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Folhainvest
Conta-investimento não atinge objetivos
Criada em outubro de 2004, conta permite que investidor transfira aplicações sem pagar CPMF; procura ficou abaixo do esperado
Regras de tributação que entraram em vigor em 2005 anularam efeito da medida, ao punir resgates de aplicações no curto prazo
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase dois anos após sua
criação pelo governo, a conta-investimento mostrou-se incapaz de cumprir seu principal
objetivo: promover a concorrência entre instituições financeiras, derrubando as taxas e
fomentando a migração de recursos entre os fundos. A avaliação é de profissionais do
mercado ouvidos pela Folha.
Quando completar dois anos,
daqui a menos de dois meses, a
conta-investimento dará seu
último benefício previsto nas
regras que a criaram.
Quem tinha aplicações em
fundos antes de a nova conta
começar a funcionar poderá, a
partir de outubro, migrar para
a conta-investimento -e depois aos fundos oferecidos no
mercado- sem pagar CPMF
(Contribuição Provisória sobre
Movimentação Financeira).
"Não aconteceu a agitação
que esperávamos com o funcionamento da conta-investimento", diz Marcos Villanova,
superintendente-executivo de
investimentos do Bradesco. "A
movimentação ficou aquém do
que pensávamos."
A conta-investimento foi
criada em outubro de 2004. Ela
prevê que aplicações em fundos efetuadas antes disso poderão ser transferidas para uma
conta-investimento sem pagar
CPMF. A alíquota da CPMF é
de 0,38% sobre o total de cada
transação financeira.
O benefício aos investidores,
segundo as normas, vale a partir de outubro próximo. Até outubro, os detentores de aplicações anteriores à formalização
da conta-investimento serão
obrigados a pagar CPMF se
quiserem fazer a transferência.
Os investimentos realizados
depois de outubro de 2004 já
contam com a isenção da
CPMF, caso seu titular tenha
uma conta-investimento.
Sem mudanças
Apesar do benefício, o mecanismo adotado há quase dois
anos não levou as pessoas a mudarem de aplicações.
"A conta-investimento não
estimulou os investidores a ficarem trocando de aplicação.
Assim, acabou também por não
ampliar a concorrência e a possibilidade de as taxas de administração caírem", afirma Marcelo D'Agosto, sócio-diretor do
site Fortuna, especializado no
acompanhamento do mercado
de fundos.
Na avaliação dos analistas, as
regras de tributação foram as
principais responsáveis pela
falta de apelo da conta-investimento. D'Agosto observa que o
grande problema foi a tabela de
tributação criada pelo governo
em paralelo à conta-investimento, que acabou anulando os
benefícios trazidos pela isenção da CPMF.
Punição tributária
De acordo com o sócio do
Fortuna, ao mesmo tempo em
que a conta-investimento passou a permitir que os investidores migrassem de um fundo a
outro sem pagar CPMF em cada operação -como era até outubro de 2004-, a tabela regressiva de IR (Imposto de
Renda) trouxe punição para
quem troca de aplicação.
A tabela regressiva vale desde o ano passado, quando o governo instituiu alíquotas tributárias que desestimulam investimentos de curto prazo.
Ela prevê que as pessoas que
deixarem seu dinheiro mais
tempo em uma determinada
aplicação pagarão menos Imposto de Renda. Em compensação, o imposto aumenta para
quem mexer na aplicação antes
do prazo de resgate.
A tabela regressiva para o
Imposto de Renda incidente
sobre os fundos de investimento, traz alíquotas que variam de
acordo com o prazo de cada
aplicação: 22,5% para investimentos resgatados em até seis
meses, 20% nos investimentos
de seis meses a um ano, 17,5%
para os de um a dois anos e 15%
acima de dois anos.
"As regras de tributação anularam todo o efeito da conta-investimento, desestimulando a
competitividade", diz o sócio-diretor do Fortuna. "Somente
se a tributação mudar, as vantagens da conta aparecerão", afirma D'Agosto.
Villanova, do Bradesco, concorda. "Passados quase dois
anos desde a criação, a conta-investimento é uma realidade,
mas não conseguiu mudar o
perfil do mercado", afirma.
A maioria dos bancos oferece
a conta-investimento sem custos e permite que não-correntistas abram apenas uma dessas contas.
Os especialistas, porém, notaram que dificilmente, ao contrário do que se esperava, o investidor abre uma conta-investimento em diferentes bancos e
migra de uma para outra -o
que é permitido por lei.
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