São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MERCADO FINANCEIRO

Vencimento atrelado ao câmbio e primeiras pesquisas do segundo turno devem causar instabilidade

Semana vai concentrar dívida e pesquisas

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A semana tem ingredientes explosivos: um dos maiores vencimentos da dívida pública atrelada ao câmbio do ano, as primeiras pesquisas eleitorais do segundo turno e as novas medidas do Banco Central para conter a escalada do dólar. Para completar, o feriado de hoje nos Estados Unidos esvazia os negócios na Bolsa.
A avaliação de analistas é que as novas regras não ajudam a Bovespa. Investidores temem uma elevação dos juros. Na sexta-feira, na contramão da forte alta no mercado de ações americano, a Bolsa fechou em queda de 0,12%.
Para uma corrente de analistas, a Bovespa começou a cair naquele dia em razão do movimento de arbitragem (lucro sem risco em transações simultâneas em mercados em desequilíbrio) com ADRs (American Depositary Receipts, certificados de depósitos de ações negociados nos EUA).
Com a queda do dólar, papéis do mercado doméstico ficaram mais caros em relação aos preços dos respectivos ADRs. Investidores, então, venderam ações na Bovespa para comprar ADRs das mesmas empresas.
Como quando surgem oportunidades de arbitragem os preços logo se ajustam, essa estratégia não forma uma tendência, lembra Luiz Antônio Vaz das Neves, diretor da corretora Planner.
Segundo analistas, a menos que o mercado abra hoje em queda acentuada, a repercussão maior na Bovespa poderá ocorrer apenas amanhã, com os mercados reabertos nos Estados Unidos.
Sem a referência dos ADRs hoje, em razão do feriado nos EUA (Dia de Cristóvão Colombo), a Bolsa, com pouco volume, pode ficar mais sujeita à especulação.

Pesquisas
"As medidas do BC são boas, mas, para a Bolsa, o que mais interessa é a pesquisa", afirma o estrategista para renda variável do JP Morgan, Pedro Martins.
O resultado da primeira pesquisa do Datafolha publicada depois do primeiro turno contraria a expectativa do mercado, que estimava uma diferença de no máximo 20 pontos percentuais entre os candidatos à Presidência.
De acordo com a sondagem realizada na sexta-feira passada, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 26 pontos percentuais a mais que José Serra (PSDB).
"O mercado vai se assustar, mas espera que Serra se recupere depois. No exterior é que repercute muito mal- o que pode gerar venda de ADRs", diz Neves.
Investidores estrangeiros preferem Serra a Lula porque vêem no tucano a continuidade da atual política econômica.
A propaganda eleitoral no rádio e na TV volta ao ar hoje. Novas pesquisas estão previstas para serem divulgadas: a do Datafolha, no próximo fim de semana e a do Ibope, amanhã.
Para alguns analistas, a Bolsa e o dólar estão com dinâmicas muito descoladas nos últimos dias, em razão do esvaziamento do mercado acionário.
"A maioria dos investidores está ganhando dinheiro com o câmbio, não está na Bolsa. O mercado de ações tem um horizonte mais longo: conhecer a política econômica e como será o crescimento em 2003", diz o diretor do Unibanco Asset Management, Jorge Simino.

Dívida
Há semanas o mercado se preocupa com a rolagem da dívida pública atrelada ao câmbio no valor de US$ 3,62 bilhões que vence na quinta-feira.
A redução da liquidez dos bancos, um dos efeitos das medidas anunciadas pelo BC, deverá acalmar o câmbio, ao menos no curto prazo, e facilitar a rolagem.
"É o pacote "shake off", para derrubar os que estão em cima da árvore com dólares na mão à espera do vencimento",diz Neves.
Mantida a queda da cotação do dólar e do Ptax (taxa média do dólar pesquisada pelo BC, usada para o cálculo dos rendimentos dos cambiais) o governo deverá pagar menos para resgatar seus títulos.


Texto Anterior: Teles: Anatel adia pela terceira vez a venda das sobras das licenças das bandas D e E
Próximo Texto:
FOLHA INVEST
Investimento: Previdência privada ganha mais uma opção

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.