São Paulo, sábado, 14 de julho de 2007

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Eletro revela cabeça do investidor em DI

Professores da USP submetem voluntários a eletroencefalogramas para desvendar reações diante de cenários de risco

Primeiro laboratório em neuroeconomia do país buscará responder por que brasileiro evita risco da ação e prefere fundo com juros

DA REPORTAGEM LOCAL

Médicos e economistas brasileiros nunca chegaram tão perto, literalmente, de entender o cérebro do investidor. Após pesquisar processos de decisão envolvendo consumo e dilemas morais por meio de eletrodos colocados na cabeça de voluntários, os professores da USP (Universidade de São Paulo) Armando Rocha e Eduardo Massad resolveram investigar o medo característico de quem investe no Brasil.
Para isso, uniram-se à FGV (Fundação Getulio Vargas) com a intenção de montar o primeiro laboratório em neuroeconomia do país. O trabalho inicial deve ser sobre a dificuldade do brasileiro de deixar o ganho certo nos fundos DI para aventurar-se em ações.
Enquanto passa por um eletroencefalograma, um grupo de voluntários responde se investe ou não -e quanto- dado um determinado cenário de risco. "Tenta-se correlacionar baixa ou alta percepção de risco com quais áreas do cérebro são mais ou menos ativadas. O eletro é uma espécie de tira-teima para o questionário. Será a primeira experiência em neuroeconomia no Brasil", diz Rocha, professor titular em neurociências aposentado pela Unicamp e hoje professor visitante da USP. Ele trabalha com Massad, especialista em modelos matemáticos, na Medicina da USP.
Apesar de recente, a neuroeconomia é um campo de estudo presente nas principais universidades do mundo. Usando a técnica de ressonância magnética, o professor Brian Knutson, da Universidade de Stanford, descobriu em 2004 que o mesmo centro de prazer do cérebro ativado por sensações como o orgasmo ou a euforia com o uso de cocaína, por exemplo, responde também quando um investidor faz um negócio lucrativo na Bolsa. Para Knutson, a pesquisa mostra que os circuitos relacionados ao prazer superam os bloqueios impostos pela razão.
Como no caso das finanças comportamentais (ler texto à pág. B10), a neurologia acredita que, em se tratando de dinheiro, ao contrário do que prega a economia clássica, nem sempre prevalece a lógica, mas o imperativo biológico.

Experimental
A neuroeconomia é recente, mas estudos em laboratórios de economia experimental, que entre outras pesquisas simulam situações do mercado financeiro, vêm investigando há mais tempo o comportamento do investidor no Brasil. Um exemplo é o Lijia (Laboratório de Investigação em Jogos Interdisciplinares Aplicados), inaugurado em 2004, que faz pesquisas nas áreas de economia, finanças e administração.
Nas experiências, contam Jolanda Ygosse Battisti e Julia von Maltzan Pacheco, os "investidores" são realmente remunerados para tomar decisões em situações que simulam ambientes reais, para que o contexto se aproxime o máximo possível da realidade.
"São montados grupos que precisam determinar as melhores decisões com determinado montante para investir", exemplifica Battisti. "Enquanto isso, observamos o comportamento desses grupos." (TS e MP)


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