
uma economia extra que não
será destinada a gastos.
O novo bloqueio de gastos federais (contingenciamento) se
soma aos R$ 21,8 bilhões anunciados em março, totalizando
uma retenção de R$ 31,8 bilhões, cerca de 1% do PIB (Produto Interno Bruto).
Esse valor equivale praticamente ao que o governo tem
previsto para gastar neste ano
-R$ 33,6 bilhões- com o PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento) e, legalmente,
poderia descontar da meta e
mesmo assim considerá-la
cumprida. Agora, poderá cumprir a meta sem descontar os
investimentos do PAC.
Na avaliação do chefe do
Centro de Crescimento Econômico da FGV (Fundação Getulio Vargas), Samuel Pessoa, o
corte corresponde a um esforço
grande da parte do governo. "É
muito dinheiro, considerando a
margem pequena de manobra,
que são os gastos de custeio."
Para ele, a alta do salário mínimo e os reajustes para o funcionalismo público concedidos
em 2009 (gastos que não podem ser bloqueados) obrigaram a um represamento maior
nas outras despesas.
Ele diz, porém, que o corte
não é suficiente para diminuir
o atual ciclo de aumento dos juros, como pretende a Fazenda.
Água na fervura
Da meta de 3,3% de superavit
primário do setor público, a
contribuição do governo federal é de 2,15% do PIB -R$ 74,2
bilhões. Ou seja, os cortes representam quase a metade da
economia prevista para o ano.
A medida foi aprovada nesta
semana por Lula, após ser alertado para o risco de a economia
ficar superaquecida, crescendo
perto de 7%, o que iria gerar
mais pressão inflacionária.
O consenso na equipe econômica é que o Brasil teria condições de crescer até 6% sem gerar desequilíbrios entre a oferta
de produtos e a demanda. O
mercado já prevê uma expansão do PIB de 6,26% em 2010.
"A demanda nacional é composta pela demanda privada e
pela demanda pública. A melhor maneira de jogar um pouco de água fria na fervura, um
instrumento forte e rápido, é
você diminuir os gastos do governo", disse Mantega.
Ao anunciar a decisão, ele frisou que o PAC e os programas
sociais não serão afetados no
ano eleitoral.
O corte de R$ 10 bilhões é pequeno se comparado aos
R$ 160,937 bilhões em gastos
governamentais apenas nos
três primeiros meses do ano.
Mas o bloqueio só pode ser feito em despesas não obrigatórias -cerca de R$ 85 bilhões.
Além do corte de gastos e do
aumento dos juros, o governo já
havia tomado outras medidas
para esfriar a economia.
Acabou com os incentivos
fiscais concedidos durante a
crise, como redução do IPI, e
voltou a elevar o compulsório
dos bancos -parcelas que têm
de recolher obrigatoriamente
ao Banco Central dos depósitos
feitos por seus clientes.
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