|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Alemanha ajudará bancos com 500 bi de euros
É a maior intervenção estatal na economia desde a Segunda Guerra; governo já perdeu esperança de equilibrar orçamento
Valor equivale a quase um ano da receita fiscal alemã; para a chanceler Angela Merkel, "a confiança é a única moeda que vale"
RENATE KRIEGER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BONN
A Alemanha anunciou ontem
a maior intervenção estatal na
economia do país desde o fim
da Segunda Guerra Mundial.
O governo encaminhou ao
Bundestag (Câmara dos Deputados) um pacote que poderá
atingir 500 bilhões de euros (US$ 677
bilhões, ou R$ 1,47 trilhão) para amortecer os efeitos da crise
financeira mundial no país.
É o maior plano de resgate
dos países da zona do euro, que
decidiram anteontem, em reunião extraordinária, adotar
medidas para restabelecer a
confiança na economia. "A
confiança é a única moeda que
vale. Numa economia (social)
de mercado, a tarefa do Estado
é ter o controle. O Estado é o
guardião da ordem", disse a
chanceler Angela Merkel, na
coletiva de imprensa após o
anúncio do pacote. O montante
equivale a praticamente um
ano da receita fiscal alemã.
A principal peça do plano
alemão é o chamado Fundo de
Estabilização do Mercado Financeiro. O ministro das Finanças, Peer Steinbrück, terá
poder de disponibilizar até
400 bilhões de euros em garantias estatais de crédito até dezembro
de 2009 para reativar os empréstimos e restabelecer a confiança entre os bancos.
Para Volker Kauder, líder da
fração da União dos Democratas-Cristãos (CDU) no Bundestag, os créditos são como um
orçamento extra do governo e
os 400 bilhões de euros, um valor teórico. "Estamos partindo do
princípio de que não vamos
precisar realmente desse dinheiro. É uma medida para que
os bancos voltem a confiar uns
nos outros", disse.
Os bancos que quiserem usar
o mecanismo vão ter de pagar
uma "porcentagem adequada"
da quantia emprestada. Os empréstimos terão validade de, no
máximo, 36 meses. De acordo
com o quadro decidido ontem
pelos países da zona do euro, as
instituições têm até dezembro
de 2009 para pedir a ajuda financeira.
A nova lei passará a vigorar
na sexta-feira, após uma aprovação-relâmpago pelo Parlamento e pelo Senado.
Bancos mais fracos
A segunda parte do plano alemão prevê uma injeção de
100 bilhões de euros no sistema financeiro. Desse total, 20 bilhões de euros
poderão ser usados para garantir os créditos estatais. Os 80
bilhões que restam servirão para recapitalizar bancos em dificuldades. O dinheiro virá de dívidas que o governo vai criar
para disponibilizar ao fundo.
Com essa medida, ao mesmo
tempo em que protege o país
dos efeitos da crise, o governo
alemão toma o controle dos
bancos do país. O plano de salvamento confere a Steinbrück
o poder de influência sobre a
estratégia de instituições financeiras em dificuldades. Ele
também pode determinar a
composição dos fundos e a política de dividendos.
Outras "regras severas" listadas pelo Ministério das Finanças em seu site incluem um teto para os salários dos dirigentes dos bancos, que também
não receberiam bônus ou outros benefícios.
Steinbrück poderia até ordenar empréstimos para empresas de pequeno e médio portes,
e o governo chegaria a participar do lucro dos bancos.
Conta para Estados
Por causa da crise, Merkel
confirmou ontem que o governo não deverá conseguir cumprir a meta de equilíbrio orçamentário para 2011. "Não podemos excluir o fato de que não
vamos atingir esse objetivo."
Os custos do pacote de resgate alemão só serão conhecidos
em dezembro de 2009, quando
o salvamento expira. O governo
quer arcar com 65% da conta, e
o resto deverá ser pago pelos
Estados (Länder) alemães.
Essa proposta encontrou resistência em algumas regiões,
como a Bavária (sul). "Não queremos bloquear a aprovação do
pacote, mas os Estados e as comunas não podem assumir responsabilidade pela totalidade
do mercado financeiro alemão", disse Erwin Huber, que
está deixando a presidência da
União Social Cristã (CSU).
Texto Anterior: Bolsa muda recompra do Novo Mercado Próximo Texto: Ajuda: Hungria e Islândia negociam com FMI Índice
|