São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 2002

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FIM DE CASO

Com dívida de US$ 1,4 bilhão, siderúrgica necessita de parceiro

Saída da Corus abre espaço para acordo CSN/Usiminas

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Espremido entre fornecedores e compradores superconcentrados, a siderurgia no Brasil -e no mundo- tem de passar por amplo processo de consolidação, cujo objetivo é ganhar escala e melhorar a rentabilidade das usinas.
É com essa visão que grupos brasileiros já estão se movimentando. A Vale do Rio Doce, segundo seu próprio presidente, Roger Agnelli, trabalha para deslanchar esse processo, com a fusão da CST (Companhia Siderúrgica de Tubarão) com a Usiminas/Cosipa.
Já o presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares, disse na segunda-feira à Folha -parece que antevendo o desfecho- que, se não vingasse o negócio CSN/Corus, se tornaria viável uma associação da sua empresa com a siderúrgica de Volta Redonda (RJ).
Ambos os executivos avaliam que é necessário consolidar o negócio para ganhar escala. No caso da CSN, dizem analistas, há mais um motivo: reduzir o custo de capital. Estrangulada por uma dívida de US$ 1,4 bilhão, a CSN precisaria de um sócio estrangeiro.
"Em 2003, a CSN já tem de começar a pagar o descruzamento [empréstimo que fez com o BNDES, no valor de US$ 660 milhões, para se separar da Vale]. Esperava usar o fluxo de caixa, mas vieram a crise cambial e o protecionismo americano. Agora, tem de ter um parceiro externo", afirmou Luciana Machado, do banco Fator. No mercado, fala-se da alemã ThyssenKrupp.
Donas de resultados operacionais invejáveis para empresas do resto do mundo, falta às siderúrgicas brasileiras escala de produção, avaliou Agnelli.
A analista Cristiane Viana, da BES Security, apresenta números que provam que a siderurgia precisa se consolidar: enquanto as três maiores mineradoras do mundo -entre elas, a Vale- respondem por 70% da produção global de ferro, a maior siderúrgica -a francesa Arcelor- faz só 5% do aço consumido no planeta.
Mesmo pouco concentrado no Brasil, diz ela, existem no setor conglomerados que começam a fazer frente à CSN, que é a maior, mas continua sozinha. São exemplos os blocos formados por CST/Acesita (cujo maior acionista é a Arcelor), Gerdau/Açominas e Usiminas/Cosipa (capitaneado pela Nippon Steel).
De olho na concorrência interna, afirma Viana, a CSN tem de buscar o mais rápido possível um parceiro, no Brasil ou no exterior.
Namoros já existem. Antes da Corus, a CSN pretendia se unir à Gerdau. Contava com o aval do BNDES, que até hoje não descarta apoiar fusões e associações. Surge agora a Usiminas.
O diretor de mercado de capitais do BNDES, Eduardo Gentil, disse à Folha, antes do anúncio do fim do negócio CSN/Corus, que o banco está disposto a analisar e apoiar processos de consolidação do setor.
Para o especialista de um grande banco que preferiu não ter o nome publicado, a CSN não deve conseguir um parceiro no curto prazo e manterá seu foco numa companhia estrangeira.
Faz sentido às operações da CSN mais uma parceria com Gerdau ou Usiminas do que com a CST. É que as companhias de Tubarão e Volta Redonda têm mais ou menos as mesmas características: produzem mais semi-acabados (placas e bobinas) e procuraram usinas que têm como foco produtos mais elaborados, como aços especiais e laminados a frio.


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