São Paulo, Sábado, 14 de Agosto de 1999
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MERCADO FINANCEIRO
Cotação atinge maior patamar desde 17 de março; moeda sobe 1,63% desde segunda-feira
Dólar fecha semana nervosa a R$ 1,875

MARCELO DIEGO
da Reportagem Local

O dólar comercial encerrou uma semana turbulenta atingindo seu pico: R$ 1,875. Do início dos trabalhos na segunda-feira até o fechamento de ontem, a moeda se valorizou 1,63%.
Desde 17 de março, quando fechou a R$ 1,885, a moeda não atingia valor tão alto.
Em comparação com anteontem, o dólar registrou alta de 0,43%. Escassez de moeda, manutenção de reservas de grandes bancos (atrás de proteção), falta de títulos públicos reajustados pelo câmbio e preocupação com a situação política do país foram as justificativas para o aumento -ontem e durante a semana.
Analistas dizem que a pressão deve se manter na segunda-feira. O aumento no dólar foi uma surpresa no mercado, já que este mês é o de menor pressão de vencimentos de dívidas do ano.
Em agosto, o vencimento total de eurobonds (dívidas de empresas brasileiras no exterior) é de US$ 344 milhões -dos quais 82,5% já foram pagos.
Assim, as instituições não precisariam, em tese, comprar moeda para honrar compromissos no exterior. Em julho, o vencimento de dívidas atingia US$ 1,7 bilhão.
A pressão vem da falta de oferta de dólar. "Os bancos não têm indícios de que a moeda vá cair. Todo mundo quer manter suas posições", disse Carlos Alberto Abdalla, da corretora Souza Barros.
O movimento dos bancos é conhecido como "busca de proteção". Para não ser surpreendido com uma desvalorização maior do real, as instituições procuram manter o máximo do seu dinheiro protegido, fazendo contratos no dólar futuro (via Bolsa de Mercadorias & Futuros).
Eles ficam "comprados" em dólar, ou seja, com suas carteiras posicionadas em moeda norte-americana. Há um custo financeiro -de até 19% ao ano- para manter essa posição.
Como ninguém está querendo mudar de lado, não acreditando que a cotação da moeda vá ceder, não há vendedores de dólar.
"O cenário ruim interno está fazendo todo mundo proteger o que tem, deixando o mercado ainda mais tenso e empurrando a cotação do dólar", disse João Medeiros, sócio da Pioneer Corretora de Câmbio.
O Banco Central não interveio no câmbio ontem. Segundo Medeiros, qualquer ação do BC agora poderia ser infrutífera. "O dinheiro pode acalmar a situação no momento, mas não reverter a tendência", afirmou.
Entre os fatores apresentados para a turbulência interna está o enfraquecimento político do presidente Fernando Henrique Cardoso. A renegociação da dívida dos ruralistas foi interpretada como mais um sinal disso.


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