São Paulo, terça-feira, 14 de setembro de 2004

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TENSÃO PRÉ-COPOM

Ministro da Casa Civil declara que "não é robô" e critica possível alta; Palocci reafirma combate à inflação

Não há razão para juros subirem, diz Dirceu

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro José Dirceu (Casa Civil) disse ontem que não vê razão para o Banco Central aumentar a taxa de juros. Já Antonio Palocci Filho (Fazenda) reafirmou que o governo prioriza o combate à inflação e que "nada muda" na política econômica do governo.
As declarações foram feitas no mesmo evento em São Paulo, com poucas horas de intervalo.
"Sou ministro, devo obediência ao presidente e sou disciplinado, mas não sou robô", disse Dirceu.
O ministro apelou para sua condição de cidadão e parlamentar para defender o direito de discordar da visão da autoridade monetária e disse que "não vê pressão de preços que possa pôr em risco o controle da inflação". "Mas essa não é a opinião de quem tem de tomar a decisão, que é o Copom [Comitê de Política Monetária]."
Apesar de discordar da análise do BC sobre a inflação, Dirceu sinalizou que não vai bater de frente com o Copom caso haja aumento de juros. Ele, porém, defendeu o debate. "Sai a ata do Copom e ninguém pode falar sobre isso. Estamos ou não numa democracia?", perguntou.
Já Palocci afirmou que é preciso persistir nos instrumentos de equilíbrio macroeconômico. "Às vezes abandonamos muito cedo esse instrumentos", disse.
O aparente antagonismo entre os dois membros do governo aconteceu no Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas.
Dirceu discursou pela manhã. Palocci, à tarde. O evento ocorreu na véspera da reunião do Copom. Nela, será decidido pela alteração ou não da Selic (taxa básica de juros), atualmente em 16% ao ano. Alguns analistas prevêem uma alta de até 0,5 ponto percentual.
Dirceu disse que acreditava ser possível chegar ao primeiro semestre de 2005 com a Selic em 13%. No entanto, admitiu que mudar a política monetária no atual cenário internacional -de elevação dos juros nos EUA- e com uma dívida pública alta não é simples. Além da inflação, preocupa o governo o efeito que a queda da Selic pode provocar na formação da poupança financeira. O ministro reiterou ontem o que dissera na semana passada: que uma elevação ou uma redução na Selic não alteraria o crescimento.
Economistas e empresários presentes ao debate colocaram a decisão do BC quase como plebiscitária, entre uma opção pela continuidade da expansão ou a promoção de uma nova recessão.
Ivoncy Ioschpe, presidente do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), disse que "milhares de empresários estão buscando participar da "corrida do ouro" representada pelo crescimento das exportações", mas que o receio da inflação "poderá jogar no chão essa imensa energia desencadeada".
O ministro da Casa Civil defendeu também um "acordo nacional popular-empresarial" em torno de uma agenda para o desenvolvimento econômico. "O desafio é que não haja retrocesso nessa agenda, que não sejamos tolhidos", afirmou o ministro.
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) propôs à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) um "pacto social", para criar um ambiente que permitisse uma redução mais efetiva das taxas de juros. A proposta foi rechaçada pelo ministro Palocci.


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