São Paulo, sábado, 14 de setembro de 2002

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CRÉDITO

Com endividamento de R$ 4,3 bilhões, distribuidora de energia obtém 24 meses de prazo para amortizar debêntures

Eletropaulo rola R$ 360 mi e evita "curto"

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Eletropaulo conseguiu ontem um pouco mais de oxigênio para administrar seu pesado endividamento de R$ 4,3 bilhões, ao obter 24 meses de prazo para amortizar uma dívida de R$ 360 milhões em debêntures (títulos emitidos pela empresa). Metade dos papéis vencem em outubro deste ano e o restante em abril do ano que vem.
Em assembléia de debenturistas realizada ontem, ficou acertado que em 1º de outubro a Eletropaulo pagará cerca de R$ 30 milhões, referentes a juros de 12% ao ano e IGP-M da primeira parcela de debêntures. O restante devido, R$ 150 milhões, serão corrigidos pelo IGP-M e remunerados com uma taxa de juros de 14,5% ao ano e pago em 23 parcelas mensais a partir de 1º de novembro.
Segundo Luiz Ildefonso Lopes, vice-presidente do banco Brascan, que montou a operação, os R$ 180 milhões que vencem em abril de 2003 serão reestruturados da mesma forma que a primeira parcela. Uma nova assembléia de debenturistas, a ser realizada em 12 de novembro deste ano, deverá formalizar a decisão. Até lá, os papéis pagarão juro de 12% ao ano mais IGP-M, as condições estabelecidas na emissão.
Com uma grande concentração de vencimentos neste ano, a Eletropaulo vem buscando o alongamento dos prazos de pagamento. Em agosto, a empresa ganhou fôlego com a liberação, pelo BNDES, de R$ 402 milhões -parte dos recursos destinados a cobrir as perdas que as elétricas tiveram no racionamento.
O valor total do contrato com o BNDES é de R$ 922,8 milhões. Mas foram descontados R$ 278,3 milhões adiantados em fevereiro e R$ 322,2 milhões que, segundo analistas, foram retidos para pagamentos atrasados a Itaipu e encargos setoriais.
A liberação de recursos pelo BNDES permitiu à Eletropaulo quitar uma dívida de US$ 120 milhões em commercial papers que venceram no fim de agosto. "Só em agosto e início deste mês a empresa pagou R$ 575 milhões em dívidas", diz Pedro Batista, analista do setor elétrico do Pactual.
Além dos commercial papers, a Eletropaulo pagou no final de agosto US$ 34 milhões a um grupo de bancos liderado pelo JP Morgan, parte de uma dívida de US$ 225 milhões. A empresa tenta renovar os US$ 191 milhões restantes por um prazo de 24 meses e convertê-los em reais. As negociações estão no final.
A Eletropaulo já conseguiu alongar por 18 meses o prazo de pagamento uma dívida de US$ 60 milhões vencida em agosto. Os próximos vencimentos de dívida serão em outubro -um "papagaio" de R$ 75 milhões com o Banco do Brasil- e em dezembro -US$ 100 milhões em commercial papers.
Segundo Batista, a empresa está conseguindo renegociar prazos melhores de pagamento para as dívidas que vencem neste ano, mas ainda tem novos desafios pela frente. "O segundo momento da reestruturação da dívida da empresa terá de ser enfrentado no próximo ano, quando terá de refinanciá-la a um custo menor."
Além disso, segundo ele, outro desafio é a venda de ativos não-operacionais. "Ela tenta vender um edifício em construção em São Paulo e não consegue", diz. A própria empresa estaria à venda. "A AES, controladora da Eletropaulo, já anunciou que seus ativos estão à venda, mas não há compradores", diz Batista.

Ambiente hostil
Há um ambiente hostil aos investimentos no setor elétrico desde a quebra da Enron. "Além da crise mundial do setor, as empresas locais também tiveram problemas com a queda de receitas durante o racionamento e com a desvalorização do real, que aumentou suas dívidas e pressionou os custos, com a compra de energia de Itaipu, que é paga em dólar", diz Oswaldo Telles Filho, analista do BBV.


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