São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2008

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Governo Lula teme ajuste nos EUA após as eleições

Medidas do próximo presidente americano podem "atrapalhar" Brasil, diz ministro

Paulo Bernardo, do Planejamento, prevê que o país cresça 4% no próximo ano; Lula pede medidas que mantenham investimentos

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de ter uma previsão otimista para 2009, a equipe econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva teme aquilo que considera imponderável no ano que vem: o ajuste que o novo presidente norte-americano terá de fazer na economia de seu país.
Para compensar efeitos negativos desse processo no Brasil, Lula tem aconselhado seus ministros a tomar medidas para manter o ritmo de investimentos no país e, com isso, garantir taxas elevadas de crescimento da economia. Ele tem afirmado que o petróleo do pré-sal será fundamental.
"O próximo presidente americano terá de definir a saída da Guerra no Iraque, fortalecer o dólar, recuperar o mercado imobiliário e reduzir os déficits gêmeos [fiscal e externo]. O ano que vem será de ajuste por lá, mas não sabemos a sua intensidade, esse é o único dado que pode nos atrapalhar", afirma o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Ele acredita, contudo, que o Brasil vai crescer no mínimo 4% em 2009, um pouco acima das previsões mais pessimistas do mercado, que apontam para 3,5%, mas abaixo da meta oficial do governo de 4,5%.
Caso o clima externo seja bastante desfavorável, com um período mais longo de recessão nos países desenvolvidos, a equipe de Lula avalia reservadamente que o crescimento brasileiro pode ser menor, na casa dos 3,5%.
Uma taxa que o presidente não gosta, mas também não considera uma tragédia na hipótese de uma crise internacional mais profunda do que os cálculos iniciais.
Internamente, as atenções estão voltadas para dois fatores que podem pressionar negativamente a economia -o dólar em alta e as despesas públicas. Nos dois casos, contudo, a avaliação é que, por enquanto, estão sob controle e com possibilidades de correção de rumo se a situação piorar.
O dólar subindo, num primeiro momento, terá o efeito positivo de aumentar o valor das exportações, ajudando a melhorar as contas externas. Num segundo momento, pode pressionar a inflação com o encarecimento das importações. Mas isso tende a ser aliviado ao longo de 2009 com a entrada de investimentos externos, principalmente no setor petrolífero com o início dos negócios referentes ao pré-sal.
Quanto às despesas públicas, em elevação, a expectativa é que apresentem redução no próximo ano, já que não haverá eleição. E o governo pretende aprovar no Congresso algo que até agora não conseguiu: o projeto que limita o crescimento dos gastos com pessoal, que neste ano deram um salto.
Além disso, o governo acredita que uma leve desaceleração econômica, que já vai começar no segundo semestre deste ano, ajudará no combate à inflação. O Palácio do Planalto, por sinal, espera que essa redução no ritmo da economia leve o Banco Central a interromper a alta de juros em sua última reunião neste ano.

Microeconomia
Apesar da incerteza externa e do câmbio em alta, a equipe de Lula não crê num tranco na economia porque hoje o país estaria "menos dependente" dos fatores internacionais.
"A oposição costuma dizer que o Brasil cresceu sob Lula por conta dos ventos externos favoráveis. Só que o governo tomou uma série medidas microeconômicas que aqueceram o mercado interno e aceleraram os investimentos", diz o ministro do Planejamento.
Paulo Bernardo cita as medidas na área de crédito, desoneração de impostos na construção civil e nas operações de investimentos e a lei de falência entre as que teriam garantido um melhor ambiente na economia brasileira.
"Evidentemente que não fizemos tudo", diz o ministro, citando a reforma tributária e o projeto que limita os gastos públicos com pessoal. Segundo ele, Lula espera conseguir aprová-los no próximo ano, já que em ano eleitoral isso dificilmente ocorreria.


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