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INDÚSTRIA OCIOSA
Empresários estão mais desanimados do que em 2001, ano do racionamento de energia, diz pesquisador da FGV
Investimento deverá ser o menor desde 95
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar da recuperação de alguns setores industriais, os investimentos da iniciativa privada deverão fechar o ano no nível mais
baixo desde 1995.
Levantamento feito com 423
empresas e recém-concluído pela
FGV (Fundação Getúlio Vargas)
mostra que o investimento estimado para 2003 deve representar
5,2%, em média, da receita operacional líquida das companhias.
A média anual no período de
1995 a 2002 foi de 7,2%. Em nenhum desses anos a taxa foi inferior a 5,2%. No ano passado, esse
percentual já tinha sido baixo
(5,67%). Em 2001, chegou a 8,2%.
Taxas médias entre 7% e 8%, na
avaliação da FGV, mostram o otimismo dos empresários em investir nos seus negócios.
De um grupo de 11 segmentos
industriais, seis registram, neste
ano, taxas de investimento menores do que as do ano passado. Cinco registram taxas maiores. Na
comparação com 2001, com exceção do setor de celulose, papel e
papelão, os outros dez setores vão
investir menos neste ano.
Em comparação com o ano passado, os setores que têm menos
intenção de investir são o de bens
de consumo, que registra uma taxa de 2,74%, e o de bens de capital
(3,7%). Os mais dispostos a fazê-lo são o de materiais de construção (8,49%) e o de bens intermediários (7,1%), informa a FGV.
"Não imaginávamos que a disposição dos empresários para investir estivesse ainda tão "fraquinha" neste segundo semestre. E isso acontece mesmo depois de o
governo mostrar que pretende
manter a sua política de redução
de juros", afirma Aloisio Campelo
Júnior, coordenador de pesquisas
empresariais da FGV.
Do grupo de 11 segmentos industriais, as indústrias que registram taxa de investimento menor
do que a do ano passado são as
metalúrgicas, as mecânicas, as
químicas, as têxteis, as alimentícias e as de produtos minerais
não-metálicos (cimento e vidro).
Taxas maiores de investimento
já foram verificadas nas indústrias de material elétrico e de comunicações, de transportes, de
celulose, papel e papelão, de produtos farmacêuticos e veterinários e de vestuário e calçados.
Na indústria de vestuário e calçados, apesar de a taxa neste ano,
de 2,37%, ser maior do que a do
ano passado, de 1,83%, ela é considerada baixa. Isso também
acontece na indústria de material
elétrico e de comunicações -os
percentuais subiram de 2,83%,
em 2002, para 3,04% neste ano.
O mais propenso a investir, como constata a FGV, é o setor de
papel, celulose e papelão -especialmente por causa das exportações. A taxa de investimento desse setor sobre a receita bateu em
14,54% neste ano. Em 2002, foi de
13,75%. E, em 2001, de 8,71%.
Campelo Júnior diz que a surpresa do levantamento foi o fato
de os empresários estarem mais
desanimados do que em 2001, ano
em que houve racionamento de
energia. "As empresas foram pegas de surpresa naquele ano e tiveram de concluir os investimentos. Mas, em 2002, elas decidiram
segurar os novos projetos", afirma o pesquisador.
"Os empresários ainda estão pagando para ver a retomada. Só
vão investir quando o horizonte
estiver mais claro. E se o FMI
[Fundo Monetário Internacional]
exigir neste mês mais ajuste do
Brasil? Para crescer, o país precisa
também de investimento público
e estrangeiro", afirma Fernando
Sarti, economista da Unicamp.
Tudo indica, diz, que a retomada para valer do país ainda demora. "O que o país vai ver, no máximo, é um aumento de consumo
em alguns setores. Assim, os empresários vão investir para quê?"
A indústria de transformação
trabalha com utilização média da
capacidade instalada de 81% (levantamento de julho). Os investimentos em aumento da capacidade produtiva só viriam depois de
as fábricas conseguirem reduzir a
ociosidade que enfrentam hoje.
"O ambiente está mais favorável,
mas não há indicadores sólidos de
recuperação. Os empresários entendem que investir ainda é um
risco", diz Fábio Silveira, economista da MB Associados.
O Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada) projeta para este ano a menor taxa de investimento sobre o PIB (Produto Interno Bruto) desde 1990 -17,6%.
"Os últimos dois anos foram marcados por um forte período de
instabilidade econômica. Essa taxa baixa é o reflexo disso", diz
Paulo Levy, diretor do Ipea.
Como boa parte da indústria
trabalha com ociosidade, diz, o
baixo volume de investimentos
não preocupa, já que a economia
marcha em ritmo lento. "Agora,
se houver recuperação, a falta de
investimento pode complicar o
país a partir de 2004." Para 2004, o
Ipea projeta taxa maior, de 18,3%.
Isso supondo que o PIB vá crescer
3,5% em 2004.
(FÁTIMA FERNANDES)
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