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Ninguém vai contra o mercado, diz Bradesco
Presidente do banco afirma que a queda do juro é tendência natural e que oferta atual de crédito está "adequada" à economia
Para analistas, banco público navega melhor na crise, com conservadorismo do setor privado e condições mais privilegiadas para competir
DENYSE GODOY
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente do Bradesco,
Luiz Carlos Trabuco Cappi, rebateu ontem à noite as críticas
aos juros dos bancos privados
feitas pelos ministros Guido
Mantega (Fazenda) e Paulo
Bernardo (Planejamento). Para
o executivo, a oferta de crédito
pelo conjunto das instituições
financeiras do país "atende suficientemente a demanda e é
adequada às necessidades da
economia brasileira".
Ele afirmou ainda que o viés
de baixa dos juros "é um fato".
"Quando cresce a competição,
quem ganha é o cliente. Estamos vivendo um ambiente
competitivo extremamente excitante em que o consumidor
pode conseguir opções muito
favoráveis." Segundo ele, a velocidade de redução dos juros
será "a do mercado". "Ninguém
vai contra o mercado, todo
mundo vai a favor do mercado
quando o mercado exige".
Segundo ele, o Bradesco não
vai "comer poeira", como alertou Mantega, horas antes, às
instituições privadas. "Estamos competitivos, abrindo
agências", afirmou.
Mantega e Trabuco Cappi
participaram de evento de empresários à noite em São Paulo.
Também presente, o presidente do Banco Central, Henrique
Meirelles, disse que a redução
dos juros pelos bancos públicos
ajudou a combater a crise no
país. Mas Meirelles também fez
coro a Mantega: "Agora, com a
expansão das instituições públicas, as privadas vão ter que
voltar a recuperar terreno, senão perderão mercado".
Questionado sobre os riscos
da atuação agressiva dos bancos públicos no crédito, Meirelles respondeu: "Vamos aguardar a divulgação dos números.
Os números falam por si só".
Melhor na crise
Na opinião de analistas, os
bancos públicos, sob pressão e
com o patrocínio do governo,
arriscaram mais na concessão
de novos empréstimos em plena retração econômica. Como a
crise se revelou menos severa
do que se previa, acabaram navegando melhor e ganharam
mercado perdido pelas instituições privadas.
Há dúvidas, no entanto, se os
bancos privados perderam
mercado porque foram rigorosos demais na concessão de
crédito ou se a aposta dos bancos públicos se deu em condições privilegiadas.
O presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, afirmou
que os bancos públicos não
conseguirão sustentar mais os
baixos "spreads" [diferença entre juro captado e repassado].
Segundo Armando Castelar
Pinheiro, professor da UFRJ,
os bancos públicos têm um custo de captação inferior ao restante do mercado devido à concentração de poupança e de depósitos judiciais. O BB ainda estava menos exposto que os bancos privados nos financiamentos para pessoa física, que têm
as maiores inadimplências.
"Claro que os bancos privados tiveram posição mais conservadora. A tendência é que isso mude no final do ano. Os
grandes bancos privados tendem a brigar para recuperar o
que perderam", disse Castelar.
Para João Augusto Salles, da
consultoria Lopes Filho, o BB
também pôde ser mais agressivo no crédito porque o CMN
(Conselho Monetário Nacional) autorizou a revisão da avaliação de risco dos agricultores,
o que liberou dinheiro que deveria ser provisionado.
"Essa conta vai chegar. O Setubal tem razão. Os bancos públicos não conseguirão trabalhar trimestre a trimestre sem
repassar custos", disse Lopes.
Segundo estudo da consultoria Economática, o BB liderou o
ranking das instituições financeiras mais rentáveis nas Américas. O banco teve rentabilidade média sobre o patrimônio de
12,9%, acima de Bradesco
(11,2%), Itaú Unibanco (10,1%)
e Goldman Sachs (8,3%). Para
Salles, a rentabilidade do BB
não deverá se sustentar nesse
patamar. Isso porque 35% do
crédito do banco está no setor
agrícola, que tem "spreads"
mais baixos. "A rentabilidade
do BB não se manterá maior do
que a de Bradesco e Itaú", disse.
Na avaliação de Luis Miguel
Santacreu, analista da consultoria Austin Ratings, o crescimento da participação de mercado dos bancos no crédito se
dará pelo equilíbrio de cada um
deles entre três variáveis: volume de novas concessões, tamanhos dos "spreads" e risco de
inadimplência.
"O Setubal tem o desafio individual de não querer sacrificar muito a margem porque
tem despesa adicional de integração do Unibanco. Já o Bradesco pode canalizar mais esforço com juro menor e utilizar
isso como marketing. Está mais
leve, ficou na terceira posição e
não tem de digerir uma aquisição. Isso não é uma corrida de
Fórmula 1 que vai terminar no
final do ano. Cada um tem uma
estratégia para ganhar mercado. Se essa briga vier em benefício da concorrência, vai ser positivo para o sistema como um
todo", disse Santacreu.
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