São Paulo, domingo, 14 de outubro de 2007

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Grandes máfias alimentam a pirataria de filmes e CDs

Esquema ilegal tem origem na Ásia e passa por quadrilhas instaladas no país

"Piratas" brasileiros baixam arquivos na internet e os enviam para reprodução em fábricas clandestinas dentro e fora do país

João Wainer/Folha Imagem
Clientes escolhem DVDs piratas em rua de comércio de SP


CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES

DA REPORTAGEM LOCAL

O consumidor que compra nos camelôs cópias de "Tropa de Elite" ou de "Duro de Matar 4" -filmes em cartaz nos cinemas do país- alimenta uma indústria que está nas mãos de máfias internacionais e de quadrilhas instaladas no país.
A pirataria -ao menos a maior parte dela- tem origem nos países asiáticos, onde as "matrizes piratas" (de filmes, CDs de música, games e softwares) são feitas e reproduzidas em larga escala para abastecer o mercado mundial, inclusive o brasileiro, segundo o CNCP (Conselho Nacional de Combate à Pirataria), ligado ao Ministério da Justiça.
Os produtos piratas atravessam o mundo em navios que chegam a trocar de bandeira na Europa para despistar e confundir a fiscalização no Brasil.
"Há uma indústria do crime organizado atrás dos CDs, dos DVDs e dos games piratas, concentrada na China. Quadrilhas oferecem grandes prêmios a quem "vaza" versões antes de lançamentos, produzem em escala industrial na China e trazem produtos ao Brasil com preço subfaturado. Declaram um valor pífio na guia de importação e recolhem impostos sobre quase nada", diz Alexandre Cruz, que preside o FNCP (Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade), que reúne empresas de 30 setores produtivos. "A produção é asiática em sua esmagadora maioria."
Associações que representam e combatem a informalidade no setor de cinema e música acreditam que a pirataria de filmes estrangeiros comece principalmente pelo "camcording" -gravação feita com câmeras de vídeo portáteis nos cinemas dos Estados Unidos e do Canadá nos primeiros dias de exibição de um filme. O que vem da China, segundo as produtoras, são principalmente as mídias virgens.
Quando o filme chega à internet, os "piratas" brasileiros fazem o download e disparam essa "matriz pirata" para ser reproduzida em fábricas clandestinas dentro e fora do país. São os chamados "laboratórios".
O resultado é imediato: toneladas de filmes são vendidas nas ruas de comércio popular. "Três por R$ 10", anunciam os ambulantes. Um DVD original chega a custar R$ 39.
Tanto o governo como as associações dizem que a indústria de DVDs e CDs piratas se sofisticou e expandiu sua logística fora e dentro do Brasil, com a criação de "laboratórios" espalhados por todo o país.
De janeiro a setembro, 109 "laboratórios" foram localizados por policiais no país. E, de janeiro a outubro, 152 pessoas foram condenadas por prática de pirataria de filmes e de CDs.
Em cada "laboratório" são instalados, em média, de 10 a 20 "queimadores", como são conhecidos, no vocabulário dos "piratas", os computadores utilizados para reproduzir as mídias. Juntos, esses equipamentos têm capacidade para fazer centenas de cópias por dia.
Parte dos equipamentos usados para "queimar" os CDs e DVDs vem de Miami, via importações ilegais, diz a Receita. Na internet, é possível achar gravadores, com capacidade para reproduzir 11 DVDs simultaneamente, por R$ 2.190.
"A produção e a distribuição de DVDs e CDs piratas no Brasil são comandadas por redes mafiosas envolvidas com a corrupção de agentes públicos e com a lavagem de dinheiro", diz Luiz Paulo Barreto, secretário-executivo do Ministério da Justiça, que preside o CNCP.
As investigações identificaram que as cópias piratas são feitas na Ásia (China) ou em países vizinhos (Paraguai e Uruguai). Entram no país por fronteira seca, em cidades como Pedro Juan Caballero e Ciudad del Leste (Paraguai). Também chegam pela Bolívia, pelo Uruguai e por portos como Santos, Paranaguá e Vitória.
"Essa indústria possui um sistema de logística comum com o tráfico de armas e drogas. Nas apreensões, vimos que drogas, munições e componentes de armamentos estavam nos mesmos carregamentos de produtos piratas", diz Cruz.


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