São Paulo, terça-feira, 14 de setembro de 2004

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VIZINHO EM CRISE

Associações que representam detentores locais de títulos do governo reclamam de prazo de até 40 anos para receber

Proposta argentina não agrada a credores

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

A proposta do governo argentino de dividir os recursos destinados ao pagamento da dívida pública em moratória entre os que aceitarem a oferta feita em julho, conforme anunciou o ministro Roberto Lavagna na semana passada, não agradou aos detentores de títulos argentinos. Para eles, não é possível medir o que a nova oferta representa porque não se sabe quantos aceitarão a troca de títulos. Além disso, a novidade não muda o longo prazo de pagamento da dívida.
Se depender dos credores argentinos, a aceitação será baixa. As associações que representam os cerca de 500 mil argentinos que levaram o calote afirmam que não vão aceitar a proposta. Nesse caso, pode não haver a troca. Segundo a consultoria Delphos Investment, para que haja troca de títulos é necessário no mínimo 70% de aceitação, conforme o padrão do mercado internacional.
Os credores argentinos são os virtuais donos de 38,4% dos mais de US$ 100 bilhões em moratória. Boa parte desses cidadãos, porém, poderá não viver para receber nem os 25% do valor que investiu, que é o que o governo oferece pagar entre 30 e 40 anos. De acordo com a Associação dos Danificados pela Pesificação e pelo Default (ADAPD), a média de idade dos detentores de títulos do governo é de 60 anos. Em cálculo otimista, quem trocar seus títulos pelos papéis com prazos de pagamento mais curto, que é de 30 anos, deve terminar de receber o dinheiro por volta dos 90 anos.
Considerando que a expectativa média de vida na Argentina é de 74 anos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), muitos só vão ver metade do dinheiro oferecido pelo governo, ou seja, cerca de 12,5% do investimento original, se a aceitação for ampla.
"O governo está dizendo que vai repartir todas as fichas entre os que aceitarem jogar com ele. É uma proposta muito infantil para o tamanho do problema que temos", disse Horácio Vasquez, dirigente da ADAPD, ele mesmo uma vítima do "default". Segundo Vasquez, muitos credores são aposentados que investiram em títulos do governo para aumentar o valor de suas pensões. "Confiaram no governo para ter um velhice melhor, mas estão vivendo um verdadeiro inferno", disse.
"A proposta de dividir o pagamento não é séria", disse Carlos Baez Silva, da Associação dos Poupadores da República Argentina (AARA).


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