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São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2003

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CITRICULTURA

"Morte súbita dos citros", que atinge plantações de SP e MG, é transmitida por agente infeccioso desconhecido

Doença se alastra nos laranjais por infecção

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Agora é científico. A "morte súbita dos citros" (MSC), doença que está se alastrando pelos laranjais do norte de São Paulo e do Triângulo Mineiro, é causada por um agente infeccioso. Essa recente descoberta dos pesquisadores é preocupante. Pôs em alerta os governos e os citricultores do país, maior produtor mundial da fruta e do suco.
A hipótese de que a manifestação da doença estivesse associada a fatores climáticos e ao tipo de solo deixou de prevalecer com as experiências, com duração superior a um ano, realizadas pelo Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) na cidade de Comendador Gomes (MG), primeira localidade onde a MSC foi identificada, em 2001.
Essa hipótese era considerada a mais provável pelo fato de a doença estar aparentemente restrita às duas regiões dos Estados de São Paulo e Minas Gerais.
Mas os experimentos provaram que a MSC é transmissível e causada por um agente infeccioso ainda desconhecido.

Estragos
Já são 1,5 milhão de plantas doentes no país. No final de 2001, eram cerca de 330 mil. O Estado de São Paulo tem 190 milhões de plantas; Minas Gerais, 11 milhões. Os prejuízos financeiros beiram os R$ 80 milhões.
No início do ano passado, eram 11 os municípios com registro da doença. Agora, são 23, sendo 12 municípios em São Paulo e 11 no Triângulo Mineiro. Varreduras estão sendo feitas fora da área de prevalência da doença para identificar eventuais novos focos.
"A MSC pode estar muito além do que a gente imagina. Podemos estar atrasados em relação a ela", disse Renato Bassanezi, pesquisador do Fundecitrus que estuda principalmente a epidemiologia (formas de propagação).
Um desafio dos cerca de 40 pesquisadores envolvidos nos estudos é saber qual o agente causador (etiologia). A hipótese principal é que sejam mutações genéticas do vírus da "tristeza", uma doença que arrasou os laranjais paulistas nos anos 40 (século passado). O inseto pulgão-preto seria o principal vetor da MSC.

Combate
Atualmente existem 12 centros de pesquisa empenhados na causa, sendo nove no Brasil e os outros três na França, na Espanha e nos Estados Unidos, onde até o Departamento de Agricultura está envolvido.
A comprovação de que a MSC é transmitida por mudas contaminadas e produzidas sem os devidos cuidados ocorreu a partir de experiências com tecidos de plantas infectadas e também sadias, retiradas de regiões sem incidência da MSC. A contaminação ocorreu. Pior: os sintomas da doença podem demorar até 13 meses para aparecer.
Assim, mudas sobre porta-enxertos, mesmo as tolerantes à MSC, apesar de não apresentarem os sintomas, podem estar contaminadas e espalhar a doença.

Limão-cravo
A MSC, por enquanto, só atingiu os pés de laranja enxertados em limão-cravo. O problema é que 82% das enxertias no parque citrícola brasileiro estavam sendo feitas com essa técnica, que é utilizada desde 1950, uma vez que ela é resistente ao vírus da "tristeza".
Bassanezi disse que, a longo prazo, o objetivo das pesquisas é descobrir porta-enxertos que substituam o limão-cravo.
Experiências como essa já estão ocorrendo com três tipos: as tangerinas "sunki" e "cleópatra" e o citrumelo "swingle".
Esses tipos se mostram toleráveis à MSC, mas não existe ainda comprovação científica, uma vez que a observação se deu em campo. Em pomares em que as plantas enxertadas sobre limão-cravo estavam com a doença, as árvores com esses outros tipos não tinham a MSC.
Em um ano, houve redução de 49,34% na produção de porta-enxertos de limão-cravo em 396 viveiros telados de São Paulo e do Triângulo Mineiro. Mas a substituição esbarra na falta de sementes dos outros tipos de porta-enxertos. O Brasil depende da importação, que precisa ser regularizada pelo governo federal.


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