São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AGRICULTURA

Com a privatização, cresceu o uso da malha ferroviária, mas ainda faltam investimentos em infra-estrutura

Ferrovias sucateadas ampliam o gargalo

DA REPORTAGEM LOCAL

Nos últimos cinco anos, a participação da malha ferroviária no transporte da safra de soja passou de 28% para 33%, segundo dados da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais).
Entretanto para especialistas em logística, no curto prazo, as deficiências do escoamento da produção agrícola no Brasil continuarão a prejudicar a competitividade do agronegócio brasileiro.
Para o consultor da FNP Consultoria, Adriano Timossi, o motivo para o crescimento do transporte de soja pelas ferrovias foi a privatização do setor ferroviário brasileiro em 1996.
Com isso, as empresas privadas passaram a investir na recuperação das malhas ferroviárias já existentes e na aquisição de novas locomotivas e vagões.
Mesmo assim a qualidade das ferrovias brasileiras ainda é deficiente, tanto com relação ao número de rotas para escoamento de grãos quanto em relação à infra-estrutura.
Atualmente, os trens brasileiros não ultrapassam a velocidade média de 25 km/h. Nos Estados Unidos, chega a 42 km/h. Outro exemplo do contraste do desempenho entre ferrovias brasileiras e norte-americanas está na extensão da malha: 320 mil km nos Estados Unidos contra cerca de 20 mil km no Brasil.
Hoje a ALL-Delara, uma das maiores empresas de logística do país, por exemplo, transporta 8 milhões de toneladas de grãos por ano. O volume é o dobro do registrado em 1997.
De acordo com o diretor financeiro da empresa, Sérgio Pedreiro, a ALL "herdou" 260 locomotivas do governo federal, das quais 140 constituíam uma "frota morta", ou seja, composta por veículos sucateados.

Investimento
A média de investimento anual para a revitalização dos 7.200 km de rodovias administrados pela empresa no Brasil é de R$ 100 milhões. Cerca de 36% desses recursos vai para as locomotivas e 29% para a manutenção das vias.
Hoje, 80% do escoamento de grãos da empresa já está concentrado no modal ferroviário.
De acordo com avaliação da empresa, pelo menos no Sul do país não há risco iminente de "paradão". "Não há necessidade de expandirmos a malha atual. Temos condição de dobrar a produção transportada com a otimização da capacidade já instalada", afirmou Pedreiro.
Entretanto, para Paulo Fleury, professor do Centro de Estudos em Logística da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), os investimentos na construção de novas ferrovias e novas hidrovias no Brasil é uma das principais soluções para aliviar a pressão sobre o escoamento do transporte de grãos.
"O transporte via ferrovias é recomendável para distâncias superiores a 600 km e para mercadorias de menor valor agregado, como grãos e minérios. Por isso é tão importante investir na malha férrea. Sem isso, estamos ativando uma bomba-relógio para o escoamento das próximas safras", conclui o professor Fleury.
(CC e JSO)


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Ministério admite problema, mas diz que investimentos cresceram
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.