|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Uma nova dinâmica de crescimento
A perda da CPMF é uma boa oportunidade para que o
governo opere a política
fiscal de forma menos tosca
OS NÚMEROS do PIB relativos
ao terceiro trimestre de 2007
surpreenderam mesmo os
analistas mais otimistas. Ontem, um
dia depois de sua divulgação pelo IBGE, assistimos a uma revisão em
massa das estimativas para o crescimento brasileiro em 2007 e em
2008. A grande maioria dos analistas está convergindo para um crescimento de 5,5% neste ano e de 5% no
próximo, mostrando claramente
que finalmente cruzamos uma barreira que parecia impossível de ser
cruzada sem grandes reformas estruturais em nosso sistema econômico.
Minha opinião é otimista sobre o
momento que estamos vivendo. Em
várias colunas, refleti sobre os efeitos estruturais que o crescimento da
China tem provocado na economia
brasileira, culminando no hoje quase consensual tema do "DESCOLAMENTO" em relação à desaceleração da economia americana. Essas
mudanças atingiram nossa economia já na virada do século, mas ficaram realmente visíveis para o analista mais atento a partir de 2004. O
crescimento de hoje, identificado
pelo IBGE, deve ser entendido no
contexto desse processo de mudanças.
Agrego hoje um novo argumento
ao meu otimismo -crescente- para
os próximos anos. Ele reflete uma lição de economia que meu irmão José Roberto me ensinou há algum
tempo: "Uma economia, para mudar, precisa crescer a taxas estáveis
por um período longo de tempo".
Mais importante que a magnitude
da taxa de crescimento, diz ele, é a
sua estabilidade em um patamar relativamente alto por um período
longo. E isso está ocorrendo no Brasil depois de mais de 25 anos em que
prevaleceu uma elevada volatilidade
da taxa de crescimento.
Essa observação é fácil de ser entendida para quem pensa a economia de mercado como um sistema
dominado pelo homem real, identificado primeiramente por Adam
Smith. Tal homem é racional, mas
também dirigido por emoções, sempre de natureza subjetiva e individual. O espírito animal mencionado
mais tarde por Keynes é volátil, caprichoso e precisa contar com horizontes longos para despertar no homem o ímpeto empreendedor.
Quando o empresário não tem confiança no futuro, ele não investe e a
economia não cresce. E essa confiança nasce quando se identifica
um horizonte mais longo para o
crescimento, como está acontecendo agora no Brasil.
E a surpresa nos números do PIB
recém-divulgados está quase que totalmente concentrada no volume de
investimentos privados. O crescimento do consumo das famílias
-6% ao ano- e do governo -3,5%
ao ano- veio em linha com as previsões. O diferencial está nos investimentos em máquinas e equipamentos, que devem crescer 13,5% em
2007, mais de dois pontos percentuais acima do que se previa há pouco tempo.
Na semana passada, tratei dos riscos de inflação nos próximos meses,
que decorrem das incertezas a respeito da capacidade de curto prazo
de a oferta atender o crescimento da
demanda, em um momento de baixa
ociosidade na economia e gastos públicos crescentes. Essa é uma questão de curto prazo, com a qual uma
política econômica responsável pode lidar sem maiores sobressaltos.
Mas a dinâmica de longo prazo, que
parece estar emergindo, é infinitamente mais importante, e o bom
analista deve considerá-la como tal.
A perda da CPMF é até uma boa
oportunidade para que o governo
passe a operar a política fiscal de forma menos tosca, com potenciais benefícios -imediatos e de longo prazo- para o país.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 64, engenheiro e
economista, é economista-chefe da Quest Investimentos.
Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações
(governo FHC).
lcmb2@terra.com.br
Texto Anterior: Análise: Helicóptero dos BCs começa a jogar dinheiro Próximo Texto: Vinicius Torres Freire: Um trimestre de rolos adiante Índice
|