São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2005

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OPERAÇÃO NARCISO

Frequentadoras da loja dizem que, se ela cometeu crime, deve pagar por isso, mas vêem excesso da PF

Clientes vêem dona da Daslu como "vítima"

JOÃO LUIZ VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A clientela que freqüenta a Daslu desde a época em que a loja funcionava na Vila Nova Conceição, ou mesmo consumidoras de última hora, entusiastas da nova casa da Vila Olímpia, são unânimes em apontar a empresária Eliana Tranchesi como "vítima".
Solidárias, clientes que já foram "salvas" por Eliana em dia que precisavam de roupa nova para esta ou aquela festa acreditam que ela é um "bode expiatório" e que "a pegaram para Cristo".
A empresária Kátia Grubisich, sócia na butique de alta costura de Rogério Figueiredo, que esteve na Daslu na noite anterior à prisão para comprar roupas de lã -em liquidação- para a filha que mora na Suíça, acha precipitado dizer se ela está ou não com razão. "Os fatos precisam ser apurados", diz.
Mas ela pondera que as acusações "não devem ser verdade". "Se for, acho muito grave porque a gente que é comerciante sabe como é difícil competir dessa maneira", disse ela.
Kátia diz que, se ela for culpada, "tem de pagar pelos erros". "Precisamos cumprir as leis, e não se pode levar vantagem em tudo." A empresária diz que "quase caiu dura" com a notícia e se disse "decepcionada porque a Daslu é um modelo de negócio". Kátia entendeu que a ação da polícia foi "exagerada, deprimente e lamentável": "Tinha de ser mais discreta".
Revoltada também está a empresária Cecília Neves, uma das mais animadas no dia da inauguração da loja. "Acho tudo muito injusto. Eliana é uma mulher que investe no Brasil, fez uma creche para funcionários", afirma. "Mas é um país de altos impostos, e é impossível pagar todas as taxas. Alguma não deve ter sido paga."
Cecília acredita na tese de bode expiatório. "Ninguém pensa no dinheiro encontrado na cueca daquele petista, no [ex-ministro] José Dirceu, que mudou de cara. Ela não merecia... Pegaram uma mulher com 50 anos de loja para Cristo.. É um desvio da atenção para essa baixaria desse governo Luís Inácio Lula da Silva", afirma.
A designer e artista plástica Elisa Stecca, que é fornecedora de peças para a Daslu Casa, acredita que Eliana sofre uma perseguição pessoal. "Por outro lado, a Daslu enquanto mercado de luxo está na boca do povo. O escândalo foi proporcional à imagem grandiloqüente que ela própria vendeu."
Elisa raciocina que "há um componente de raiva contida contra a violência dos números desse mercado num país que tem a pior concentração de renda."
Elas acham injusta a situação, reclamam dos modos dos policiais, mas deixar de serem clientes é que não vão. Lucinha Mauro, sócia do cabeleireiro Marco Antonio de Biaggi no salão MG Hair Design, aponta "perseguição à empresa e ao público ligado a ela". "O sucesso dela incomoda muita gente. Vou continuar cliente de lá, pois adoro as coisas e admiro a Eliana como empresária."
Empresária como Eliana, Mariana Laskani importa, mensalmente, cerca de dez toneladas de pedrarias do Leste Europeu para vender no centro da cidade e se disse admirada ao saber do tamanho da operação e ressalta que a PF "não consegue acabar com a pirataria escancarada na 25 de Março". Para ela, essa é, de fato, a maior de todas as contradições.


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