São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 2002

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TRANSE

Para o principal assessor econômico do PT, alta de preços será menor em 2003, quando dólar valerá entre R$ 3 e R$ 3,50

"Bolha inflacionária" começa a estourar, diz Mantega

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A atual disparada nos preços faz parte só de uma "bolha inflacionária", que já começa a se dissipar. Em 2003, a inflação dos IGPs será bem menor que a esperada para este ano. A avaliação é de Guido Mantega, principal assessor econômico do PT.
A retomada da confiança no país conterá o dólar e, consequentemente, a escalada da inflação. "Os IGPs [Índice Geral de Preços] devem ficar entre 10% e 12% no próximo ano", disse Mantega, que participou do seminário "Cenários: Como Administrar 2003", realizado em São Paulo. Neste ano, os IGPs devem fechar com alta acumulada em torno de 20%.
Além de inflação menor, Mantega aposta em que a economia brasileira cresça entre 2% e 3,5% em 2003.
Para o economista José Roberto Mendonça de Barros, também presente ao evento, a visão do economista do PT é muito otimista. "Trabalhamos com a perspectiva de um PIB quase sem crescimento no próximo ano", disse Barros. Em 2002, o país deve crescer pouco mais de 1%.
Passada a turbulência potencializada pelas eleições, Mantega confia em que os temores do mercado internacional em relação ao Brasil se dissipem aos poucos.
Um dos efeitos perversos do crescimento da desconfiança do estrangeiro sobre os rumos que o país tomará findado o governo Fernando Henrique Cardoso foi sentido nas linhas de crédito internacional. Desde junho, as empresas passaram a ter grandes dificuldades para rolar suas dívidas externas. Para mostrar que as coisas começam a mudar, Mantega contou que tem "informações de agentes financeiros que já conseguem rolar suas dívidas e obter dinheiro novo. É uma escala pequena, mas é um início. E eu acredito que essa mudança terá continuidade".
O câmbio será um dos principais beneficiados pela mudança de expectativas do mercado externo. Mantega diz acreditar que, em três ou quatro meses, o dólar deve oscilar num intervalo entre R$ 3 e R$ 3,50, "mais próximo da casa dos R$ 3". "Esse período é o tempo necessário para o novo governo mostrar sua cara, começar a governar, porque é aí que o mercado vai observar que tudo o que foi prometido será cumprido e se acalmar definitivamente."

Juros
Após a divulgação dos últimos índices de inflação, cresceu no mercado a expectativa de que o Copom (Comitê de Política Monetária) volte a aumentar a taxa básica de juros, hoje em 21% anuais, em sua reunião da próxima semana. Mantega afirmou preferir que os juros não sejam alterados. "Os juros já estão muito elevados. Uma nova alta da Selic não vai ter eficácia sobre a inflação, pois esta não é de demanda, e sim reflexo da escalada do dólar."

Indexação
Para manter a inflação em patamares menores, Mantega afirmou ser necessário que a economia não volte a ser indexada. Atualmente, a indexação está presente principalmente nos preços administrados, como a tarifa de energia. Por isso, o economista defendeu a idéia de o governo eleito vir a negociar, de forma acordada e no longo prazo, os contratos indexados ao IGP-M. Mantega salientou que o processo não teria nada a ver com ruptura de contratos.


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