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CONTAS VIGIADAS
Levantamento mostra que banqueiro teria usado dinheiro de cliente para gasto pessoal
Edemar é acusado de desviar US$ 27 mi
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Levantamento feito pela Wolfe
Associates, empresa especializada
em rastreamento de dinheiro,
descobriu que o banqueiro Edemar Cid Ferreira desviou para
gastos pessoais US$ 26,8 milhões
da Alsace-Lorraine, uma "offshore" que manteve nas Ilhas Virgens
Britânicas.
Esse montante, correspondente
a R$ 58 milhões quando corrigidos pelo câmbio atual, teria sido
desviado exclusivamente de uma
conta que a Alsace mantinha no
Bank of Europe entre 2001 e 2004.
No sábado, a intervenção do BC
no Banco Santos completou um
ano. O rombo deixado é de R$
2,29 bilhões, segundo os números
da autoridade monetária.
O rastreamento feito por Barry
Wolfe, advogado inglês que já trabalhou para a empresa de consultoria KPMG, mostra que Edemar
usou os recursos para comprar
obras de arte e pagar gastos pessoais como o seu cartão de crédito
e contas de limusine. "Há indícios
muito fortes de que ele tenha pago
esses gastos com dinheiro dos
clientes", afirma.
Saíram da Alsace os dólares que
Edemar usou para pagar o arquiteto que cuidou da decoração de
sua casa, o norte-americano Peter
Marino, e casas de leilão como a
Sotheby's e a Christie's, sempre de
acordo com o levantamento.
Marino, um decorador que trabalha para grifes como a Chanel e
Louis Vuitton, recebeu US$ 5,95
milhões (R$ 12,9 milhões, atualmente), segundo os dados de
Wolfe. O valor é superior ao lançado em uma auditoria sobre os
gastos na casa do banqueiro, revelada pela Folha em 9 de outubro
-R$ 8,9 milhões.
A Alsace pagou US$ 2,7 milhões
para a casa de leilões Christie's e
US$ 1,27 milhão para a Sotheby's.
A "offshore" gastou US$ 66,8 mil
entre 2001 e 2003 com o aluguel de
limusines em Nova York.
Edemar obtinha recursos para a
Alsace por meio da venda de certificados de participação dessa
"offshore" para clientes do Banco
Santos. Funcionava assim: o certificado era uma espécie de ação da
empresa, a qual renderia até o dobro das aplicações internacionais,
segundo o banco.
Foi dessa maneira que passou
pela Alsace cerca de US$ 1,5 bilhão, entre recursos que entravam
e saíam. A Alsace funcionava como uma conta centralizadora das
diversas "offshores" que Edemar
mantinha no exterior, de acordo
com Wolfe.
Desse montante, a conta da Alsace no Bank of Europe recebeu
US$ 450 milhões. Os US$ 26,8 milhões que o banqueiro teria desviado saíram daí.
O desvio era facilitado porque
Edemar controlava tanto a Alsace
como o Bank of Europe, segundo
o procurador da República Silvio
Luis Martins de Oliveira defende
na ação penal que corre na Justiça
federal contra o banqueiro -ele
nega ter sido o dono do Bank of
Europe. Na ação, o banqueiro é
acusado de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, gestão
fraudulenta de instituição financeira e de manter ilegalmente
contas no exterior.
O levantamento de Wolfe joga
luz sobre a forma pela qual o dinheiro chegava à Alsace. Uma das
contas que remetiam dinheiro para a "offshore" era operada pelo
doleiro Helio Laniado, preso em
agosto deste ano em Praga (República Tcheca) pela Interpol.
A conta, batizada Braza, era do
Merchantes Bank de Nova York.
Laniado é acusado pela Justiça Federal de ter movimentado US$ 1,2
bilhão entre 1995 e 2002.
A conta Braza enviou US$ 24,4
milhões para a Alsace e recebeu
US$ 16,1 milhões da "offshore".
Wolfe diz que Edemar passou a
ameaçá-lo depois que fez o levantamento. O banqueiro pediu à polícia que instaurasse um inquérito
para apurar "possível extorsão"
por parte do advogado. "A ação é
para intimidar. Sou advogado inglês e represento clientes estrangeiros que perderam dinheiro no
Banco Santos."
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