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Sustentabilidade do avanço chinês é questionada
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
A maioria dos economistas
prevê que o PIB da China crescerá os 8% desejados pelo governo neste ano, a alta mais expressiva entre as 20 maiores
economias do mundo.
Mas críticas à sustentabilidade do modelo chinês e ao impacto do pacote de estímulo de
US$ 580 bilhões lançado no
ano passado também se tornaram mais frequentes.
O que os economistas se
questionam é se tal crescimento não é apenas uma bolha inflada pela gigantesca quantidade de empréstimos concedida
pelos bancos estatais chineses e
quando essa fonte irá secar.
Nos primeiros oito meses do
ano, foram emprestados 8,14
trilhões de yuans (R$ 2,1 trilhões) pelos bancos chineses.
Isso significa que emprestaram
nesse período o equivalente a
75% do PIB brasileiro de 2008.
Em sinal de ajuste, a quantidade de empréstimos no mês
passado caiu para 430 bilhões
de yuans (R$ 120 bilhões), quase um terço da média do primeiro semestre.
"Houve uma bolha nas ações
da Bolsa, que começa a desinflar, e temos uma outra bolha
imobiliária", disse à Folha o
economista Andy Xie, colunista da revista "Caijing" e sócio
da consultoria Rosetta Stone.
"Nossas empresas continuam produzindo mais do que
o necessário, e a maior parte
dos empréstimos concedidos
por bancos em 2009 foi para as
gigantes companhias estatais e
para governos provinciais e
municipais. O pacote não conseguiu chegar ao bolso da sociedade chinesa e dos microempresários ou realmente
estimular o consumo interno."
Para o ex-economista-chefe
do Morgan Stanley em Xangai,
"os lucros das empresas estatais deveriam começar a voltar
ao Estado e financiar educação,
saúde e habitação. Sem proteção social, não dá para pedir ao
chinês que gaste mais".
O governo chinês disse que
95% dos 20 milhões de migrantes rurais que perderam emprego em 2008 já retornaram
para as grandes cidades -70%
deles acharam trabalho, mas a
maioria aceita vagas sem contrato, por menos horas e com
salários ainda mais baixos.
Renda estagnada
Para o economista Ben Simpfendorfer, do Royal Bank of
Scotland, em Hong Kong, o
consumo doméstico e as exportações ainda enfrentam desafios e podem prolongar os desequilíbrios econômicos.
As exportações chinesas caíram 23% em agosto em relação
ao mesmo mês do ano passado.
O consumo doméstico chinês,
que cresceu 25% em média nos
últimos cinco anos, se expandiu em 15% neste ano. Ele representa só 30% do PIB chinês,
menos da metade do que nos
países desenvolvidos.
"É difícil ver como o consumo privado vai levar ao crescimento do PIB se o preço dos
alimentos está aumentando e a
renda média do chinês ficará
estagnada em 2009", diz Simpfendorfer. "Os dados sobre renda não são confiáveis. Mas o pacote de estímulo foi intensivo
em disponibilidade de capital,
não em geração de empregos.
Boa parte dos migrantes rurais
está desempregada ou ganhando menos que no ano passado."
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