São Paulo, terça-feira, 14 de setembro de 2004

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TENSÃO PRÉ-COPOM

Ministro acha que se deve perseverar na política fiscal e monetária

Para Palocci, só aperto fiscal maior possibilita juro baixo

DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, deixou claro ontem que nada muda na política fiscal e monetária. "Se ao longo do tempo o Brasil consolidar um ajuste fiscal maior, vai poder ter juros menores", afirmou à véspera da reunião do Banco Central que poderá elevar a taxa básica.
O ministro falou ontem a empresários e economistas durante o 1º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas e, durante sua exposição, mais de uma vez afirmou que a inflação está sob controle, mas que ela continua sendo a preocupação central do governo. "Apesar da vitória contra a inflação, desde o Real, demoramos para ter a convicção de que precisamos de um esforço fiscal efetivo, que só foi retomado em 1999. Essa é a questão-chave para o equilíbrio de longo prazo da economia", disse.
Palocci afirmou que é preciso "perseverar na política fiscal e monetária". Pela manhã, o ministro José Dirceu (Casa Civil) disse, no mesmo evento, que o desafio do país é que "não haja retrocesso na agenda do desenvolvimento, que não sejamos tolhidos".
Ao contrário de Dirceu, Palocci não comentou as sinalizações emitidas pelo Banco Central de uma possível alta dos juros, atualmente em 16% ao ano.
Palocci riu quando o ex-ministro Delfim Netto afirmou, ironicamente, durante os debates, que torce para que haja um aumento de 1,5 ponto percentual na taxa de juros amanhã. "Aí vamos provar quem tem razão: ou o Brasil cresce mais do que o previsto -e eu me retiro de cena- ou então, pelo amor de Deus, se não souberem o que estão fazendo, que o façam mais devagar", afirmou Delfim.
Para o ex-ministro, o impasse em que se encontra a política monetária, atualmente, é que o governo estabeleceu metas de inflação muito ambiciosas. O centro da banda deste ano é de 5,5% e não deve ser cumprido. "Tentamos fazer em pouco tempo [o controle da inflação] o que outros países, como o Chile, fizeram em 12 anos. Com isso, o governo comprometeu o crescimento."

Chance de ouro
Para Palocci, o Brasil combina, neste momento, um forte ajuste fiscal, inflação sob controle, superávit comercial e crescimento econômico. Ele destacou que o uso da capacidade industrial é elevado, mas não justifica alarme. "O país tem uma chance de ouro, neste momento, para tornar-se competitivo diante dos principais países do mundo. Os investimentos estão crescendo, embora não sejam espetaculares."
Ele descartou a idéia, levantada pelo coordenador do Fórum, Luiz Carlos Bresser-Pereira, de que o Banco Central brasileiro adote modelo semelhante ao do Fed (o BC dos EUA), que, pela lei americana, visa o controle da inflação e a geração de emprego.
"O BC tem um instrumento, que é o juro. Com isso, não consegue controlar todas as variáveis macroeconômicas. Se colocarmos metas de emprego e de crescimento, junto com a de inflação, não sei onde ele iria focar sua política", afirmou. Para Dirceu, "o BC deveria perseguir também metas de emprego e crescimento".
Outro ponto de divergência entre os dois ministros, que compareceram em horários diferentes ao Fórum, foi com relação a autonomia do BC.
Para Dirceu, "ninguém tem dúvidas de que o BC já é autônomo e, agora, com o foro privilegiado para o seu presidente, essa autonomia é real, embora não institucional". Segundo ele, é difícil institucionalizar tal autonomia, pois "há resistências da sociedade, do Congresso e do PT".
Para Palocci, porém, a institucionalização da autonomia do BC é "um tema que temos de discutir, pois nos países onde isso ocorreu houve melhoria na política monetária". (SANDRA BALBI)


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