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OPINIÃO ECONÔMICA
Pacote de bondades
BENJAMIN STEINBRUCH
O ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso fez uma
palestra em agosto para sociólogos de Berkeley, na Califórnia. No
meio da conferência, cujo tema
era o futuro do neoliberalismo no
Brasil e na América Latina, ele
saiu do texto e disse o seguinte:
"Precisamos expandir os impostos, embora a idéia não seja popular".
Segundo relato da jornalista Leda Beck, esse foi o momento de
maior sucesso na conferência, cuja platéia era formada majoritariamente por representantes da
esquerda americana. A frase não
condiz muito com o discurso neoliberal que dominou o governo
passado, mas reflete aquilo que se
deu na prática durante o período
FHC. A carga tributária bruta no
Brasil, que era de 25,8% do PIB
em 1993, subiu para 29,4% em
1995, primeiro ano de FHC, depois foi para 31,7% em 1999 e para 35,6% em 2002. Neste ano, segundo estimativas, deve ficar em
torno de 37%.
Governos adoram aumentar
impostos, a despeito da impopularidade dessa medida e de seus
discursos sempre favoráveis à redução da carga tributária. O presidente Lula, durante a campanha eleitoral e no programa do
PT, jurou de pés juntos não aumentar a carga. Mas, mesmo assim, descumpriu a promessa. No
ano passado, o governo manteve
congelada a tabela do Imposto de
Renda, o que elevou a carga sobre
a classe média em R$ 3 bilhões.
Ao mesmo tempo, elevou a alíquota da Cofins de 3% para 7,6%.
Feita sob o pretexto de acabar
com a cumulatividade da Cofins,
uma velha reivindicação das empresas, essa medida acabou promovendo um aumento de arrecadação de R$ 10 bilhões neste ano.
Volto ao tema da carga tributária por sugestão de leitores. Em
artigo em agosto (Folha, 17/8),
propus que o país deveria preferencialmente olhar para a frente
e projetar seu futuro, e não ficar o
tempo todo remoendo erros do
passado. Ao ler isso, alguns leitores enviaram e-mails nos quais
lembraram que o país poderá
crescer muito mais rapidamente
se houver uma redução de impostos.
O momento, de fato, é propício
para essa ousadia. A economia
voltou a crescer, o que eleva naturalmente a receita pública e abre
espaço para desoneração de alguns setores altamente prejudicados pela carga de impostos. Reconheça-se que, nos últimos meses,
até envergonhado com o crescimento espantoso da arrecadação
federal, que de janeiro a julho superou as previsões mais otimistas
em R$ 5 bilhões, o governo cortou
alguns impostos. Baixou o IPI sobre bens da capital de 5% para
2%, excluiu as receitas financeiras do pagamento de PIS-Cofins,
criou uma escala que diminui o
IR das aplicações financeiras com
prazo superior a um ano e ampliou isenções tributárias sobre letras hipotecárias para estimular a
construção civil.
Esse "pacote de bondades", como foi apelidado pela imprensa,
deve representar uma renúncia
fiscal de R$ 3 bilhões. "Renúncia",
na verdade, não é uma palavra
ideal. Melhor seria chamar isso de
"adiamento fiscal", porque os estímulos que essas reduções darão
à atividade econômica certamente permitirão que os cofres públicos recuperem esses recursos um
pouco mais à frente.
O crescimento sustentado da
economia vai depender da capacidade do governo de persistir nas
"bondades". A tentação de taxar
é terrível. Há poucas semanas,
por exemplo, o presidente Lula
anunciou um aumento da contribuição previdenciária das empresas de 20% para 20,6% para cobrir gastos com um "esqueleto"
do INSS. Felizmente, o presidente
Lula voltou atrás ao se defrontar
com resistências no Congresso.
Não pode ficar para as calendas, por exemplo, a já anunciada
intenção de criar um regime tributário especial para pré-empresas, negócios muito pequenos com
faturamento anual de até R$
36.000. Nesses casos, as pré-empresas não pagariam nenhum
imposto federal, exceto a Previdência, o que eliminaria quase
por completo a burocracia tributária e poderia trazer milhões de
pequenos negócios para a formalidade. Estima-se que existam
cerca de 12 milhões de microempresas totalmente informais, que
empregam 15 milhões de pessoas
e que não recolhem nenhum tributo, nem a Previdência.
O ex-presidente do Banco Central no governo FHC Armínio
Fraga está sentindo na pele o
quanto a carga tributária, a burocracia e a concorrência das empresas informais prejudicam os
negócios no país. Ele abriu um café no Rio e, embora animado com
a nova atividade, reclamou: "Empresas como a nossa, que fazem
tudo certinho, enfrentam uma
concorrência difícil; o país precisa
de uma reforma que simplifique
os custos e a tributação em geral".
Falou!
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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