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Eletro revela cabeça do investidor em DI
Professores da USP submetem voluntários a eletroencefalogramas para desvendar reações diante de cenários de risco
Primeiro laboratório em neuroeconomia do país buscará responder por que brasileiro evita risco da ação
e prefere fundo com juros
DA REPORTAGEM LOCAL
Médicos e economistas brasileiros nunca chegaram tão
perto, literalmente, de entender o cérebro do investidor.
Após pesquisar processos de
decisão envolvendo consumo e
dilemas morais por meio de
eletrodos colocados na cabeça
de voluntários, os professores
da USP (Universidade de São
Paulo) Armando Rocha e
Eduardo Massad resolveram
investigar o medo característico de quem investe no Brasil.
Para isso, uniram-se à FGV
(Fundação Getulio Vargas)
com a intenção de montar o
primeiro laboratório em neuroeconomia do país. O trabalho
inicial deve ser sobre a dificuldade do brasileiro de deixar o
ganho certo nos fundos DI para
aventurar-se em ações.
Enquanto passa por um eletroencefalograma, um grupo de
voluntários responde se investe ou não -e quanto- dado um
determinado cenário de risco.
"Tenta-se correlacionar baixa
ou alta percepção de risco com
quais áreas do cérebro são mais
ou menos ativadas. O eletro é
uma espécie de tira-teima para
o questionário. Será a primeira
experiência em neuroeconomia no Brasil", diz Rocha, professor titular em neurociências
aposentado pela Unicamp e hoje professor visitante da USP.
Ele trabalha com Massad, especialista em modelos matemáticos, na Medicina da USP.
Apesar de recente, a neuroeconomia é um campo de estudo
presente nas principais universidades do mundo. Usando a
técnica de ressonância magnética, o professor Brian Knutson, da Universidade de Stanford, descobriu em 2004 que o
mesmo centro de prazer do cérebro ativado por sensações como o orgasmo ou a euforia com
o uso de cocaína, por exemplo,
responde também quando um
investidor faz um negócio lucrativo na Bolsa. Para Knutson,
a pesquisa mostra que os circuitos relacionados ao prazer
superam os bloqueios impostos
pela razão.
Como no caso das finanças
comportamentais (ler texto à
pág. B10), a neurologia acredita
que, em se tratando de dinheiro, ao contrário do que prega a
economia clássica, nem sempre
prevalece a lógica, mas o imperativo biológico.
Experimental
A neuroeconomia é recente,
mas estudos em laboratórios de
economia experimental, que
entre outras pesquisas simulam situações do mercado financeiro, vêm investigando há
mais tempo o comportamento
do investidor no Brasil. Um
exemplo é o Lijia (Laboratório
de Investigação em Jogos Interdisciplinares Aplicados),
inaugurado em 2004, que faz
pesquisas nas áreas de economia, finanças e administração.
Nas experiências, contam
Jolanda Ygosse Battisti e Julia
von Maltzan Pacheco, os "investidores" são realmente remunerados para tomar decisões em situações que simulam
ambientes reais, para que o
contexto se aproxime o máximo possível da realidade.
"São montados grupos que
precisam determinar as melhores decisões com determinado
montante para investir", exemplifica Battisti. "Enquanto isso,
observamos o comportamento
desses grupos."
(TS e MP)
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