São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2008

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YouTube já dá dinheiro a produtor caseiro

Usuários chegam a ganhar US$ 20 mil com vídeos e abandonam empregos tradicionais para se dedicar integralmente ao site

Empresas conhecidas de comunicação e membros do site usam idéias aprendidas uns com os outros para divulgarem os seus vídeos

Chistopher Capozziello/"The New Yourk Times"
Michael Buckley, apresentador de um programa de celebridades no Youtube que diz ganhar mais de US$10 mil mensais com os vídeos

BRIAN STELTER
DO "NEW YORK TIMES"

Criar vídeos para o YouTube, que durante três anos foi passatempo para milhões de internautas, hoje é uma maneira de ganhar a vida.
Um ano depois de o site ter convidado seus membros a virarem "parceiros" e acrescentado anúncios a seus vídeos, os usuários mais bem-sucedidos estão ganhando rendas de seis dígitos. Para alguns, como Michael Buckley, apresentador de um show de fofocas sobre celebridades, produzir vídeos agora é emprego em tempo integral. Buckley abandonou seu emprego regular em setembro, quando seus lucros on-line já tinham superado de longe o salário que recebia como assistente administrativo de uma empresa de promoção musical. Seu show, transmitido três vezes por semana, "é bobo", disse ele, mas o ajudou a zerar suas dívidas com cartões de crédito.
Buckley, 33, era apresentador em tempo parcial de um programa semanal num canal de acesso público do Connecticut quando, em 2006, seu primo começou a postar trechos do programa no YouTube. As tiradas cômicas sobre celebridades atraíram espectadores on-line e não demorou para Buckley começar a formatar seus segmentos para a web. Ele sabia que, "no canal de acesso público, o programa teria alcance limitado". "Mas no YouTube eu já fui visto 100 milhões de vezes. É uma coisa maluca."
Ele só precisou de uma câmera Canon de US$ 2.000, um tecido que custou US$ 6 para servir de pano de fundo e um par de lâmpadas. Buckley é um exemplo do efeito democratizante da Internet sobre a divulgação. Sites como o YouTube permitem que qualquer pessoa que tenha uma conexão de alta velocidade encontre uma base de fãs, simplesmente postando vídeos e os promovendo.
É verdade que construir um público on-line leva tempo. "Eu passei 40 horas por semana no YouTube por mais de um ano antes de começar a ganhar um centavo", disse Buckley. Mas, em alguns casos, esse esforço rende resultados.
Buckley é um dos membros originais do programa de parceiros do YouTube, que hoje inclui milhares de participantes, desde criadores de vídeos de porão até grandes empresas de mídia. Subsidiária do Google, o YouTube insere anúncios dentro e em volta dos vídeos parceiros e divide a receita com os criadores. "Nossa proposta era converter esses hobbies em negócios", explicou Hunter Walk, diretor de gerenciamento de produtos do site.
O YouTube se negou a comentar quanto dinheiro os parceiros ganham, em média, em parte porque a demanda dos anunciantes varia segundo os diferentes tipos de vídeos. Mas um porta-voz, Aaron Zamost, disse que "centenas de parceiros do YouTube estão ganhando milhares de dólares por mês". Pelo menos alguns deles estão ganhando a vida integralmente com isso: Buckley disse que vem ganhando mais de US$ 10 mil com anúncios no site.
O programa é uma solução parcial para um problema incômodo para o YouTube. Os seus vídeos são dez vezes mais vistos que os de qualquer outro site de compartilhamento desse material nos EUA, mas o Google vem tendo dificuldade em lucrar com ele, porque a imensa maioria dos vídeos é postada por usuários anônimos que podem ou não ter os direitos autorais sobre os conteúdos. Embora o YouTube tenha suspendido boa parte da partilha ilegal de vídeos no site, ainda teme colocar anúncios com conteúdos sem a autorização explícita dos donos dos conteúdos. Por essa razão, apenas cerca de 3% dos vídeos do site são acompanhadas de anúncios.
