São Paulo, domingo, 14 de outubro de 2007

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Acesso a juro menor permite pedágio baixo, diz especialista

Para ex-diretor da ANTT, não há modelo ideal para concessão

MARINA FALEIROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


Conseguir criar modelos de rodovias que financiem seus próprios investimentos é um desafio travado por diversas nações do mundo. Para Luiz Afonso Senna, secretário dos Transportes de Porto Alegre e autor do livro "Rodovias Auto-Sustentáveis: O Desafio do Século 21", não há um modelo ideal para as concessões.
Senna afirma que os preços baixos de pedágio fechados no último leilão de rodovias, que levantaram dúvidas sobre a capacidade das empresas de promoverem os investimentos demandados, são simples de entender. "Basta comparar com o financiamento de um carro." Ele conta que adquiriu um carro em 48 vezes há três anos e hoje, com a mesma prestação, poderia adquirir outro bem de maior valor. "Mas fiz a dívida no passado, quando o custo era mais alto", disse.
No caso da OHL, que levou cinco trechos no último leilão, Senna diz ser provável que a empresa tenha a estratégia de ser a primeira no Brasil. "E ela tem acesso a empréstimos na Europa, com taxas de juros ainda menores do que as do Brasil, em torno de 4%."
Segundo o secretário, não pode haver uma "histeria coletiva" por causa das tarifas fixadas no último leilão. "Se baixarem o valor dos pedágios já existentes, pode ser algo irresponsável e perigoso." Senna, que já foi diretor da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), diz que o TCU (Tribunal de Contas da União) recebe anualmente todos os contratos. "Não se pode querer quebrá-los agora."
Para ele, a questão do preço passa pelo fato de as pessoas associarem o serviço como sendo gratuito. "Nós pagamos para utilizar energia, portos e ferrovias, mas a estrada a população acha que é de graça."
De acordo com Senna, há uma constatação no mundo todo de que não há meios de manter uma malha rodoviária apenas com recursos públicos. "O Reino Unido já anunciou neste ano que, a partir de 2014, todas as suas rodovias de alta velocidade serão pedagiadas."
Na Alemanha, Senna lembra que o pedágio é cobrado eletronicamente. Os carros têm um chip que os identifica ao passar por leitores. O sistema consegue medir quanto a pessoa utilizou da rodovia, e a conta chega à casa do motorista.
Senna considera positivo o programa no Estado de São Paulo. "Ninguém quer pagar mais, porém São Paulo está consolidado. Tem uma malha rodoviária adequada, qualificada e suficiente, com logística melhor."
Para ele, as indústrias preferem ir para São Paulo, mesmo com um pedágio maior, a ir para Minas Gerais, que tem rodovias em "estado precário".


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