São Paulo, segunda-feira, 14 de setembro de 2009

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Sustentabilidade do avanço chinês é questionada

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A maioria dos economistas prevê que o PIB da China crescerá os 8% desejados pelo governo neste ano, a alta mais expressiva entre as 20 maiores economias do mundo.
Mas críticas à sustentabilidade do modelo chinês e ao impacto do pacote de estímulo de US$ 580 bilhões lançado no ano passado também se tornaram mais frequentes.
O que os economistas se questionam é se tal crescimento não é apenas uma bolha inflada pela gigantesca quantidade de empréstimos concedida pelos bancos estatais chineses e quando essa fonte irá secar.
Nos primeiros oito meses do ano, foram emprestados 8,14 trilhões de yuans (R$ 2,1 trilhões) pelos bancos chineses. Isso significa que emprestaram nesse período o equivalente a 75% do PIB brasileiro de 2008.
Em sinal de ajuste, a quantidade de empréstimos no mês passado caiu para 430 bilhões de yuans (R$ 120 bilhões), quase um terço da média do primeiro semestre.
"Houve uma bolha nas ações da Bolsa, que começa a desinflar, e temos uma outra bolha imobiliária", disse à Folha o economista Andy Xie, colunista da revista "Caijing" e sócio da consultoria Rosetta Stone.
"Nossas empresas continuam produzindo mais do que o necessário, e a maior parte dos empréstimos concedidos por bancos em 2009 foi para as gigantes companhias estatais e para governos provinciais e municipais. O pacote não conseguiu chegar ao bolso da sociedade chinesa e dos microempresários ou realmente estimular o consumo interno."
Para o ex-economista-chefe do Morgan Stanley em Xangai, "os lucros das empresas estatais deveriam começar a voltar ao Estado e financiar educação, saúde e habitação. Sem proteção social, não dá para pedir ao chinês que gaste mais".
O governo chinês disse que 95% dos 20 milhões de migrantes rurais que perderam emprego em 2008 já retornaram para as grandes cidades -70% deles acharam trabalho, mas a maioria aceita vagas sem contrato, por menos horas e com salários ainda mais baixos.

Renda estagnada
Para o economista Ben Simpfendorfer, do Royal Bank of Scotland, em Hong Kong, o consumo doméstico e as exportações ainda enfrentam desafios e podem prolongar os desequilíbrios econômicos.
As exportações chinesas caíram 23% em agosto em relação ao mesmo mês do ano passado. O consumo doméstico chinês, que cresceu 25% em média nos últimos cinco anos, se expandiu em 15% neste ano. Ele representa só 30% do PIB chinês, menos da metade do que nos países desenvolvidos.
"É difícil ver como o consumo privado vai levar ao crescimento do PIB se o preço dos alimentos está aumentando e a renda média do chinês ficará estagnada em 2009", diz Simpfendorfer. "Os dados sobre renda não são confiáveis. Mas o pacote de estímulo foi intensivo em disponibilidade de capital, não em geração de empregos. Boa parte dos migrantes rurais está desempregada ou ganhando menos que no ano passado."


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