Mas a empresa nutre grandes esperanças em relação ao programa de parceria. Executivos o comparam ao Google AdSense, a tecnologia que revolucionou a publicidade e tornou possível a colocação de anúncios de texto ao lado de conteúdos.
"Algumas dessas pessoas fazem vídeos em seu tempo livre", disse Chad Hurley, co-fundador do YouTube. "Achamos que, se pudéssemos lhes oferecer uma fonte real de receitas, elas poderiam burilar suas habilidades e criar conteúdos melhores."
Numa época de demissões no setor de mídia, a fonte de receita -e a perspectiva de ter uma empresa formada por uma só pessoa- pode ser especialmente atraente aos usuários. Mas produtores de vídeo como Lisa Donovan, que posta esquetes cômicos no YouTube e atraiu atenção com suas paródias de Sarah Palin, não descrevem o processo como fácil. "Para usuários novatos, é muito trabalho", afirmou Donovan. "Todo mundo está lutando para ser visto on-line. Você precisa traçar uma estratégia e fazer o seu próprio marketing."
Buckley, que se formou em psicologia e vive com seu marido e quatro cachorros em Connecticut, filma o show em sua própria casa. Cada episódio é visto em média 200 mil vezes e os mais populares chegam a ultrapassar os 3 milhões de pessoas. Ele disse que escrever e gravar cinco minutos de piadas sobre a turnê de volta por cima de Britney Spears ou as habilidades de dançarina de Miley Cyrus não é tão fácil quando pode parecer. "Eu realmente trabalhei muito duro para aperfeiçoar a minha apresentação e o meu texto", afirmou.
À medida que os seus espectadores e a sua receita foram crescendo, ele passou "a ter tantas oportunidades on-line que não conseguia mais trabalhar." Ele deixou seu emprego para dedicar-se integralmente aos vídeos na internet.
A história de Buckley tem simetria. Algumas chamadas celebridades da internet vêem o YouTube como ponto de passagem para a televisão. Mas Bu- ckley começou na TV e chegou à fama no YouTube. Três meses atrás ele assinou um contrato de desenvolvimento com a HBO, uma oportunidade que não passa de sonho para muitos. Mesmo assim, disse, "sinto que o YouTube é a minha casa. Acho que o maior engano que qualquer um de nós, personalidades da web, pode cometer é fazer nosso nome na internet e então abandoná-la."
Cory Williams, 27, é produtor do YouTube e concorda com Buckley. Conhecido no YouTube como smpfilms, Wil- liams vem criando vídeos on-line desde 2005 e disse que sua grande oportunidade chegou em setembro de 2007 com uma paródia musical intitulada "The Mean Kitty Song". Esse vídeo, que apresenta a companheira felina malévola de Wil- liams, já foi visto mais de 15 milhões de vezes. Recentemente, o vídeo incluía um anúncio da Coca-Cola.
Williams, que tem cerca de 180 mil assinantes de seus vídeos, disse que vem ganhando de US$ 17 mil a US$ 20 mil por mês através do YouTube. Metade do lucro vem dos anúncios, e a outra metade, de patrocínios e merchandising de produtos em seus vídeos. É um modelo que ele copiou da mídia tradicional.
Fica claro no YouTube que as entidades da mídia estabelecida e os usuários novatos e em ascensão estão aprendendo uns com os outros. Os usuários amadores estão criando arcos narrativos e vídeos semanais, atraindo visitantes regulares. Alguns estão acrescentando merchandising em seus vídeos. Enquanto isso, empresas de marca estão embutindo seus vídeos em outros sites, aproveitando idéias sobre promoção on-line tiradas de outros usuários. Walk, do YouTube, chama isso de uma sutil "polinização cruzada" de idéias.
Alguns dos parceiros são grandes empresas de mídia. Entre aqueles cujos vídeos estão entre os mais vistos, estão Universal Music Group, Sony BMG, CBS e Warner Brothers. Mas os internautas individuais agora podem competir em pé de igualdade com eles. Buckley, que dois anos atrás nem sequer tinha banda larga, afirmou que seu hobby do YouTube mudou sua vida financeira por completo. "Não comecei a fazer isso para ganhar dinheiro", disse ele, "mas que surpresa maravilhosa acabei tendo!"

Tradução de CLARA ALLAIN


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