São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2008

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Brasil consome mais papel higiênico, com 2º maior crescimento na década

Economista do BNDES credita aumento do uso à expansão da renda dos mais pobres

DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

O crescimento econômico recente mudou o padrão de consumo de papéis sanitários no Brasil. De acordo com um estudo conduzido pelo economista Marcos Vital, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o país apresentou a segunda maior taxa média de crescimento entre os principais fabricantes desses produtos desde o ano de 2000, atrás somente da China.
O fenômeno está ligado à expansão da renda das camadas mais pobres da população.
Resta saber se a crise internacional, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou na semana passada a uma "diarréia", não derrubará a renda da população e acabará diminuindo o consumo de papéis sanitários no país.
"Se você ganha R$ 6.000 e passar a ganhar R$ 8.000, não vai consumir mais papel higiênico. Mas uma pessoa que ganha R$ 300, se passar a ganhar R$ 500, ela passará a comprar mais desse produto", explica o economista.
Os papéis higiênicos respondem por mais de 75% da produção de papéis sanitários no país, que em 2006 chegou a 787 mil toneladas. O segmento inclui ainda toalhas de cozinha, toalhas de mão, guardanapos, lenços e lenços hospitalares.
Segundo Vital, a expansão anual média da produção mundial desses papéis foi de 4,35% entre 2000 e 2006. A China, que hoje é o segundo maior produtor do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, puxou o resultado com uma taxa de crescimento de 12,69%.
Já o Brasil, que passou da nona para a oitava posição, registrou expansão de 4,73%. O aumento do consumo no país ocorreu principalmente nas regiões Sul, Norte/Nordeste e Centro-Oeste.

Menos desigualdade
Para o economista, o resultado corrobora os estudos que indicam queda na desigualdade social do país. Segundo ele, o crescimento populacional não seria suficiente para explicar a expansão da produção, que é destinada quase que exclusivamente ao mercado doméstico.
"É só ver o caso africano, em que a população cresce muito, e a renda, pouco", exemplifica. Em 2006, a produção de papéis sanitários na África foi de 399 mil toneladas, pouco mais da metade da brasileira.

Qualidade superior
A avaliação é reforçada pela mudança observada no perfil da produção de papel no país. Entre 2000 e 2006, a proporção de papéis higiênicos de folha simples de boa qualidade passou de 31,33% para 19,18%. Já a participação dos papéis de folha simples de alta qualidade subiu consideravelmente, de 32,29% para 39,07%. Houve aumento também na fabricação de papéis de folha dupla, mais caros, que responderam por 12,53% da produção em 2006, contra uma participação de 10,62% em 2000.
De acordo com Vital, as mudanças aproximam o país das economias desenvolvidas, dominadas por produtos de mais qualidade. "Esse desempenho pode ser atribuído à redução do imposto inflacionário, à elevação do salário mínimo e a mudanças no perfil da política sanitária", diz o economista.
Quando se avalia o consumo per capita, porém, a desigualdade ainda é grande: em média, brasileiros e chineses consomem 4 kg e 3 kg de papéis sanitários por ano, respectivamente. Na Suécia, na Bélgica e nos Estados Unidos, campeões mundiais de consumo por habitante, o volume é de 25 kg, 24 kg e 23 kg anuais, respectivamente.
Tanta diferença tem explicação: "Há uma grande parcela da população brasileira que realmente não usa papel higiênico", afirma Vital.


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