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TENSÃO PRÉ-COPOM
Ministro da Casa Civil declara que "não é robô" e critica possível alta; Palocci reafirma combate à inflação
Não há razão para juros subirem, diz Dirceu
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro José Dirceu (Casa
Civil) disse ontem que não vê razão para o Banco Central aumentar a taxa de juros. Já Antonio Palocci Filho (Fazenda) reafirmou
que o governo prioriza o combate
à inflação e que "nada muda" na
política econômica do governo.
As declarações foram feitas no
mesmo evento em São Paulo,
com poucas horas de intervalo.
"Sou ministro, devo obediência
ao presidente e sou disciplinado,
mas não sou robô", disse Dirceu.
O ministro apelou para sua condição de cidadão e parlamentar
para defender o direito de discordar da visão da autoridade monetária e disse que "não vê pressão
de preços que possa pôr em risco
o controle da inflação". "Mas essa
não é a opinião de quem tem de
tomar a decisão, que é o Copom
[Comitê de Política Monetária]."
Apesar de discordar da análise
do BC sobre a inflação, Dirceu sinalizou que não vai bater de frente com o Copom caso haja aumento de juros. Ele, porém, defendeu o debate. "Sai a ata do Copom e ninguém pode falar sobre
isso. Estamos ou não numa democracia?", perguntou.
Já Palocci afirmou que é preciso
persistir nos instrumentos de
equilíbrio macroeconômico. "Às
vezes abandonamos muito cedo
esse instrumentos", disse.
O aparente antagonismo entre
os dois membros do governo
aconteceu no Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas.
Dirceu discursou pela manhã.
Palocci, à tarde. O evento ocorreu
na véspera da reunião do Copom.
Nela, será decidido pela alteração
ou não da Selic (taxa básica de juros), atualmente em 16% ao ano.
Alguns analistas prevêem uma alta de até 0,5 ponto percentual.
Dirceu disse que acreditava ser
possível chegar ao primeiro semestre de 2005 com a Selic em
13%. No entanto, admitiu que
mudar a política monetária no
atual cenário internacional -de
elevação dos juros nos EUA- e
com uma dívida pública alta não é
simples. Além da inflação, preocupa o governo o efeito que a queda da Selic pode provocar na formação da poupança financeira. O
ministro reiterou ontem o que
dissera na semana passada: que
uma elevação ou uma redução na
Selic não alteraria o crescimento.
Economistas e empresários presentes ao debate colocaram a decisão do BC quase como plebiscitária, entre uma opção pela continuidade da expansão ou a promoção de uma nova recessão.
Ivoncy Ioschpe, presidente do
Iedi (Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial), disse que "milhares de empresários
estão buscando participar da "corrida do ouro" representada pelo
crescimento das exportações",
mas que o receio da inflação "poderá jogar no chão essa imensa
energia desencadeada".
O ministro da Casa Civil defendeu também um "acordo nacional popular-empresarial" em torno de uma agenda para o desenvolvimento econômico. "O desafio é que não haja retrocesso nessa
agenda, que não sejamos tolhidos", afirmou o ministro.
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) propôs à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo) um "pacto social", para criar um ambiente que permitisse uma redução mais efetiva
das taxas de juros. A proposta foi
rechaçada pelo ministro Palocci.
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