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BC recua e alivia restrições para bancos
Banco altera novamente regras do compulsório, amenizando impacto de medida anterior sobre rolagem da dívida
Guarda de compulsório antes feita em dinheiro, sem remuneração, agora poderá ser em títulos públicos, o que pode liberar até R$ 40 bi
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Duas semanas depois de
anunciar que iria impor prejuízos aos bancos que se negassem
a injetar dinheiro em instituições financeiras de menor porte, o Banco Central decidiu alterar novamente as regras sobre o recolhimento compulsório para amenizar o impacto
negativo que a punição teria sobre a rolagem da dívida pública
e sobre o volume de reais em
circulação no mercado.
Compulsório é o nome dado
à parcela dos depósitos bancários que fica retida pelo BC. A
mudança promovida ontem foi
a nona desde o final de setembro, quando a crise se agravou,
e atinge a chamada exigibilidade adicional, um recolhimento
que atinge 5% dos depósitos a
prazo (compostos principalmente por CDBs) e em conta
corrente e 10% dos saldos da
caderneta de poupança.
Desde que foi criado, em
2002, esse recolhimento é feito
em dinheiro vivo. Durante o
período em que fica retido, o
BC paga aos bancos juros equivalentes à taxa Selic (hoje em
13,75% ao ano) por esses recursos que ficam parados.
A partir de 1º de dezembro, o
BC irá aceitar que essa exigência seja cumprida por meio da
entrega de títulos públicos, em
vez de dinheiro. Como os papéis continuarão sendo corrigidos pela Selic, a remuneração
não muda. O efeito da nova regra é liberar R$ 40 bilhões em
dinheiro para o caixa dos bancos. O valor corresponde a cerca de 30% do total de empréstimos que o sistema bancário
costuma conceder todo mês a
empresas e pessoas físicas.
Essa iniciativa do BC está relacionada aos efeitos sobre o
mercado dos incentivos oferecidos aos bancos que injetem
recursos nas instituições de
menor porte -as que mais têm
tido dificuldades para captar
dinheiro nas últimas semanas.
No começo de outubro, o BC
decidiu estimular bancos grandes a comprar parte da carteira
de crédito dos menores. Quem
o fizesse, teria direito a um desconto de igual valor no compulsório a ser recolhido sobre os
depósitos a prazo dos clientes.
A medida permitiria a injeção de até R$ 29,5 bilhões em
bancos com patrimônio de até
R$ 7 bilhões, critério que exclui
apenas os cinco maiores grupos
financeiros do país: Banco do
Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú/Unibanco e Real/Santander. O efeito, porém, foi pequeno, e até o final do mês passado apenas R$ 1,5 bilhão em
aquisições de carteiras de empréstimo haviam sido registradas no BC.
Para forçar os grandes bancos a liberar os recursos, o BC
determinou, no dia 30, que iria
deixar de aceitar títulos públicos como pagamento pelo compulsório sobre depósitos a prazo. Em vez de usar papéis do governo, os bancos deveriam fazer o recolhimento em dinheiro e não receberiam nenhuma
remuneração pelo tempo que
os recursos ficassem parados.
Essa nova regra vale a partir
de hoje, e, à medida que os bancos começaram a se preparar
para cumpri-la, surgiu um efeito colateral sobre a rolagem da
dívida pública. Como não iam
mais precisar de títulos públicos para cumprir as exigências
do BC, as instituições financeiras começaram a se desfazer
dos papéis, provocando uma
queda em suas cotações.
Além disso, a nova metodologia não foi suficiente para que
os bancos se sentissem realmente forçados a escoar seus
recursos para concorrentes de
menor porte. Até o último dia
11, as operações de compra de
carteira de crédito somavam
R$ 10,2 bilhões, considerando
os negócios já fechados e aqueles já acertados mas que ainda
não foram formalizados.
Diante disso, o BC decidiu
dar uma folga aos bancos em
outro tipo de compulsório, para
que aqueles que forem penalizados por não repassar recursos a outras instituições ainda
tenham dinheiro em caixa para
outras operações, como a concessão de empréstimos.
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