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VIZINHO EM CRISE
Associações que representam detentores locais de títulos do governo reclamam de prazo de até 40 anos para receber
Proposta argentina não agrada a credores
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
A proposta do governo argentino de dividir os recursos destinados ao pagamento da dívida pública em moratória entre os que
aceitarem a oferta feita em julho,
conforme anunciou o ministro
Roberto Lavagna na semana passada, não agradou aos detentores
de títulos argentinos. Para eles,
não é possível medir o que a nova
oferta representa porque não se
sabe quantos aceitarão a troca de
títulos. Além disso, a novidade
não muda o longo prazo de pagamento da dívida.
Se depender dos credores argentinos, a aceitação será baixa.
As associações que representam
os cerca de 500 mil argentinos que
levaram o calote afirmam que não
vão aceitar a proposta. Nesse caso, pode não haver a troca. Segundo a consultoria Delphos Investment, para que haja troca de títulos é necessário no mínimo 70%
de aceitação, conforme o padrão
do mercado internacional.
Os credores argentinos são os
virtuais donos de 38,4% dos mais
de US$ 100 bilhões em moratória.
Boa parte desses cidadãos, porém, poderá não viver para receber nem os 25% do valor que investiu, que é o que o governo oferece pagar entre 30 e 40 anos. De
acordo com a Associação dos Danificados pela Pesificação e pelo
Default (ADAPD), a média de
idade dos detentores de títulos do
governo é de 60 anos. Em cálculo
otimista, quem trocar seus títulos
pelos papéis com prazos de pagamento mais curto, que é de 30
anos, deve terminar de receber o
dinheiro por volta dos 90 anos.
Considerando que a expectativa
média de vida na Argentina é de
74 anos, segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), muitos
só vão ver metade do dinheiro
oferecido pelo governo, ou seja,
cerca de 12,5% do investimento
original, se a aceitação for ampla.
"O governo está dizendo que vai
repartir todas as fichas entre os
que aceitarem jogar com ele. É
uma proposta muito infantil para
o tamanho do problema que temos", disse Horácio Vasquez, dirigente da ADAPD, ele mesmo
uma vítima do "default". Segundo Vasquez, muitos credores são
aposentados que investiram em
títulos do governo para aumentar
o valor de suas pensões. "Confiaram no governo para ter um velhice melhor, mas estão vivendo
um verdadeiro inferno", disse.
"A proposta de dividir o pagamento não é séria", disse Carlos
Baez Silva, da Associação dos
Poupadores da República Argentina (AARA).
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