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Crise e juros em alta elevam a inadimplência em 5%
Incertezas com a crise global tornam crédito mais caro e seletivo, diz Serasa
Para analista, crise antecipa aumento da inadimplência antes previsto para 2009 depois de forte alta na concessão de crédito no país
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
MARINA GAZZONI
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise financeira já começa a
ter impacto na inadimplência
da pessoa física no Brasil. O índice calculado pela Serasa de
inadimplência da pessoa física
aumentou 4,9% em outubro
em relação ao mês anterior.
Em comparação a outubro
do ano passado, a alta foi de
6,9%. Já no acumulado dos dez
primeiros meses deste ano, o
indicador subiu 7,5%. No ano
passado, a inadimplência tinha
subido apenas 0,3% no período
de janeiro a outubro em relação
a mesmo período de 2006.
Segundo o assessor econômico da Serasa, Carlos Henrique
de Almeida, o aumento da inadimplência em outubro já pode
ser atribuído, em grande parte,
à crise econômica que se agravou em meados de setembro.
"As incertezas geradas pela
crise fizeram com que o crédito
se tornasse mais caro e mais seletivo, e isso gera essa alta da
inadimplência", diz Almeida.
Já era previsto para este ano
um aumento da inadimplência,
em razão de uma série de fatores. No início do ano, o governo
aumentou o imposto sobre o
crédito (IOF), o Banco Central
iniciou em abril um novo ciclo
de alta dos juros e as pessoas tinham se endividado mais nos
últimos anos. O crédito subiu
20,8% até setembro, depois de
uma alta sólida de 33% em
2006.
Antecipação
Na opinião de Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating, o que a crise financeira fez
foi antecipar o aumento da inadimplência para o final deste
ano. Sua expectativa era de que
ela só começasse a subir no início de 2009, mas a crise acelerou o processo.
Hoje, a inadimplência para
pessoa física corresponde a
7,2% do total do crédito no Brasil, mas, segundo Rodrigues,
pode atingir uma taxa de 8,5% a
9% no início do ano que vem. A
inadimplência vai continuar
subindo neste ano, apesar do
13º salário, avalia o economista.
Rodrigues atribuiu essa alta
da inadimplência aos problemas gerados pela restrição ao
crédito e aos efeitos das demissões que já começam a ocorrer
em alguns setores da economia.
"O crédito sumiu, e as empresas já começam a demitir", afirma Rodrigues.
A dúvida é se as medidas tomadas pelo governo até agora
com o objetivo de destravar o
crédito irão fazer efeito. O objetivo da equipe econômica é evitar que a crise faça com que a
atividade produtiva caia muito.
"As medidas já começam a fazer efeito, mas ainda num ritmo lento", diz Rodrigues.
Dívidas maiores
A Serasa também calcula o
valor médio das dívidas em cada segmento financeiro. O que
mais subiu foi o segmento de
cartão de crédito e financeira.
De janeiro a outubro, este setor
registrou um valor médio das
operações de R$ 409,70, 11,7%
a mais do que em 2007.
Já o valor médio das dívidas
das pessoas físicas com os bancos, também nos primeiros dez
meses deste ano, foi de R$
1.347,09, uma alta de 5,5% em
comparação ao ano passado. O
valor médio dos cheques devolvidos, até o décimo mês, foi de
R$ 690,02, 13,9% de alta sobre
2007.
Os bancos, de acordo com a
Serasa, são os mais atingidos
pela inadimplência. Até outubro, os bancos respondem por
43,2% de participação da inadimplência do consumidor. No
ano passado, nesse mesmo período, a representação dos bancos era de 39,5%.
Em seguida, estão as dívidas
com cartão de crédito e financeiras, com 33,1% de participação -no ano passado era de
30,3%. Na terceira colocação,
os cheques devolvidos, com representação de 21,5% no indicador -em 2007, era de 27,6%.
Os títulos protestados fecham o ranking, com peso de
apenas 2,2% na inadimplência,
abaixo dos 2,6% observados no
ano passado.
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