São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2008

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Crise e juros em alta elevam a inadimplência em 5%

Incertezas com a crise global tornam crédito mais caro e seletivo, diz Serasa

Para analista, crise antecipa aumento da inadimplência antes previsto para 2009 depois de forte alta na concessão de crédito no país

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
MARINA GAZZONI
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise financeira já começa a ter impacto na inadimplência da pessoa física no Brasil. O índice calculado pela Serasa de inadimplência da pessoa física aumentou 4,9% em outubro em relação ao mês anterior.
Em comparação a outubro do ano passado, a alta foi de 6,9%. Já no acumulado dos dez primeiros meses deste ano, o indicador subiu 7,5%. No ano passado, a inadimplência tinha subido apenas 0,3% no período de janeiro a outubro em relação a mesmo período de 2006.
Segundo o assessor econômico da Serasa, Carlos Henrique de Almeida, o aumento da inadimplência em outubro já pode ser atribuído, em grande parte, à crise econômica que se agravou em meados de setembro.
"As incertezas geradas pela crise fizeram com que o crédito se tornasse mais caro e mais seletivo, e isso gera essa alta da inadimplência", diz Almeida.
Já era previsto para este ano um aumento da inadimplência, em razão de uma série de fatores. No início do ano, o governo aumentou o imposto sobre o crédito (IOF), o Banco Central iniciou em abril um novo ciclo de alta dos juros e as pessoas tinham se endividado mais nos últimos anos. O crédito subiu 20,8% até setembro, depois de uma alta sólida de 33% em 2006.

Antecipação
Na opinião de Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating, o que a crise financeira fez foi antecipar o aumento da inadimplência para o final deste ano. Sua expectativa era de que ela só começasse a subir no início de 2009, mas a crise acelerou o processo.
Hoje, a inadimplência para pessoa física corresponde a 7,2% do total do crédito no Brasil, mas, segundo Rodrigues, pode atingir uma taxa de 8,5% a 9% no início do ano que vem. A inadimplência vai continuar subindo neste ano, apesar do 13º salário, avalia o economista.
Rodrigues atribuiu essa alta da inadimplência aos problemas gerados pela restrição ao crédito e aos efeitos das demissões que já começam a ocorrer em alguns setores da economia.
"O crédito sumiu, e as empresas já começam a demitir", afirma Rodrigues.
A dúvida é se as medidas tomadas pelo governo até agora com o objetivo de destravar o crédito irão fazer efeito. O objetivo da equipe econômica é evitar que a crise faça com que a atividade produtiva caia muito.
"As medidas já começam a fazer efeito, mas ainda num ritmo lento", diz Rodrigues.

Dívidas maiores
A Serasa também calcula o valor médio das dívidas em cada segmento financeiro. O que mais subiu foi o segmento de cartão de crédito e financeira. De janeiro a outubro, este setor registrou um valor médio das operações de R$ 409,70, 11,7% a mais do que em 2007.
Já o valor médio das dívidas das pessoas físicas com os bancos, também nos primeiros dez meses deste ano, foi de R$ 1.347,09, uma alta de 5,5% em comparação ao ano passado. O valor médio dos cheques devolvidos, até o décimo mês, foi de R$ 690,02, 13,9% de alta sobre 2007.
Os bancos, de acordo com a Serasa, são os mais atingidos pela inadimplência. Até outubro, os bancos respondem por 43,2% de participação da inadimplência do consumidor. No ano passado, nesse mesmo período, a representação dos bancos era de 39,5%.
Em seguida, estão as dívidas com cartão de crédito e financeiras, com 33,1% de participação -no ano passado era de 30,3%. Na terceira colocação, os cheques devolvidos, com representação de 21,5% no indicador -em 2007, era de 27,6%.
Os títulos protestados fecham o ranking, com peso de apenas 2,2% na inadimplência, abaixo dos 2,6% observados no ano passado.


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