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Analistas elogiam e vêem nova "bandeira eleitoral"
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A decisão do governo de antecipar o pagamento da dívida com o
FMI faz todo o sentido do ponto
de vista financeiro, mas seu maior
impacto é simbólico: o fim do período de sete anos no qual o país
esteve sob monitoramento do organismo financeiro internacional,
afirmam analistas consultados
pela Folha.
Recorrer a empréstimos do
Fundo e estabelecer um programa com a entidade é um sinal de
vulnerabilidade para qualquer
país, que "joga a toalha" quando
suas opções de financiamento se
esgotam. Na mão oposta, afirmam, abrir mão do socorro do
FMI é indício de fortalecimento
de uma economia, que seria capaz
de enfrentar seus compromissos
sem ajuda externa.
É um ótimo discurso para um
ano eleitoral, não? "É um ótimo
discurso para qualquer ano", responde Sergio Werlang, diretor do
Banco Itaú e ex-diretor de Política
Econômica do BC (Banco Central). Em sua opinião, o Brasil já
tem volume de reservas suficiente
para "se livrar" dos compromissos com o Fundo.
"O Brasil não precisa desse colchão financeiro", diz Octavio de
Barros, diretor do Bradesco. A antecipação, segundo ele, reduz o
serviço futuro da dívida e pode ser
um sinal de que o governo irá recomprar no mercado os cerca de
US$ 7 bilhões que restam dos títulos "bradies" emitidos nos anos
90 na reestruturação da dívida
dos países emergentes.
Renato Raglione, da MS Consult, observa que o pagamento ao
Fundo Monetário Internacional é
um passo fundamental em direção à conquista do grau de investimento pelo país, um dos principais objetivos da equipe econômica chefiada pelo ministro Antonio
Palocci Filho.
Como o grau de investimento é
dado em reconhecimento à solidez de uma economia e à sua capacidade de honrar os compromissos que possui, ele é incompatível com o monitoramento do
FMI. "É uma grande bandeira
eleitoral, resultado da política
econômica que vem sendo adotada desde o início do governo",
afirma Raglione.
Mas o fim do monitoramento
do Fundo não é a única condição
para a obtenção do grau de investimento. Outros indicadores relevantes são o tamanho da dívida,
que continua grande, e a capacidade de gerar receitas para pagá-la, o que se dá normalmente por
meio do crescimento econômico.
Nesse último quesito, a situação
do Brasil ainda é frágil. O país
cresceu neste ano abaixo da média dos países emergentes, e a
perspectiva para 2006 é uma expansão próxima de 3%, considerada insuficiente por analistas.
A Standard & Poor's, uma das
maiores agências de classificação
de risco do mundo, vê no baixo
crescimento um dos grandes problemas no caminho do Brasil em
direção ao grau de investimento.
Mas o pagamento ao Fundo é
um indício de que os obstáculos
começam a ser superados. "É
uma decisão emblemática. Não
vamos mais ter o Brasil dependente do FMI e vulnerável em seu
balanço de pagamentos", afirma
Barros, do Bradesco.
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