|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Condições melhoram, mas débito segue alto
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A dívida pública interna brasileira continua aumentando, o
que, a princípio, não quer dizer
muita coisa. Para quem acompanha as finanças de um país, o
importante é saber se a relação
entre a dívida total e o tamanho
da economia é alta e se ela está
subindo ou caindo.
A dívida brasileira é alta.
Ronda hoje os 50% do PIB
(Produto Interno Bruto, indicador da quantidade de riqueza
produzida por uma economia
no ano). Mas já foi maior -em
julho de 2002, ela chegou a estonteantes 60% do PIB. É para
tentar estabilizar essa relação e
fazê-la cair que o governo economiza recursos, fazendo o
chamado superávit primário.
É verdade que tal economia,
cuja meta é de 4,5% do PIB, sequer é suficiente para pagar os
juros, cujo montante pago, por
ano, ultrapassa os 8% do PIB.
Mas, por enquanto, ela tem se
mostrado suficiente para segurar a relação entre a dívida e o
tamanho da economia -relação que tem caído, apesar de
que lentamente, é verdade.
O perfil da dívida mudou bastante nesse período, o que é
bom. Hoje, 31,5% do endividamento interno é prefixado, proporção que, no final de 2003,
era de 12,51%. A participação de
títulos pós-fixados, ou seja,
atrelados à taxa Selic, ainda é
alta, de 42,5%, mas ela era, naquele mesmo mês de 2003, de
61,3%. Quanto mais atrelada à
Selic, menos previsível torna-se o comportamento da dívida .
A dívida prefixada ainda precisa crescer bastante para que o
perfil da dívida brasileira seja
parecido com o dos demais países. Mas o comportamento
atual mostra que ela está na direção correta.
Dívida externa
Há, no entanto, outro aspecto do perfil da dívida pública
brasileira que divide os analistas. O governo brasileiro tem
diminuído sua dívida externa.
Na prática, ele troca dívida externa por interna. O objetivo
aqui seria tornar o Brasil menos vulnerável a choques.
Com menos dívida externa e
mais exportações e reservas internacionais, o Brasil não sofreria tanto, caso uma crise na economia internacional viesse a
dificultar a vida dos países
emergentes. O câmbio não oscilaria muito, como em outros
períodos, e o custo da crise seria menor, já que o impacto inflacionário de uma desvalorização cambial forte não existiria,
ou seria mais ameno do que no
passado. Quando o real se desvaloriza, os preços dos importados sobem, contaminando a
inflação.
Para alguns analistas, no entanto, trocar dívida externa por
interna tem um custo alto. Os
juros brasileiros são os maiores
do mundo. Quando opta por
lançar um título no mercado
interno, e não no externo, o governo paga muito mais juros do
que pagaria caso o fizesse com
dívida externa.
O argumento do governo, repetido, por exemplo, pelo secretário Carlos Kawall (Tesouro), na semana passada, é que o
Brasil já passou por várias crises externas que o impediram
de crescer e que, portanto, proteger a economia desses choques precisa ser prioridade.
De fato, é difícil quantificar
os dois custos. Quanto o Brasil
paga a mais por optar pelo endividamento interno? Qual seria o custo, em termos de perda
de crescimento, de não acumular reservas e diminuir a dívida
externa, ou seja, qual seria o risco de não melhorar indicadores
de vulnerabilidade externa?
Dada a escolha do Tesouro, a
conclusão do governo é que o
custo de se financiar no mercado interno é menor do que o de
arriscar manter uma dívida
maior no mercado internacional. A dificuldade está sempre
em prever como será a próxima
crise, interna ou externa, e se as
medidas adotadas antes de ela
ocorrer eram realmente as melhores. O economista Barry Eichengreen, de Berkeley, costuma dizer que os países sempre
se preparam bem para enfrentar as crises que ocorreram ontem, mas nunca para as que vão ocorrer amanhã.
Texto Anterior: Dívida interna cresce R$ 25 bi em agosto Próximo Texto: Agência recorre ao STJ contra Justiça do Rio Índice
|