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BC teme que cortes alimentem inflação
Banco vê risco de ter de frear economia em 2008 caso a capacidade produtiva não dê conta da demanda e o preços venham a subir
Mesmo que o Copom opte
por manter a Selic, governo
poderá sustentar o discurso
de que os juros estão no
nível mais baixo da história
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nas últimas duas semanas, o
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, atuou nos
bastidores do governo preparando o terreno para uma parada nos cortes dos juros. A decisão oficial sobre a trajetória da
taxa Selic será do Copom (Comitê de Política Monetária)
-que tem mais duas reuniões
agendadas para este ano, uma
delas nesta semana-, mas Meirelles já começou a pavimentar
o caminho para uma corrente
que ganhou força nos debates
internos do BC: o ritmo mais
acelerado de crescimento da
economia se tornou uma ameaça para a inflação em 2008.
Tentando evitar que o BC fique acuado e seja alvo de fogo
amigo, caso os diretores resolvam suspender a queda dos juros já nesta semana, Meirelles
entrou em campo e colocou essa possibilidade em discussão.
Enquanto ele fez a costura
política com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e na cúpula
da equipe econômica, os diretores do BC foram encarregados de lançar a mesma idéia nos
contatos com o mercado financeiro, reforçando preocupações que constam da ata da última reunião do Copom e também do relatório trimestral de
inflação, divulgado há 20 dias.
Assim, procura-se, por um lado, dar argumentos ao governo
para ajustar o discurso em defesa do BC. Por outro, a dúvida
dos analistas fará a opção por
uma parada no corte dos juros
ser repassada nos relatórios enviados aos clientes. Dessa forma, se parar ou reduzir um
pouco os juros nesta semana, o
BC não causará surpresas ou
instabilidade no mercado.
Segundo a Folha apurou, o
principal argumento do BC
tem sido o de que o Copom não
pode colocar em risco o crescimento da economia para os
próximos anos. Se a aceleração
na demanda por bens e serviços não for acompanhada simultaneamente pelo aumento
na capacidade produtiva das
empresas, há risco de o BC ter
de frear o crescimento da economia em 2008 para evitar a
disparada da inflação.
Esse é o maior temor de Lula,
que não quer repetir o ocorrido
no primeiro mandato, quando
o crescimento verificado em
2004 foi contido pela política
monetária no ano seguinte. De
olho nas eleições de 2010, Lula
não quer altas e baixas no crescimento da economia e tem cobrado do BC e do ministro Guido Mantega (Fazenda) uma taxa em torno de 5% ao ano.
Para Meirelles, mesmo que o
Copom opte por suspender a
redução da Selic, o governo poderá sustentar o discurso de
que os juros estão no nível mais
baixo da história tanto em valor nominal como real (descontada a inflação).
Com isso, a estratégia de
Meirelles já teria apoio até na
Fazenda. Apesar de o ministro
Guido Mantega discordar do
diagnóstico de diretores do BC,
ele não quer causar polêmica
pública. O próprio Lula destacou, em discurso durante seminário do setor da construção civil, que a indústria precisa aumentar os investimentos para
evitar que a inflação volte. Isso
porque as empresas já estão
utilizando mais de 85% da capacidade de produção.
Esse é um sinal de que as indústrias poderão não dar conta
de atender o crescimento mais
forte da demanda. Até o ministro da Previdência, Luiz Marinho, tradicionalmente crítico
da atuação do BC, foi mais cauteloso ao comentar a política
monetária e disse que é preciso
deixar o BC agir com calma.
Divisão
O risco de pressão inflacionária divide os próprios diretores
do BC. Uma corrente vem defendendo, desde julho, desaceleração nos cortes da taxa. Mas
tem sido vencida por outra que
vê espaço para novos cortes.
O desempenho recente da inflação, dando sinais de que a
pressão dos alimentos arrefeceu, pode alimentar essa tese,
mas a hipótese, avaliam, deve
ser neutralizada pelo aumento
das vendas na indústria além
das expectativas.
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