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TENSÃO PRÉ-COPOM
Ministro acha que se deve perseverar na política fiscal e monetária
Para Palocci, só aperto fiscal
maior possibilita juro baixo
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, deixou claro ontem que nada muda na política
fiscal e monetária. "Se ao longo do
tempo o Brasil consolidar um
ajuste fiscal maior, vai poder ter
juros menores", afirmou à véspera da reunião do Banco Central
que poderá elevar a taxa básica.
O ministro falou ontem a empresários e economistas durante o
1º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas e, durante sua
exposição, mais de uma vez afirmou que a inflação está sob controle, mas que ela continua sendo
a preocupação central do governo. "Apesar da vitória contra a inflação, desde o Real, demoramos
para ter a convicção de que precisamos de um esforço fiscal efetivo, que só foi retomado em 1999.
Essa é a questão-chave para o
equilíbrio de longo prazo da economia", disse.
Palocci afirmou que é preciso
"perseverar na política fiscal e
monetária". Pela manhã, o ministro José Dirceu (Casa Civil) disse,
no mesmo evento, que o desafio
do país é que "não haja retrocesso
na agenda do desenvolvimento,
que não sejamos tolhidos".
Ao contrário de Dirceu, Palocci
não comentou as sinalizações
emitidas pelo Banco Central de
uma possível alta dos juros, atualmente em 16% ao ano.
Palocci riu quando o ex-ministro Delfim Netto afirmou, ironicamente, durante os debates, que
torce para que haja um aumento
de 1,5 ponto percentual na taxa de
juros amanhã. "Aí vamos provar
quem tem razão: ou o Brasil cresce mais do que o previsto -e eu
me retiro de cena- ou então, pelo amor de Deus, se não souberem
o que estão fazendo, que o façam
mais devagar", afirmou Delfim.
Para o ex-ministro, o impasse
em que se encontra a política monetária, atualmente, é que o governo estabeleceu metas de inflação muito ambiciosas. O centro
da banda deste ano é de 5,5% e
não deve ser cumprido. "Tentamos fazer em pouco tempo [o
controle da inflação] o que outros
países, como o Chile, fizeram em
12 anos. Com isso, o governo
comprometeu o crescimento."
Chance de ouro
Para Palocci, o Brasil combina,
neste momento, um forte ajuste
fiscal, inflação sob controle, superávit comercial e crescimento econômico. Ele destacou que o uso
da capacidade industrial é elevado, mas não justifica alarme. "O
país tem uma chance de ouro,
neste momento, para tornar-se
competitivo diante dos principais
países do mundo. Os investimentos estão crescendo, embora não
sejam espetaculares."
Ele descartou a idéia, levantada
pelo coordenador do Fórum, Luiz
Carlos Bresser-Pereira, de que o
Banco Central brasileiro adote
modelo semelhante ao do Fed (o
BC dos EUA), que, pela lei americana, visa o controle da inflação e
a geração de emprego.
"O BC tem um instrumento,
que é o juro. Com isso, não consegue controlar todas as variáveis
macroeconômicas. Se colocarmos metas de emprego e de crescimento, junto com a de inflação,
não sei onde ele iria focar sua política", afirmou. Para Dirceu, "o BC
deveria perseguir também metas
de emprego e crescimento".
Outro ponto de divergência entre os dois ministros, que compareceram em horários diferentes
ao Fórum, foi com relação a autonomia do BC.
Para Dirceu, "ninguém tem dúvidas de que o BC já é autônomo
e, agora, com o foro privilegiado
para o seu presidente, essa autonomia é real, embora não institucional". Segundo ele, é difícil institucionalizar tal autonomia, pois
"há resistências da sociedade, do
Congresso e do PT".
Para Palocci, porém, a institucionalização da autonomia do BC
é "um tema que temos de discutir,
pois nos países onde isso ocorreu
houve melhoria na política monetária".
(SANDRA BALBI)
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