São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2008

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BC recua e alivia restrições para bancos

Banco altera novamente regras do compulsório, amenizando impacto de medida anterior sobre rolagem da dívida

Guarda de compulsório antes feita em dinheiro, sem remuneração, agora poderá ser em títulos públicos, o que pode liberar até R$ 40 bi

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Duas semanas depois de anunciar que iria impor prejuízos aos bancos que se negassem a injetar dinheiro em instituições financeiras de menor porte, o Banco Central decidiu alterar novamente as regras sobre o recolhimento compulsório para amenizar o impacto negativo que a punição teria sobre a rolagem da dívida pública e sobre o volume de reais em circulação no mercado.
Compulsório é o nome dado à parcela dos depósitos bancários que fica retida pelo BC. A mudança promovida ontem foi a nona desde o final de setembro, quando a crise se agravou, e atinge a chamada exigibilidade adicional, um recolhimento que atinge 5% dos depósitos a prazo (compostos principalmente por CDBs) e em conta corrente e 10% dos saldos da caderneta de poupança.
Desde que foi criado, em 2002, esse recolhimento é feito em dinheiro vivo. Durante o período em que fica retido, o BC paga aos bancos juros equivalentes à taxa Selic (hoje em 13,75% ao ano) por esses recursos que ficam parados.
A partir de 1º de dezembro, o BC irá aceitar que essa exigência seja cumprida por meio da entrega de títulos públicos, em vez de dinheiro. Como os papéis continuarão sendo corrigidos pela Selic, a remuneração não muda. O efeito da nova regra é liberar R$ 40 bilhões em dinheiro para o caixa dos bancos. O valor corresponde a cerca de 30% do total de empréstimos que o sistema bancário costuma conceder todo mês a empresas e pessoas físicas.
Essa iniciativa do BC está relacionada aos efeitos sobre o mercado dos incentivos oferecidos aos bancos que injetem recursos nas instituições de menor porte -as que mais têm tido dificuldades para captar dinheiro nas últimas semanas.
No começo de outubro, o BC decidiu estimular bancos grandes a comprar parte da carteira de crédito dos menores. Quem o fizesse, teria direito a um desconto de igual valor no compulsório a ser recolhido sobre os depósitos a prazo dos clientes.
A medida permitiria a injeção de até R$ 29,5 bilhões em bancos com patrimônio de até R$ 7 bilhões, critério que exclui apenas os cinco maiores grupos financeiros do país: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú/Unibanco e Real/Santander. O efeito, porém, foi pequeno, e até o final do mês passado apenas R$ 1,5 bilhão em aquisições de carteiras de empréstimo haviam sido registradas no BC.
Para forçar os grandes bancos a liberar os recursos, o BC determinou, no dia 30, que iria deixar de aceitar títulos públicos como pagamento pelo compulsório sobre depósitos a prazo. Em vez de usar papéis do governo, os bancos deveriam fazer o recolhimento em dinheiro e não receberiam nenhuma remuneração pelo tempo que os recursos ficassem parados.
Essa nova regra vale a partir de hoje, e, à medida que os bancos começaram a se preparar para cumpri-la, surgiu um efeito colateral sobre a rolagem da dívida pública. Como não iam mais precisar de títulos públicos para cumprir as exigências do BC, as instituições financeiras começaram a se desfazer dos papéis, provocando uma queda em suas cotações.
Além disso, a nova metodologia não foi suficiente para que os bancos se sentissem realmente forçados a escoar seus recursos para concorrentes de menor porte. Até o último dia 11, as operações de compra de carteira de crédito somavam R$ 10,2 bilhões, considerando os negócios já fechados e aqueles já acertados mas que ainda não foram formalizados.
Diante disso, o BC decidiu dar uma folga aos bancos em outro tipo de compulsório, para que aqueles que forem penalizados por não repassar recursos a outras instituições ainda tenham dinheiro em caixa para outras operações, como a concessão de empréstimos.


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